Punhal da
aurora
Ainda escuto
a fala do meu pai,
iluminando o
silêncio de tapeçaria
da nossa
casa de telhado verde.
O rio que
lavava a ruazinha estreita
não vegetava
mágoas.
Ainda escuto
a canção da aurora
que tocava o
homem do realejo
com seus
olhares retos
e o sorriso
de orvalho.
Saudade de
Maria
com seu
olhar umedecido de alvorada.
Muitas
vezes, muitas, percorri a rua
carregando
sonhos nas mãos inocentes,
brincando
com meus irmãos que nesse tempo
eram apenas
anjos de porcelana,
num país sem
memória.
Hoje que
Rominha tem outro nome
e outras as
crianças que ali residem,
a perspectiva
das casas tornou-se paralela.
Deuses
tiranos caminham sobre a lama viva
e os jardins
que sorriam,
como as
janelas, agora são de nuvens.
Como a
infância corre depressa
na terra
grávida do tempo.
Os meus
castelos,
já não são
fantasiados de papoulas,
mas castelos
de vento.
Os meus
sonhos agora já não têm a cor do gerânio
e o sol que
havia no meu olhar
tornou-se
uma saudade ancestral.
Carlos Cunha
(poeta
maranhense nascido faz hoje 79 anos)
2 comentários:
Linda viagem à aurora, à infância.
Abraço
Esse poema arrepiou-me.
E o coment. deixado na "Rainha das Abelhas" do poeta Calado.
Abraço
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