POESIA DA
VIDA EM MARCHA
A poesia da
vida em marcha
tem ritmo
diferente.
Ritmo
irregular e desigual
de milhões
de martelos
batidos
descompassadamente
por milhões
de mãos;
de milhões
de enxadas
movidas
desordenadamente
por milhões
de braços;
de milhões
de pés
andando
desesperadamente
não se sabe
para onde.
A poesia da
vida em marcha
tem música
diferente.
Música sem
som
das sirenes
das oficinas,
dos apitos
das locomotivas,
dos roncos
dos motores,
dos gritos
das revoltas interiores
dos homens que
sofrem nas oficinas,
queimam os
pulmões nas caldeiras das locomotivas
e morrem de
fome nas fábricas de motores.
A poesia da
vida em marcha
tem rimas
diferentes.
Rimas sem
música,
sem versos
que terminam em sílabas iguais.
Rimas de
palavras diferentes,
com o mesmo
sentido na boca dos que sofrem.
Rimas de
palavras que rimam
apenas na
idéia,
no
pensamento.
Rimas
estranhas
de tirania
com sofrimento,
de
sofrimento com união.
De união com
liberdade.
A poesia da
vida em marcha
tem cadência diferente.
Cadência de
passos trôpegos
das crianças
sem pão,
das mulheres
sem lar,
dos homens
sem trabalho.
Cadência
brutal
das patas de
cavalos pisando carne,
de patas de
cavalos pisando sangue
dos homens
sem trabalho,
das mulheres
sem lar,
das crianças
sem pão.
Cadência
violenta
de braços se
estirando num esforço cada vez maior
como quem
empurra qualquer coisa.
Cadência
confiante, enérgica,
de punhos
cerrados batendo,
batendo,
batendo,
de uma só
vez,
simultaneamente,
compassadamente,
como quem
derruba qualquer coisa.
(Mário Lago
faleceu faz hoje 10 anos)
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