Poema do
Futuro
Conscientemente
escrevo e, consciente,
medito o meu
destino.
No declive
do tempo os anos correm,
deslizam
como a água, até que um dia
um possível
leitor pega num livro
e lê,
lê
displicentemente,
por mero
acaso, sem saber porquê.
Lê, e sorri.
Sorri da
construção do verso que destoa
no seu
diferente ouvido;
sorri dos
termos que o poeta usou
onde os
fungos do tempo deixaram cheiro a mofo;
e sorri,
quase ri, do íntimo sentido,
do latejar
antigo
daquele
corpo imóvel, exumado
da vala do
poema.
Na História
Natural dos sentimentos
tudo se
transformou.
O amor tem
outras falas,
a dor outras
arestas,
a esperança
outros disfarces,
a raiva
outros esgares.
Estendido
sobre a página, exposto e descoberto,
exemplar
curioso de um mundo ultrapassado,
é tudo
quanto fica,
é tudo
quanto resta
de um ser
que entre outros seres
vagueou
sobre a Terra.
Rómulo Vasco
da Gama de Carvalho nasceu a 24 de Novembro de 1906
ResponderEliminarExcelente partilha
Abraço
Muito bom.
ResponderEliminarAbraço