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Enjaulados pelo muro sionista






















Carlos Latuff faz hoje 44 anos
Yolanda Soares faz hoje 41 anos
(© All The rights reserved to By the Music Productions)
Em Plena Vida e Violência

Em plena vida e violência
De desejo e ambição,
De repente uma sonolência
Cai sobre a minha ausência.
Desce ao meu próprio coração.

Será que a mente, já desperta
Da noção falsa de viver,
Vê que, pela janela aberta,
Há uma paisagem toda incerta
E um sonho todo a apetecer?


(Fernando Pessoa faleceu faz hoje 77 anos)

quinta-feira, novembro 29, 2012

Ojalá

Ojalá que las hojas
no te toquen el cuerpo
cuando caigan
para que no las puedas
convertir en cristal.
Ojalá que la lluvia
deje de ser milagro
que baja por tu cuerpo.
Ojalá que la luna
pueda salir sin ti.
Ojalá que la tierra
no te bese los pasos.

Ojalá se te acabe
la mirada constante,
la palabra precisa,
la sonrisa perfecta.
Ojalá pase algo
que te borre de pronto:
una luz cegadora,
un disparo de nieve.
Ojalá por lo menos
que me lleve la muerte,
para no verte tanto,
para no verte siempre
en todos los segundos,
en todas las visiones.
Ojalá que no pueda
tocarte ni en canciones.

Ojalá que la aurora
no dé gritos
que caigan
en mi espalda.
Ojalá que tu nombre
se le olvide
a esa voz.
Ojalá las paredes
no retengan tu ruido
de camino cansado.
Ojalá que el deseo
se vaya tras de ti,
a tu viejo gobierno
de difuntos y flores.

Ojalá se te acabe
la mirada constante,
la palabra precisa,
la sonrisa perfecta.
Ojalá pase algo
que te borre de pronto:
una luz cegadora,
un disparo de nieve.
Ojalá por lo menos
que me lleve la muerte,
para no verte tanto,
para no verte siempre
en todos los segundos,
en todas las visiones.
Ojalá que no pueda
tocarte ni en canciones.
Ojalá pase algo
que te borre de pronto:
una luz cegadora,
un disparo de nieve.
Ojalá por lo menos
que me lleve la muerte,
para no verte tanto,
para no verte siempre
en todos los segundos,
en todas las visiones.
Ojalá que no pueda
tocarte ni en canciones.

(Sílvio Rodriguez faz hoje 66 anos)
Aconteceu

Aconteceu que até aos vinte e sete
anos de idade tive a alegria
de viver na solidão da casa e da família,
com um belo jardim à minha volta.

Fiquei, assim, um ser não corrompido
e, fazendo justiça à natureza,
sigo o murchar da floresta
ou o destino do jardim.

Gostei de esquecer a tristeza e a ira,
não ter ideias, não dizer palavras
e nas árvores loucas da infância
sofrer o tormento do génio alheio.

Fiquei de repente fina, como a relva,
alma pura, como as outras plantas,
não mais douta do que qualquer árvore,
não mais viva do que até ao nascimento.

Sorria de noite para o tecto,
para o vazio, onde, perto e perceptível,
empalidecia encoberto o óbvio deus
que tem todos os sorrisos e bondades.

Fui tão inevitável paraíso
e estive tão perto da grande bondade divina,
que a trança da testa – para mais levemente beijar –
afastei e dormi profundamente.

Como se por muito tempo, pelos tempos,
eu entrasse mais pela terra e pelas árvores.
Ninguém sabia como o tormento é grande
atrás da porta da minha solidão.


(poetisa russa falecida faz hoje 2 anos)

Tradução de Manuel de Seabra

quarta-feira, novembro 28, 2012

A Humana Súmula

A Piedade deixaria de existir
Se não fizéssemos nós os Pobres de pedir;
E a Compaixão também acabaria
Se a todos, como nós, feliz chegasse o dia.

E a paz se alcança com mútuo terror,
Até crescer o egoísmo do amor:
A Crueldade tece então a sua rede,
E lança seu isco, cuidadosa, adrede.

Senta-se depois com temores sagrados,
E de lágrimas os chãos ficam regados;
A raiz da Humildade ali então se gera
Debaixo do seu pé, atenta, espera.

Em breve sobre a cabeça se lhe estende
A sombra daquele Mistério que ofende;
É aí que Verme e Mosca se sustentam
Do Mistério que ambos acalentam.

E o fruto que gera é o do Engano
Doce ao comer e tão malsano;
E o Corvo o seu ninho ali o faz
No mais espesso da sombra que lhe apraz.

Todos os Deuses, quer da terra quer do mar,
P'la Natureza esta Árvore foram procurar;
Mas foi em vão esta procura insana,
Esta Árvore cresce só na Mente Humana.


(William Blake nasceu a 28 de Novembro de 1757)

Tradução de Hélio Osvaldo Alves

terça-feira, novembro 27, 2012

O Planeta Terra

O planeta terra
deveria chamar-se planeta água.

Na terra há mais água do que corpo,
no corpo há mais corpo do que alma,
na terra há mais peixes do que aves,
nas aves há mais penas do que asas.

No verso há mais sangue do que tinta,
na tinta há mais sombra do que nada,
em nada  há mais algo do que alga
e esse algo move-se e reluz
e assim nasce a palavra.


(poetisa espanhola falecida faz hoje 14 anos)

segunda-feira, novembro 26, 2012


Tina Turner faz hoje 73 anos (Wembley 2011)
Faz-se Luz

Faz-se luz pelo processo
de eliminação de sombras
Ora as sombras existem
as sombras têm exaustiva vida própria
não dum e doutro lado da luz mas no próprio seio dela
intensamente amantes    loucamente amadas
e espalham pelo chão braços de luz cinzenta
que se introduzem pelo bico nos olhos do homem

Por outro lado a sombra dita a luz
não ilumina    realmente    os objectos
os objectos vivem às escuras
numa perpétua aurora surrealista
com a qual não podemos contactar
senão como amantes
de olhos fechados
e lâmpadas nos dedos    e na boca


(Mário Cesariny faleceu faz hoje 6 anos)

domingo, novembro 25, 2012

A espada rubricou o céu

A espada rubricou o céu
Em coberturas amargo o destino
Que permite ser grande.
Plantaram um desejo:
Subir torres partidas as faces.


(escritor bracarense que hoje faz 47 anos)

sábado, novembro 24, 2012

Poema do Futuro

Conscientemente escrevo e, consciente,
medito o meu destino.

No declive do tempo os anos correm,
deslizam como a água, até que um dia
um possível leitor pega num livro
e lê,
lê displicentemente,
por mero acaso, sem saber porquê.
Lê, e sorri.
Sorri da construção do verso que destoa
no seu diferente ouvido;
sorri dos termos que o poeta usou
onde os fungos do tempo deixaram cheiro a mofo;
e sorri, quase ri, do íntimo sentido,
do latejar antigo
daquele corpo imóvel, exumado
da vala do poema.

Na História Natural dos sentimentos
tudo se transformou.
O amor tem outras falas,
a dor outras arestas,
a esperança outros disfarces,
a raiva outros esgares.
Estendido sobre a página, exposto e descoberto,
exemplar curioso de um mundo ultrapassado,
é tudo quanto fica,
é tudo quanto resta
de um ser que entre outros seres
vagueou sobre a Terra.


Rómulo Vasco da Gama de Carvalho nasceu a 24 de Novembro de 1906

sexta-feira, novembro 23, 2012

História

O senhor do monóculo
usava uma boca desdenhosa
e na botoeira, a insolência
duma rosa.

Era o poeta.

Quando passava
- figura subtil e correcta,
toda a gente dizia
que era o poeta.

- Era, portanto, o poeta...

Mas um dia
o senhor de monóculo
quebrou o monóculo,
guardou a boca desdenhosa
e esqueceu na mesa de cabeceira
a flor que punha na botoeira,
a insolente rosa...

Entrou nas tabernas e bebeu,
cingiu o corpo das prostitutas,
jogou aos dados e perdeu,
deu a mão aos operários,
beijou todos os calvários
- e aprendeu.

E o mundo,
que o chamava poeta,
esqueceu;
e quando o via passar
limitava-se a exclamar:
- o vagabundo!

Mas o senhor do antigo monóculo,
da antiga figura subtil e correcta,
sentia vozes dentro de si,
vozes de júbilo que diziam:
- É o Poeta! É o Poeta!...


(poeta madeirense que hoje faz 82 anos)

quinta-feira, novembro 22, 2012

Aguardamos uma luz

Aguardamos uma luz de seiva
que reacenda a treva que nos cega.
Uma luz que não fira a brancura dos muros
nem as sombras dos alpendres
onde plantámos as giestas bravas.
Uma luz que devolva à terra
a farta lembrança das nascentes.
Uma luz para ficar como herança
quando as aves da morte se afastarem
para sempre deste caos
que, assustadoramente, nos acusa.


(poetisa figueirense que faz hoje 66 anos)

quarta-feira, novembro 21, 2012

Sono

Tudo vai revertendo
em sono forte.
Impulso de fuga
para o país vário
da insolência do sol,
da tempestade
temperada em sonho.
O sono vai correndo
ardiloso
todas as formas,
dentes,
olhos por fora.
E o coração pára
diluído no copo d'água
ao lado.


(poeta paulista nascido em França que hoje faz 48 anos)
João Ricardo faz hoje 63 anos

(o poema Amor é de João Apolinário, pai do cantos que o musicou)
Da Resignação

Houve mãos que submergiram fórmulas
e quiseram voar
como ar ou coração interminável.

Houve momentos
em que o mar acreditou ser sangue
e procurou as artérias

... ... ... ...

Pelo céu…
um anjo sorria.


(poeta chileno nascido faz hoje 82 anos)

terça-feira, novembro 20, 2012

A maior mágoa

Cá dentro da minh'alma de mulher,
Alma feita de sonho e de incerteza,
Sedenta de afeição e de beleza,
Quantas coisas sonhei p'ra te dizer!...

Quantas coisas sonhei p'ra te escrever!...
Jamais mulher alguma, com certeza,
Cantou com tanto amor, tanta tristeza,
O bem que desejou sem nunca o ter!...

Porque a chaga mais viva, que mais dói,
Não é saudade do que a vida foi...
Ninguém nos rouba um doce bem vivido.

A mágoa do que foi é suportável;
É bem mais funda a mágoa irreparável
Daquilo que pudera, enfim ter sido!...


(poetisa portuense falecida faz hoje 32 anos)

segunda-feira, novembro 19, 2012

Tom Evans faleceu faz hoje 29 anos
A tinta e o verso

Bebe o sangue
do sol nascente,
rouba o negro da noite
e o ouro do girassol,
arranca o azul do céu,
faz o mural.

Traz o verde da Mata,
as cores dos espinhos sertanejos.
Arranca o colorido das casas,
o castanho dos rios,
a brancura da lua,
a festa das cores das ruas,
faz o mural.

Se faltar a tela,
coloca tudo em palavras no papel,
em vez das cores,
escreve o nome das coisas,
em vez de amarelo
fala em girassol,
no lugar de azul
escreve céu.

Faltando até mesmo
lápis e papel,
recita os meus versos,
diz poemas do meu canto
que surgirão as cores do chão.


(escritor pernambucano que hoje faria 71 anos)

domingo, novembro 18, 2012

O Medo

Ninguém me roubará algumas coisas,
nem acerca de elas saberei transigir;
um pequeno morto morre eternamente
em qualquer sítio de tudo isto.

É a sua morte que eu vivo eternamente
quem quer que eu seja e ele seja.
As minhas palavras voltam eternamente a essa morte
como, imóvel, ao coração de um fruto.

Serei capaz
de não ter medo de nada,
nem de algumas palavras juntas?


(Manuel António Pina faria hoje 69 anos)

sábado, novembro 17, 2012

As Solicitações e Emboscadas

Pode-se pintar com óleo
com petróleo
ou aguarrás

Mas pode-se também pintar com lágrimas
silenciosas

No desprezo das horas odiosas
tanto faz


(Mário Dionísio faleceu faz hoje 19 anos)

sexta-feira, novembro 16, 2012

Outro portento
Allison Crowe faz hoje (só) 31 anos
Demissão

Este mundo não presta, venha outro.
Já por tempo de mais aqui andamos
A fingir de razões suficientes.
Sejamos cães do cão: sabemos tudo
De morder os mais fracos, se mandamos,
E de lamber as mãos, se dependentes.


(José Saramago nasceu faz hoje 90 anos)

quinta-feira, novembro 15, 2012

Vazio

A chuva há de cobrir friamente de branco os morros longes
feito um fantasma bondoso.
e depois há de vir numa carícia gelada afagar a cidade quieta
num gesto apagado de mão defunta.
e molhará de silêncio a calçada das ruas tortas.
E molhará o recolhimento místico das grandes árvores.
E baterá mansamente a vidraça de meu quarto,
numa irresolução medrosa de amante que prometeu não vir.
Depois,
sob a poeira da chuva fina,
fria,
indiferente,
teimosa,
ficará o vazio do meu coração,
a saudade nebulosamente imprecisa de seu corpo que eu nunca
possuí.

As árvores lá fora estão pingando.


(escritor goiano nascido faz hoje 97 anos)

quarta-feira, novembro 14, 2012

Poema da Solidão

Os que não vivem sozinhos não sabem
como o silêncio pode amedrontar alguém;
Como alguém fala sozinho;
Como alguém corre para os espelhos,
Desejando uma alma
Que não conhece.


(poeta turco falecido faz hoje 62 anos)

terça-feira, novembro 13, 2012

À minha mãe

1

Disseste-me: este
é o meu corpo,
o meu sangue.
Toma, come e bebe
- vida e mortalha.

Depois, o pão
fatiado, ferido
pela faca
e o vinho vermelho
vertido, manchando
as toalhas.

Sob o olhar
obsceno de um deus
que te usurpava
as palavras.

2

Sagrada obscenidade
do corpo
tocado pela promessa
da morte:
como um pária
ou como a marca
de um deus ausente.

Sejas sacrílega
e devolve-lhe
a qualidade humilde
dos corpos vivos.

3

Como se me viesse de ti
a carne, o sangue
das palavras.


(escritora catalã que hoje faria 60 anos)

Tradução de Ronald Polito

segunda-feira, novembro 12, 2012

FRAGMENTO DE UM CORO

Nós
         os de cinza e tempo
nós os de olhar barrado
nós os de céus ardendo
e ventos desfigurados
nós os de mito e queda
nós os de mãos atadas
ecos
         desdobrando
                            gritos
mudos mantos desdobrados
nós silenciados muros
de desesperos caiados
nós cegos irmãos em luto
por mundos manietados
nós sonâmbulos
                   remotos
nós vagos
só recordados
os estáticos andantes
escuramente pisados
nós os egressos da sede
diuturnamente velada
nós o exílio de nós mesmos
viva lâmpada apagada
nós entre o infinito e o medo
esparsos
            desencontrados
nós frios
de cinza e tempo
em tempo e cinza
                       encerrados


(poeta carioca nascido a 12 de Novembro de 1940)

domingo, novembro 11, 2012

Hotel Fraternité

Aquele que não tem com o que comprar uma ilha
Aquele que espera a rainha de sabá na frente de um cinema
Aquele que rasga de raiva e desespero sua última camisa
Aquele que esconde um dobrão de ouro no sapato furado
Aquele que olha nos olhos duros do chantagista
Aquele que range os dentes nos carrocéis
Aquele que derrama vinho rubro na cama sórdida
Aquele que toca fogo em cartas e fotografias
Aquele que vive sentado nas docas debaixo das gaivotas
Aquele que alimenta os esquilos
Aquele que não tem um centavo
Aquele que observa
Aquele que dá socos na parede
Aquele que grita
Aquele que bebe
Aquele que não faz nada

Meu inimigo
Debruçado sobre o balcão
Na cama em cima do armário
No chão por toda parte
Agachado
Olhos fixos em mim
Meu irmão


(poeta alemão que hoje faz 83 anos)

Tradução de Aldo Fortes. Música e interpretação de Arnaldo Antunes

sábado, novembro 10, 2012