How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
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sexta-feira, novembro 30, 2012
Em Plena Vida e Violência
Em plena vida e violência
De desejo e ambição,
De repente uma sonolência
Cai sobre a minha ausência.
Desce ao meu próprio coração.
Será que a mente, já desperta
Da noção falsa de viver,
Vê que, pela janela aberta,
Há uma paisagem toda incerta
E um sonho todo a apetecer?
(Fernando Pessoa faleceu faz hoje 77 anos)
quinta-feira, novembro 29, 2012
Ojalá
Ojalá que las hojas
no te toquen el cuerpo
cuando caigan
para que no las puedas
convertir en cristal.
Ojalá que la lluvia
deje de ser milagro
que baja por tu cuerpo.
Ojalá que la luna
pueda salir sin ti.
Ojalá que la tierra
no te bese los pasos.
Ojalá se te acabe
la mirada constante,
la palabra precisa,
la sonrisa perfecta.
Ojalá pase algo
que te borre de pronto:
una luz cegadora,
un disparo de nieve.
Ojalá por lo menos
que me lleve la muerte,
para no verte tanto,
para no verte siempre
en todos los segundos,
en todas las visiones.
Ojalá que no pueda
tocarte ni en canciones.
Ojalá que la aurora
no dé gritos
que caigan
en mi espalda.
Ojalá que tu nombre
se le olvide
a esa voz.
Ojalá las paredes
no retengan tu ruido
de camino cansado.
Ojalá que el deseo
se vaya tras de ti,
a tu viejo gobierno
de difuntos y flores.
Ojalá se te acabe
la mirada constante,
la palabra precisa,
la sonrisa perfecta.
Ojalá pase algo
que te borre de pronto:
una luz cegadora,
un disparo de nieve.
Ojalá por lo menos
que me lleve la muerte,
para no verte tanto,
para no verte siempre
en todos los segundos,
en todas las visiones.
Ojalá que no pueda
tocarte ni en canciones.
Ojalá pase algo
que te borre de pronto:
una luz cegadora,
un disparo de nieve.
Ojalá por lo menos
que me lleve la muerte,
para no verte tanto,
para no verte siempre
en todos los segundos,
en todas las visiones.
Ojalá que no pueda
tocarte ni en canciones.
(Sílvio Rodriguez
faz hoje 66 anos)
Aconteceu
Aconteceu que até aos vinte e sete
anos de idade tive a alegria
de viver na solidão da casa e da família,
com um belo jardim à minha volta.
Fiquei, assim, um ser não corrompido
e, fazendo justiça à natureza,
sigo o murchar da floresta
ou o destino do jardim.
Gostei de esquecer a tristeza e a ira,
não ter ideias, não dizer palavras
e nas árvores loucas da infância
sofrer o tormento do génio alheio.
Fiquei de repente fina, como a relva,
alma pura, como as outras plantas,
não mais douta do que qualquer árvore,
não mais viva do que até ao nascimento.
Sorria de noite para o tecto,
para o vazio, onde, perto e perceptível,
empalidecia encoberto o óbvio deus
que tem todos os sorrisos e bondades.
Fui tão inevitável paraíso
e estive tão perto da grande bondade divina,
que a trança da testa – para mais levemente beijar –
afastei e dormi profundamente.
Como se por muito tempo, pelos tempos,
eu entrasse mais pela terra e pelas árvores.
Ninguém sabia como o tormento é grande
atrás da porta da minha solidão.
(poetisa russa falecida faz hoje 2 anos)
Tradução de Manuel de
Seabra
quarta-feira, novembro 28, 2012
A Humana Súmula
A Piedade deixaria de existir
Se não fizéssemos nós os Pobres de pedir;
E a Compaixão também acabaria
Se a todos, como nós, feliz chegasse o dia.
E a paz se alcança com mútuo terror,
Até crescer o egoísmo do amor:
A Crueldade tece então a sua rede,
E lança seu isco, cuidadosa, adrede.
Senta-se depois com temores sagrados,
E de lágrimas os chãos ficam regados;
A raiz da Humildade ali então se gera
Debaixo do seu pé, atenta, espera.
Em breve sobre a cabeça se lhe estende
A sombra daquele Mistério que ofende;
É aí que Verme e Mosca se sustentam
Do Mistério que ambos acalentam.
E o fruto que gera é o do Engano
Doce ao comer e tão malsano;
E o Corvo o seu ninho ali o faz
No mais espesso da sombra que lhe apraz.
Todos os Deuses, quer da terra quer do mar,
P'la Natureza esta Árvore foram procurar;
Mas foi em vão esta procura insana,
Esta Árvore cresce só na Mente Humana.
(William Blake nasceu a 28 de Novembro de 1757)
Tradução de Hélio Osvaldo Alves
terça-feira, novembro 27, 2012
O Planeta Terra
O planeta terra
deveria chamar-se planeta água.
Na terra há mais água do que corpo,
no corpo há mais corpo do que alma,
na terra há mais peixes do que aves,
nas aves há mais penas do que asas.
No verso há mais sangue do que tinta,
na tinta há mais sombra do que nada,
em nada há mais algo
do que alga
e esse algo move-se e reluz
e assim nasce a palavra.
(poetisa espanhola falecida faz hoje 14 anos)
segunda-feira, novembro 26, 2012
Faz-se Luz
Faz-se luz
pelo processo
de
eliminação de sombras
Ora as
sombras existem
as sombras
têm exaustiva vida própria
não dum e
doutro lado da luz mas no próprio seio dela
intensamente
amantes loucamente amadas
e espalham
pelo chão braços de luz cinzenta
que se
introduzem pelo bico nos olhos do homem
Por outro
lado a sombra dita a luz
não
ilumina realmente os objectos
os objectos
vivem às escuras
numa
perpétua aurora surrealista
com a qual
não podemos contactar
senão como
amantes
de olhos
fechados
e lâmpadas
nos dedos e na boca
(Mário
Cesariny faleceu faz hoje 6 anos)
domingo, novembro 25, 2012
sábado, novembro 24, 2012
Poema do
Futuro
Conscientemente
escrevo e, consciente,
medito o meu
destino.
No declive
do tempo os anos correm,
deslizam
como a água, até que um dia
um possível
leitor pega num livro
e lê,
lê
displicentemente,
por mero
acaso, sem saber porquê.
Lê, e sorri.
Sorri da
construção do verso que destoa
no seu
diferente ouvido;
sorri dos
termos que o poeta usou
onde os
fungos do tempo deixaram cheiro a mofo;
e sorri,
quase ri, do íntimo sentido,
do latejar
antigo
daquele
corpo imóvel, exumado
da vala do
poema.
Na História
Natural dos sentimentos
tudo se
transformou.
O amor tem
outras falas,
a dor outras
arestas,
a esperança
outros disfarces,
a raiva
outros esgares.
Estendido
sobre a página, exposto e descoberto,
exemplar
curioso de um mundo ultrapassado,
é tudo
quanto fica,
é tudo
quanto resta
de um ser
que entre outros seres
vagueou
sobre a Terra.
Rómulo Vasco
da Gama de Carvalho nasceu a 24 de Novembro de 1906
sexta-feira, novembro 23, 2012
História
O senhor do
monóculo
usava uma
boca desdenhosa
e na
botoeira, a insolência
duma rosa.
Era o poeta.
Quando
passava
- figura
subtil e correcta,
toda a gente
dizia
que era o
poeta.
- Era,
portanto, o poeta...
Mas um dia
o senhor de
monóculo
quebrou o
monóculo,
guardou a
boca desdenhosa
e esqueceu
na mesa de cabeceira
a flor que
punha na botoeira,
a insolente
rosa...
Entrou nas
tabernas e bebeu,
cingiu o
corpo das prostitutas,
jogou aos
dados e perdeu,
deu a mão
aos operários,
beijou todos
os calvários
- e
aprendeu.
E o mundo,
que o
chamava poeta,
esqueceu;
e quando o
via passar
limitava-se
a exclamar:
- o
vagabundo!
Mas o senhor
do antigo monóculo,
da antiga
figura subtil e correcta,
sentia vozes
dentro de si,
vozes de
júbilo que diziam:
- É o Poeta!
É o Poeta!...
(poeta
madeirense que hoje faz 82 anos)
quinta-feira, novembro 22, 2012
Aguardamos uma luz
Aguardamos uma luz de seiva
que reacenda a treva que nos cega.
Uma luz que não fira a brancura dos muros
nem as sombras dos alpendres
onde plantámos as giestas bravas.
Uma luz que devolva à terra
a farta lembrança das nascentes.
Uma luz para ficar como herança
quando as aves da morte se afastarem
para sempre deste caos
que, assustadoramente, nos acusa.
(poetisa figueirense que faz hoje 66 anos)
quarta-feira, novembro 21, 2012
Sono
Tudo vai revertendo
em sono forte.
Impulso de fuga
para o país vário
da insolência do sol,
da tempestade
temperada em sonho.
O sono vai correndo
ardiloso
todas as formas,
dentes,
olhos por fora.
E o coração pára
diluído no copo d'água
ao lado.
(poeta paulista nascido em França que hoje faz 48 anos)
terça-feira, novembro 20, 2012
A maior
mágoa
Cá dentro da
minh'alma de mulher,
Alma feita
de sonho e de incerteza,
Sedenta de
afeição e de beleza,
Quantas
coisas sonhei p'ra te dizer!...
Quantas
coisas sonhei p'ra te escrever!...
Jamais
mulher alguma, com certeza,
Cantou com
tanto amor, tanta tristeza,
O bem que
desejou sem nunca o ter!...
Porque a
chaga mais viva, que mais dói,
Não é
saudade do que a vida foi...
Ninguém nos
rouba um doce bem vivido.
A mágoa do
que foi é suportável;
É bem mais
funda a mágoa irreparável
Daquilo que
pudera, enfim ter sido!...
(poetisa
portuense falecida faz hoje 32 anos)
segunda-feira, novembro 19, 2012
A tinta e o
verso
Bebe o
sangue
do sol
nascente,
rouba o
negro da noite
e o ouro do
girassol,
arranca o
azul do céu,
faz o mural.
Traz o verde
da Mata,
as cores dos
espinhos sertanejos.
Arranca o
colorido das casas,
o castanho
dos rios,
a brancura
da lua,
a festa das
cores das ruas,
faz o mural.
Se faltar a
tela,
coloca tudo
em palavras no papel,
em vez das
cores,
escreve o
nome das coisas,
em vez de
amarelo
fala em
girassol,
no lugar de azul
escreve céu.
Faltando até
mesmo
lápis e
papel,
recita os
meus versos,
diz poemas
do meu canto
que surgirão
as cores do chão.
(escritor pernambucano
que hoje faria 71 anos)
domingo, novembro 18, 2012
O Medo
Ninguém me
roubará algumas coisas,
nem acerca
de elas saberei transigir;
um pequeno
morto morre eternamente
em qualquer
sítio de tudo isto.
É a sua
morte que eu vivo eternamente
quem quer
que eu seja e ele seja.
As minhas
palavras voltam eternamente a essa morte
como,
imóvel, ao coração de um fruto.
Serei capaz
de não ter
medo de nada,
nem de
algumas palavras juntas?
(Manuel
António Pina faria hoje 69 anos)
sábado, novembro 17, 2012
sexta-feira, novembro 16, 2012
quinta-feira, novembro 15, 2012
Vazio
A chuva há de cobrir friamente de branco os morros longes
feito um fantasma bondoso.
e depois há de vir numa carícia gelada afagar a cidade
quieta
num gesto apagado de mão defunta.
e molhará de silêncio a calçada das ruas tortas.
E molhará o recolhimento místico das grandes árvores.
E baterá mansamente a vidraça de meu quarto,
numa irresolução medrosa de amante que prometeu não vir.
Depois,
sob a poeira da chuva fina,
fria,
indiferente,
teimosa,
ficará o vazio do meu coração,
a saudade nebulosamente imprecisa de seu corpo que eu nunca
possuí.
As árvores lá fora estão pingando.
(escritor goiano nascido faz hoje 97 anos)
quarta-feira, novembro 14, 2012
terça-feira, novembro 13, 2012
À minha mãe
1
Disseste-me:
este
é o meu
corpo,
o meu
sangue.
Toma, come e
bebe
- vida e
mortalha.
Depois, o
pão
fatiado,
ferido
pela faca
e o vinho
vermelho
vertido,
manchando
as toalhas.
Sob o olhar
obsceno de
um deus
que te
usurpava
as palavras.
2
Sagrada
obscenidade
do corpo
tocado pela
promessa
da morte:
como um
pária
ou como a
marca
de um deus
ausente.
Sejas
sacrílega
e
devolve-lhe
a qualidade
humilde
dos corpos
vivos.
3
Como se me
viesse de ti
a carne, o
sangue
das
palavras.
(escritora
catalã que hoje faria 60 anos)
Tradução de
Ronald Polito
segunda-feira, novembro 12, 2012
FRAGMENTO DE
UM CORO
Nós
os de cinza e tempo
nós os de
olhar barrado
nós os de
céus ardendo
e ventos
desfigurados
nós os de
mito e queda
nós os de
mãos atadas
ecos
desdobrando
gritos
mudos mantos
desdobrados
nós
silenciados muros
de
desesperos caiados
nós cegos
irmãos em luto
por mundos
manietados
nós
sonâmbulos
remotos
nós vagos
só
recordados
os estáticos
andantes
escuramente
pisados
nós os
egressos da sede
diuturnamente
velada
nós o exílio
de nós mesmos
viva lâmpada
apagada
nós entre o
infinito e o medo
esparsos
desencontrados
nós frios
de cinza e
tempo
em tempo e
cinza
encerrados
(poeta
carioca nascido a 12 de Novembro de 1940)
domingo, novembro 11, 2012
Hotel
Fraternité
Aquele que
não tem com o que comprar uma ilha
Aquele que
espera a rainha de sabá na frente de um cinema
Aquele que
rasga de raiva e desespero sua última camisa
Aquele que
esconde um dobrão de ouro no sapato furado
Aquele que
olha nos olhos duros do chantagista
Aquele que
range os dentes nos carrocéis
Aquele que
derrama vinho rubro na cama sórdida
Aquele que
toca fogo em cartas e fotografias
Aquele que
vive sentado nas docas debaixo das gaivotas
Aquele que
alimenta os esquilos
Aquele que
não tem um centavo
Aquele que
observa
Aquele que
dá socos na parede
Aquele que
grita
Aquele que
bebe
Aquele que
não faz nada
Meu inimigo
Debruçado
sobre o balcão
Na cama em
cima do armário
No chão por
toda parte
Agachado
Olhos fixos em
mim
Meu irmão
(poeta
alemão que hoje faz 83 anos)
Tradução de Aldo Fortes. Música e
interpretação de Arnaldo Antunes