How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
quarta-feira, março 25, 2009
Custos e benefícios
O nosso Presidente tentou ontem dar uma lição de contabilidade a quem dela não precisava, mas não disse o que poderia (e, talvez, deveria) ter dito.
Com efeito, a grande maioria dos portugueses e todos os decisores políticos sabem quais são os custos e os benefícios de uma auto-estrada. Os custos incluem os imediatamente quantificáveis - projectos, expropriações, construção, manutenção e cobrança de portagens - e os que apenas podem ser estimados - danos ambientais e colaterais, nomeadamente; os benefícios, também compreendem os imediatamente quantificáveis – portagens e rendas dos espaços comerciais, vulgo estações de serviço – e os que só podem ser estimados – diminuição dos percursos e do consumo de combustíveis, maior segurança de condutores e passageiros, acesso facilitado à circulação de mercadorias, melhoria da inclusão social, redução drástica de acidentes em localidades, melhoria da qualidade ambiental das mesmas e todo um conjunto de outros benefícios qualitativos que seria fastidioso enumerar. Quando se trata de uma SCUT, das quais sempre discordei, o "benefício" das portagens é suportado pelos contribuintes.
De igual modo, para uma linha TGV Lisboa/Porto (e volta) ou qualquer outra, haverá os custos imediatamente quantificáveis – projectos, construção, manutenção, material circulante e diminuição das receitas das transportadoras aéreas e das exploradoras de auto-estradas - e os que somente podem ser estimados – de novo danos ambientais e colaterais; quanto aos benefícios temos os imediatamente quantificáveis – bilhetes, exploração dos restaurantes, alugueres de espaços nas estações – e os que se obtêm por estimativa – menos consumo de combustível, menos emissões poluentes, maior rapidez e mais segurança nas deslocações, etc.
Construir, pois, uma auto-estrada (seja ou não SCUT), um aeroporto ou uma linha de comboio de alta velocidade, pode ser um bom ou um mau investimento, dependendo da análise custo/benefício efectuada e só será um encargo para a gerações vindouras se os custos, no longo prazo, ultrapassarem os benefícios. Caso contrário, a decisão de a iniciar agora ou daqui a 10 anos deve ter exclusivamente a ver com o custo de oportunidade (esgotar a capacidade do aeroporto existente e ficar fora da alta velocidade e mais isolados da Europa são custos de oportunidade a favor do começar já, enquanto a baixa capacidade de endividamento e a necessidade de fazer investimentos alternativos são possíveis custos de oportunidade a favor do adiamento).
Daí que o facto de a D. Manuela e os seus porta-vozes virem falar de obras faraónicas relativamente ao TGV seja revelador da falta de honestidade intelectual da claque laranja, já que a D. Manuela era a ministra das finanças quando Portugal acordou com a Espanha prazos para as ligações Porto/Vigo e Lisboa/Madrid. E a insinuação implícita nas palavras do Presidente só piora a situação.
Mas aquilo que não ele disse é que já houve em Portugal uma obra faraónica, símbolo máximo do cavaquismo. Refiro-me ao CCB (Centro Comercial de Belém, como eu lhe chamo), com custos enormes – ocupação de um espaço nobre de Lisboa, a colocação de um mamarracho em frente do Mosteiro dos Jerónimos, quase 500 milhões de euros a preços de há 20 anos, custos de manutenção enormes – e benefícios reduzidos – Lisboa já tinha bons museus mal aproveitados, salas condignas para concertos e espectáculos, espaços para grandes eventos. Esta autêntica obra faraónica parece que só serviu para receber a colecção de arte do Joe Berardo, o que é pouco, muito pouco, para quem vem agora dizer cobras e lagartos de dois projectos sobre os quais não tem a coragem de dizer que são desnecessários, provavelmente porque não o são.
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1 comentário:
Este guarda-livros, ele próprio, já foi um custo para muitos e um benefício só para alguns...
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