História
O senhor do
monóculo
usava uma
boca desdenhosa
e na
botoeira, a insolência
duma rosa.
Era o poeta.
Quando
passava
- figura
subtil e correcta,
toda a gente
dizia
que era o
poeta.
- Era,
portanto, o poeta...
Mas um dia
o senhor de
monóculo
quebrou o
monóculo,
guardou a
boca desdenhosa
e esqueceu
na mesa de cabeceira
a flor que
punha na botoeira,
a insolente
rosa...
Entrou nas
tabernas e bebeu,
cingiu o
corpo das prostitutas,
jogou aos
dados e perdeu,
deu a mão
aos operários,
beijou todos
os calvários
- e
aprendeu.
E o mundo,
que o
chamava poeta,
esqueceu;
e quando o
via passar
limitava-se
a exclamar:
- o
vagabundo!
Mas o senhor
do antigo monóculo,
da antiga
figura subtil e correcta,
sentia vozes
dentro de si,
vozes de
júbilo que diziam:
- É o Poeta!
É o Poeta!...
(poeta
madeirense que hoje faz 82 anos)
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