quinta-feira, setembro 27, 2012

Desejo bom

Eu seria feliz, se os meus versos se impregnassem
dessa humildade silenciosa e boa
das estações pequenas dos subúrbios,
das cidades velhas e castas,
dos bairros pobres das cidades ricas
e dos arrabaldes abandonados;
se eles tivessem a alegria honesta
das tardes que caem nos bairros operários
aglomerando boas almas nas calçadas;
se revelassem um pouco do alto encanto
que há nos ranchos das crianças pobres
bailando na poeira das ruas
ou nos quintais varridos das fazendas;
se eles dissessem do contentamento ingênuo
de operários que jogam aos serões domingueiros,
ou bebem ruidosos nas tavernas rumorosas!

Mais do que isso, porém, quisera que em meus versos
palpitasse o sofrimento dos anônimos
tão fundo e tão doloroso!
Quisera que neles clamassem
todos os homens oprimidos:
os que esperam a festa dos dias vindouros,
pobres pequenos que têm sede de justiça!

Assim os meus versos teriam,
na alegria profunda e na tristeza profunda,
o sabor das canções que nasceram nas ruas.
E eu me orgulharia de escrevê-los,
pois sou dos pequeninos e dos simples.
E vi que a Dor e o Amor, entre os humildes,
têm um sentido mais tocante no infinito!


(poeta paulista nascido faz hoje 115 anos)

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