Vazio
A chuva há de cobrir friamente de branco os morros longes
feito um fantasma bondoso.
e depois há de vir numa carícia gelada afagar a cidade
quieta
num gesto apagado de mão defunta.
e molhará de silêncio a calçada das ruas tortas.
E molhará o recolhimento místico das grandes árvores.
E baterá mansamente a vidraça de meu quarto,
numa irresolução medrosa de amante que prometeu não vir.
Depois,
sob a poeira da chuva fina,
fria,
indiferente,
teimosa,
ficará o vazio do meu coração,
a saudade nebulosamente imprecisa de seu corpo que eu nunca
possuí.
As árvores lá fora estão pingando.
(escritor goiano nascido faz hoje 97 anos)
As árvores choram com o poeta.
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