terça-feira, janeiro 11, 2011

fulgurações com a água

fulgurações com a água da chuva escorrendo
escondidas vozes num sujo vão de escadas
o céu turvo pelo desejo ácido da noite

estás sentado e ouves o desmoronar dos dias
contra o mar que te revela as tristes histórias
do espelho onde a criança matou a sua imagem

ruas desertas passam rente ao coração
saliva no movimento circular do corpo debaixo
doutro corpo que não conhece o dom de se entregar
ao tempo voluptuoso doutras mãos

levanta a gola do casaco sai para a rua
alarga o passo
deixa fustigarem-te as horas noite dentro
e no sangue sepultarem a insuspeita frescura
daquilo que ainda te falta cantar


(Alberto Raposo Pidwell Tavares nasceu em 11 de Janeiro de 1948

3 comentários:

jrd disse...

...'onde a criança matou a sua imagem'
E foram tantas.

Jorge Sader Filho disse...

A poesia tem classe, Lino.
"deixa fustigarem-te as horas noite dentro
e no sangue sepultarem a insuspeita frescura", e mostrada está a sua grandeza.

Abraço,
Jorge

Sensualidades disse...

adorei

Beijos
Paula