Ode à
Mentira
Crueldades,
prisões, perseguições, injustiças,
como sereis
cruéis, como sereis injustas?
Quem
torturais, quem perseguis,
quem
esmagais vilmente em ferros que inventais,
apenas sendo
vosso gemeria as dores
que
ansiosamente ao vosso medo lembram
e ao vosso
coração cardíaco constrangem.
Quem de vós
morre, quem de por vós a vida
lhe vai
sendo sugada a cada canto
dos gestos e
palavras, nas esquinas
das ruas e
dos montes e dos mares
da terra que
marcais, matriculais, comprais,
vendeis,
hipotecais, regais a sangue,
esses e os
outros, que, de olhar à escuta
e de sorriso
amargurado à beira de saber-vos,
vos
contemplam como coisas óbvias,
fatais a vós
que não a quem matais,
esses e os
outros todos... - como sereis cruéis,
como sereis
injustas, como sereis tão falsas?
Ferocidade,
falsidade, injúria
são tudo
quanto tendes, porque ainda é nosso
o coração
que apavorado em vós soluça
a raiva
ansiosa de esmagar as pedras
dessa
encosta abrupta que desceis.
Ao fundo, a
vida vos espera. Descereis ao fundo.
Hoje,
amanhã, há séculos, daqui a séculos?
Descereis,
descereis sempre, descereis.
Jorge de Sena
1 comentário:
Fortíssimo! A mentira nunca encontra o fundo, há sempre mais...
abraço
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