Páginas

sexta-feira, julho 27, 2007

Até já Como estará a vila que se recusa a ser cidade? E os rojões e o arroz de sarrabulho (ai o colesterol!), mais o tintinho da pipa a espirrar? E será que o Daniel Campelo, que abriu ontem as portas à Sonae, tem por lá mais acessos à internete (mesmo que pagos) do que o ano passado, em que não se conseguia aceder, porque os miúdos faziam fila para jogar? Disso depende poder ou não postar. Se não puder, sempre vou passeando na avenida dos plátanos, vendo a feira do livro e as exposições de artesanato, admirando os jardins, dando um naco de conversa aos emigrantes que construíram casas "tipo maison" com janelas "tipo fenétre", provando uns petiscos e bebendo tinto pela malga. É tempo de emalar a "trouxa", para amanhã "zarpar" pela fresquinha.
The Early Morning The moon on the one hand, the dawn on the other: The moon is my sister, the dawn is my brother. The moon on my left and the dawn on my right. My brother, good morning: my sister, good night. Hilaire Belloc* *poeta inglês nascido (em França) a 27 de Julho e 1870

quinta-feira, julho 26, 2007

Rough Justice One time you were my baby chicken Now you've grown into a fox And once upon a time I was your little rooster Am I just one of your cocks? It's rough justice, oh yeah! You're gonna have to trust me It's rough justice But you know I never break your heart So put your lips to my hips baby And tell me what's on your mind I know you still got that animal attraction for me It's been a long, long time It's rough justice, oh yeah! We never thought it dusty It's rough justice But you know I never break your heart You're feeling loose n' lusty So if you really want me It's rough justice And you know I never break your heart It's rough justice, oh yeah! You think you really suss me? It's rough justice But you know I never break your heart First time I saw baby You were springin' like a young gazelle And next thing I know, we're way down the road And you're flying like a bat outta hell It's rough justice, oh yeah! You're attitude's disgusting You're gonna have to trust me But you know I never break your heart I give you my possession Don't want no opposition It's rough justice But you know I never break your heart Mick Jagger*/ Keith Richards - the Rolling Stones No dia do 64º aniversário de Sir Mick Jagger
Realidade Há pessoas que vêem as coisas como elas são e que perguntam a si mesmas: ''Porquê?'' e há pessoas que sonham as coisas como elas jamais foram e que perguntam a si mesmas: ''Por que não?''
e Violência Quando um homem deseja matar um tigre, chama a isso desporto; quando um tigre deseja matar um homem, este chama a isso ferocidade
George Bernard Shaw*
*no dia do 151º aniversário do seu nascimento
Citações retiradas do Citador

quarta-feira, julho 25, 2007

The Empty Page These are the words but not the truth God bless them all when they speak to you But that's alright On an empty stage Sing out when There's no other way Come drift the town where secrets lie Where friends and neighbours keep drifting by But that's alright You're here to stay Sing out tonight The empty page I always thought I'd see Your name in flashing light You did it all for free, girl And freely ripped the night You're free to fight These are the words but not the truth God bless them all when they speak to you But that's alright You're here to stay Sing out tonight The empty page Do you remember the time When you were new in town You smashed your head in the mirror, baby And kissed the frozen ground Yr ripped up sound The empty page has wasted down The empty page is ripped The empty page will waste this town The empty page has slipped Thurston Moore* (Sonic Youth) *No dia do seu 49º aniversário

terça-feira, julho 24, 2007

Contra mão verti meu sangue pelas escadas sobre a pedra bruta e nua tingindo de vermelho o fio do destino caminhando como um sonâmbulo nas ruas não sei se dou meus passos sobre cacos de vidro ou sobre nuvens não mais distingo entre a dor e a não dor esta noite dormi sobre suas roupas com seu perfume embalando meu sono como uma criança no útero da mãe estava escuro e quente não sei por quanto tempo permaneci ali às vezes confundo o dia com a noite não sei se estou indo ou vindo, parece que estou sempre andando pela contra mão Edson Bueno de Camargo* *Poeta paulista nascido a 24 de Julho de 1962

segunda-feira, julho 23, 2007

Uma (quase) teocracia É sabido que o Presidente dos Estados Unidos tem pautado os seus mandatos por uma obediência cega aos ditames religiosos mais conservadores, incluindo a desastrosa e inumana decisão de invadir o Iraque. Mas as “surpresas” continuam a aparecer a um ritmo quase diário. O “Cirurgião Geral” (Surgeon General) é uma figura de topo nos Estados Unidos, sem paralelo no nosso ordenamento. Sendo o responsável máximo do Serviço de Saúde Pública do País, é considerado o “Médico da Nação”. É indigitado pelo Presidente para mandatos de 4 anos e confirmado pelo Congresso, após as audições habituais e, além de ter o direito e o dever de se pronunciar sobre todos os aspectos da Saúde Pública, dirige o Public Health Service Commissioned Corps, um Corpo de mais de 6.000 profissionais de saúde (médicos, dentistas, engenheiros do ambiente, farmacêuticos, enfermeiros, especialistas em saúde ambiental, cientistas) com funções tão abrangentes que vão desde a prestação de cuidados de saúde a grupos específicos (índios Americanos, nativos do Alaska) até à colaboração com organizações de saúde internacionais, passando pela prevenção e controlo de doenças e promoção de estilos de vida saudáveis, pelo desenvolvimento da saúde mental da nação, pela verificação de que os medicamentos, os aparelhos médicos, a comida e os cosméticos são seguros, pela condução e sustentação de serviços de investigação biomédica e comportamental e pela comunicação dos resultados aos profissionais de saúde e ao público em geral. O último Cirurgião Geral foi o Dr. Richard Carmona, que desempenhou funções entre 2002 e 2006, não tendo sido convidado para um segundo mandato, percebe-se agora porquê. No passado dia 10, ao ser ouvido por um Comité da Câmara dos Representantes, numa sessão que antecedeu a audição do indigitado para lhe suceder, o Dr. Carmona acusou a administração de interferência política e de o amordaçarem em questões fundamentais de Saúde Pública (o nomeado responde perante o Subsecretário de Estado da Saúde). Sem indicar nomes, mas dispondo-se a fazê-lo se a Câmara assim o entendesse, declarou, num discurso arrasador, que a política se sobrepôs à ciência e a uma política social avisada, afirmando ter sido proibido de fazer quaisquer palestras ou relatórios sobre investigação em células estaminais, contracepção de emergência, educação sexual, aquecimento global, saúde pública na população prisional ou questões de saúde mental. Afirmou, ainda, que a divulgação do seu relatório sobre os malefícios do fumo passivo tinha sido adiada durante anos e que os comissários políticos tinham repetidamente insistido para que mencionasse o Presidente por 3 vezes em cada página dos seus discursos (exactamente o mesmo que Nicolae Ceausescu tinha exigido aos cientistas romenos). Depois do discurso de Agosto de 2001, em que anunciou que não haveria fundos federais para a investigação em células estaminais embrionárias, de ter afirmado que tinha sido a voz de Deus a levá-lo a invadir o Iraque, de ter levado à demissão, em 2005, de Susan F Wood (número 2 da FDA e Directora da agência Office of Women’s Health), frustrada pelas interferências políticas que levaram a atrasos na aprovação da venda livre da pílula do dia seguinte, de ter sido acusado por cientistas da NASA de os ter proibido de falar do aquecimento global, de ter vetado, por duas vezes, legislação que visava o financiamento da investigação em células estaminais embrionárias por fundos federais e do despedimento de uma dezena de procuradores gerais federais por razões políticas, as acusações do Dr. Carmona são a “cereja no topo do bolo”. Juntamente com o Dr. Carmona testemunharam dois antecessores seus, que exerceram os mandatos sob as Presidências de Reagan e Clinton. Ambos disseram ter sofrido pressões, mas reconheceram que as exercidas sobre o Dr. Carmona não tinham precedentes em termos de gravidade. A propósito, o Dr. Richard Carmona não é um médico qualquer: é considerado um herói, que serviu nas Forças Especiais do Exército e foi condecorado com duas Purple Hearts pela sua bravura no Vietname.

domingo, julho 22, 2007

At a Window Give me hunger, O you gods that sit and give The world its orders. Give me hunger, pain and want, Shut me out with shame and failure From your doors of gold and fame, Give me your shabbiest, weariest hunger! But leave me a little love, A voice to speak to me in the day end, A hand to touch me in the dark room Breaking the long loneliness. In the dusk of day-shapes Blurring the sunset, One little wandering, western star Thrust out from the changing shores of shadow. Let me go to the window, Watch there the day-shapes of dusk And wait and know the coming Of a little love. Carl Sandburg* *Poeta estado-unidense - no 40º aniversário da sua morte

sábado, julho 21, 2007

...e agora Midday (Avoid City After Dark) I like to take a walk out in the midday Checking life out in the park I like to take a walk out in the midday Ah, but I avoid the city after dark Oh, I love to see the children playing in the rain Splashing books and kicking mud Oh, I love to see the kids playing in the rain Ah, but I avoid the city after dark I love to feel the ocean blowing in my face Wave as the old boats depart I love to feel the wind blowing in my face But avoid the city after dark Yusuf Islam* *Cat Stevens depois de convertido ao Islão.
Antes... Morning has broken Morning has broken, like the first morning Blackbird has spoken, like the first bird Praise for the singing, praise for the morning Praise for the springing fresh from the world Sweet the rain's new fall, sunlit from heaven Like the first dewfall, on the first grass Praise for the sweetness of the wet garden Sprung in completeness where his feet pass Mine is the sunlight, mine is the morning Born of the one light, eden saw play Praise with elation, praise every morning God's recreation of the new day Cat Stevens* *No dia do seu 59º aniversário

sexta-feira, julho 20, 2007

Black Magic Woman


Abraxas é o segundo álbum do músico e cantor mexicano Carlos Santana, lançado em 1970.

Lembro-me de, entre 1970 e 1973, durante o meu serviço militar voluntariamente obrigatório, passado no então Regimento de Artilharia de Costa, em Oeiras, onde tive como colega o grande jornalista Joaquim Furtado (é mesmo o pai da Catarina), ter ouvido este LP até à exaustão.

As faixas Oye Como Va, Samba Pa Ti e Black Magic Woman foram as que mais aplausos sucitaram e ainda hoje são ouvidas com muita frequência.

Black magic Women

Got a black magic woman
Got a black magic woman
I've got a black magic woman
Got me so blind I can't see
that she's a black magic woman
She's trying to make a devil out of me

Don't turn your back on me baby
Don't turn your back on me baby
Yes don't turn your back on me baby
Stop messing 'round with your tricks
Don't turn your back on me baby
You just might pick up my magic sticks

Got your spell on me baby
Got your spell on me baby
Yes you got your spell on me baby
Turning my heart into stone
I need you so bad, magic woman
I can't leave you alone

canta Carlos Santana, no dia do seu 60º aniversário
Um salto de gigante


Já lá vão 38 anos, mas recordo-me de ter passado a noite em claro, de olhos pregados no aparelho de televisão, à semelhança de centenas de milhões de pessoas em todo o mundo.

Às 20:17:40 UTC (tempo do meridiano “0”, ex-TMG) do dia 20 de Julho de 1969, o módulo lunar Eagle pousou na superfície da Lua, depois de uma viagem de 4,5 minutos desde a nave especial Apolo 11. Cerca de 6,5 horas depois, pelas 2:56 UTC de 21 de Julho, o comandante Neil Armstrong tornava-se o primeiro homem a pisar o solo lunar. Foi então que pronunciou a célebre frase “Este é um pequeno passo para um homem, mas um salto gigante para a humanidade”.

A frase original “That’s one small step for a man, one giant leap for mankind” tem, desde então, sido alvo de polémica, porque nos registos sonoros, aparentemente o astronauta não pronuncia o artigo “a” antes da palavra “man”, o que foi por muitos considerado um erro ou omissão da sua parte devido à excitação do momento. Neil Armstrong sempre afirmou que tinha dito “a man”, mas que o “a” não estava audível, pelo que, à falta de provas, declarou que preferia que o [a] aparecesse entre parênteses quando a citação fosse escrita. Até que, em Setembro de 2006, provas baseadas em novas análises dos registos sonoros levadas a cabo por Peter Shann Ford, de Sydney, Austrália, da empresa Control Bionics, que ajuda pessoas deficientes físicas a usarem os seus impulsos nervosos para comunicar através de computadores, demonstraram que Neil Armstrong tinha mesmo dito o tal “a”.

Este gigantesco salto da humanidade deu origem a várias lendas urbanas. Uma das que mais circulação teve a partir dos anos noventa (estava-se nos primórdios da internete) e que, ainda hoje, continua presente em muitos sítios da rede como sendo verídica, é uma piada de cariz sexual, bem ao estilo americano.

Quando Neil Armstrong, após o passeio lunar, ia a reentrar no módulo, fez uma enigmática observação. “Good luck, Mr. Gorsky”.

Muitas pessoas da NASA pensaram que era uma observação casual dirigida a algum cosmonauta da União Soviética. No entanto, após aturadas pesquisas, concluiu-se que não havia nenhum Gorsky, nem no programa espacial Soviético nem no Americano. Ao longo dos anos, muitas pessoas perguntaram a Armstrong o que significava aquela observação, mas a sua resposta era um sorriso.

Até que em Julho de 1995, em Tampa Bay, Florida, quando respondia a perguntas numa conferência de imprensa que se seguiu a um discurso, um jornalista interrogou-o sobre a enigmática observação de há 26 anos atrás e ele, finalmente, respondeu. Mr. Gorsky e a mulher já tinham falecido, pelo que podia contar a história.

Quando era criança, estava a jogar basebol com um amigo no jardim da casa dos pais, quando este bateu uma bola que foi parar debaixo da janela do quarto dos vizinhos da casa ao lado, que eram Mr. e Mrs Gorsky. Quando foi buscar a bola, o pequeno Neil ouviu a Sra. Gorsky gritar para o marido: “Oral sex! You want oral sex?! You’ll get oral sex when the kid next door walks on the moon!”

É uma histórica picante, mas é falsa, como tantas outras que circulam na rede. Nunca houve a tal conferência de imprensa, a frase não consta dos registos da NASA e o próprio Neil Armstrong, em finais de 1995, negou tê-la pronunciado e afirmou que a primeira vez que ouviu a anedota foi quando ela foi contada pelo comediante Buddy Hackett.

Só refiro este pormenor, porque já vi a história contada como verdadeira na nossa imprensa escrita. Não me lembro em que jornal, nem isso interessa. O que interessa é o nível da maior parte do nosso jornalismo, que continua a papaguear acriticamente aquilo que ouve ou lê, quantas vezes em questões de enorme gravidade.

(na imagem, Neil Armstrong dentro do Eagle)

quinta-feira, julho 19, 2007

Nem tenho paz… Nem tenho paz nem como fazer guerra, espero e temo e a arder gelo me faço, voo acima do céu e jazo em terra, e nada agarro e todo o mundo abraço. Tem-me em prisão quem ma não abre ou cerra, nem por seu me retém nem solta o laço, e não me mata Amor, nem me desferra, nem me quer vivo ou fora de embaraço. Vejo sem olhos, sem ter língua grito, anseio por morrer, peço socorro, amo outrem e a mim tenho um ódio atroz, nutro-me em dor, rio a chorar aflito, despraz-me por igual se vivo ou morro. Neste estado, Senhora, estou por vós. Francesco Petrarca* *Poeta e humanista italiano, falecido a 19 de Julho de 1374 Tradução de Vasco Graça Moura (Rimas, 134 – Círculo de Leitores)

quarta-feira, julho 18, 2007

Poeta en Tiempo de Miseria Hablaba de prisa. Hablaba sin oír ni ver ni hablar. Hablaba como el que huye, emboscado de pronto entre falsos follajes de simpatía e irrealidad. Hablaba sin puntuación y sin silencios, intercalando en cada pausa gestos de ensayada alegría para evitar acaso la furtiva pregunta, la solidaridad con su pasado, su desnuda verdad. Hablaba como queriendo borrar su vida ante un testigo incómodo, para lo cual se rodeaba de secundarios seres que de sus desprecios alimentaban una grosera vanidad. Compraba así el silencio a duro precio, la posición estable a duro precio, el derecho a la vida a duro precio, a duro precio el pan. Metal noble tal vez que el martillo batiera para causa más pura. Poeta en tiempo de miseria, en tiempo de mentira y de infidelidad. José Ángel Valente* *Poeta galego falecido em 18 de Julho de 2000

terça-feira, julho 17, 2007

Good Morning Heartache Good morning heartache You old gloomy sight Good morning heartache Thought we said goodbye last night I turned and tossed until it seems you heve gone But here you are with the dawn Wish I forget you, but you're here to stay It seems I met you When my love went away Now everyday I stop I'm saying to you Good morning heartache what's new Stop haunting me now Can't shake you nohow Just leave me alone I've got those Monday blues Straight to Sunday blues Good morning heartache Here we go again Good morning heartache You're the one Who knows me well Might as well get use to you hanging around Good morning heartache Sit down Billie Holiday* *no 48 aniversário dda sua morte

segunda-feira, julho 16, 2007

A caça às bruxas polaca Em Portugal sabe-se pouco sobre o mais populoso dos países de leste que passaram a integrar a União Europeia em 1 de Maio de 2004, a Polónia. Para além de ter sido um gigantesco “campo de concentração” dos nazis, de ter pertencido ao extinto Pacto de Varsóvia, de ser o país do Solidariedade e do anterior Papa e de os seus “canalizadores” terem mobilizado centenas de milhares de pessoas em França e noutros países europeus, em pânico, aquando da discussão da Directiva Bolkestein, o conhecimento da verdadeira Polónia é diminuto e os nossos órgãos de comunicação social não tem aprofundado o assunto. País extremamente conservador tem, desde 2005, dois gémeos a governá-lo (o presidente e o primeiro ministro), à frente de uma coligação de direita e extrema direita, com o apoio da toda poderosa igreja católica. Para além dos problemas que, desde o início, levantou à União Europeia, agravados agora pela peregrina pretensão de que os eventuais descendentes que as vítimas do holocausto teriam tido, se este não se tivesse verificado, sejam contados como cidadãos actualmente existentes para apuramento do peso relativo de cada Estado Membro da União, a dupla Lech e Jaroslaw Kacynski fez promulgar um lei de autêntica caça às bruxas, conhecida como lei da “lustração” ou purificação, com muitos dos seus requisitos já declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Polaco. A lei, em vigor desde 15 de Março, exige que todos os trabalhadores polacos, do sector público ou privado (políticos, juízes, professores, advogados, jornalistas, gestores de bancos, etc), nascidos antes de Agosto de 1972, declarem, por escrito, se colaboraram ou não com os serviços secretos do regime comunista. Quem não assinar ou prestar falsas declarações pode ser impedido de exercer a profissão ou de ocupar cargos públicos durante 10 anos. A situação é de tal forma grave que os manos até tentaram demitir do Parlamento Europeu Bronislaw Geremech, eleito deputado em 2004. Geremech, que é uma das mais distintas figuras públicas do seu país e foi líder do Solidariedade e prisioneiro político, recusou-se a assinar tal declaração e a intenção do governo polaco levantou um coro de protestos no Parlamento Europeu. Adam Michnik, historiador, jornalista, ensaísta, velho militante da oposição polaca e actual director da Gazeta Wyborcza, o mais importante diário da Polónia, escreveu um excelente artigo, publicado em tradução inglesa na The New York Review of Books de 11 de Junho, que merece leitura atenta. O acesso é livre e, para aguçar o apetite, eis o parágrafo final: “Hoje, confrontam-se duas Polónias: uma Polónia de suspeição, medo e vingança está a lutar contra uma Polónia de esperança, coragem e diálogo. Esta segunda Polónia – de abertura e tolerância, de João Paulo II e Czeslaw Milosz, dos meus amigos da clandestinidade e da prisão – tem de triunfar. Eu acredito que os Polacos irão, mais uma vez, defender o seu direito de serem tratados com dignidade. A decisão do Tribunal Constitucional dá-nos a esperança de que a segunda fase da revolução Polaca não irá destruir o seu “pai”, o desejo de liberdade, nem o sei “filho”, o estado democrático”.

domingo, julho 15, 2007

Saudades Nas horas mortas da noite Como é doce o meditar Quando as estrelas cintilam Nas ondas quietas do mar; Quando a lua majestosa Surgindo linda e formosa, Como donzela vaidosa Nas águas se vai mirar! Nessas horas de silêncio De tristezas e de amor, Eu gosto de ouvir ao longe, Cheio de magoa e de dor, O sino do campanário Que fala tão solitário Com esse som mortuário Que nos enche de pavor. Então - Proscrito e sozinho - Eu solto aos ecos da serra Suspiros dessa saudade Que no meu peito se encerra Esses prantos de amargores São prantos cheios de dores: Saudades - Dos meus amores Saudades - Da minha terra! Casimiro de Abreu* *Poeta brasileiro

sábado, julho 14, 2007

Avec le temps Avec le temps... Avec le temps, va, tout s'en va On oublie le visage et l'on oublie la voix Le coeur quand ça bat plus, c'est pas la peine d'aller Chercher plus loin, faut laisser faire et c'est très bien Avec le temps... Avec le temps, va, tout s'en va L'autre qu'on adorait, qu'on cherchait sous la pluie L'autre qu'on devinait au détour d'un regard Entre les mots, entre les lignes et sous le fard D'un serment maquillé qui s'en va faire sa nuit Avec le temps tout s'évanouit Avec le temps... Avec le temps, va, tout s'en va Mêm' les plus chouett's souv'nirs ça t'a un' de ces gueules A la Gal'rie j'Farfouille dans les rayons d'la mort Le samedi soir quand la tendresse s'en va tout' seule Avec le temps... Avec le temps, va, tout s'en va L'autre à qui l'on croyait, pour un rhume, pour un rien L'autre à qui l'on donnait du vent et des bijoux Pour qui l'on eût vendu son âme pour quelques sous Devant quoi l'on s'trainait comme trainent les chiens Avec le temps, va, tout va bien Avec le temps... Avec le temps, va, tout s'en va On oublie les passions et l'on oublie les voix Qui vous disaient tout bas les mots des pauvres gens Ne rentre pas trop tard, surtout ne prend pas froid Avec le temps... Avec le temps, va, tout s'en va Et l'on se sent blanchi comme un cheval fourbu Et l'on se sent glacé dans un lit de hasard Et l'on se sent tout seul peut-être mais peinard Et l'on se sent floué par les années perdues Alors vraiment Avec le temps on n'aime plus. Leo Ferré No 14º ano da sua morte

sexta-feira, julho 13, 2007

I am! I am! yet what I am none cares or knows, My friends forsake me like a memory lost; I am the self-consumer of my woes, They rise and vanish in oblivious host, Like shades in love and death's oblivion lost; And yet I am! and live with shadows tost Into the nothingness of scorn and noise Into the living sea of waking dreams, Where there is neither sense of life nor joys, But the vast shipwreck of my life's esteems; And e'en the dearest - that I loved the best- Are strange - nay, rather stranger than the rest. I long for scenes where man has never trod; A place where woman never smil'd or wept; There to abide with my creator, God, And sleep as I in childhood sweetly slept: Untroubling and untroubled where I lie; The grass below - above the vaulted sky. John Clare* *Poeta inglês nascido a 13 de Julho de 1793
ENQUANTO ESPERO ENQUANTO ESPERO ACONTECER ENQUANTO ESPERO VER NO CAIS VOU DERRAMANDO SEM QUERER A FEBRE DOS MEUS AIS HÁ MUITO TEMPO AMOR QUE EU TRAGO DOR DENTRO DO PEITO HÁ MUITO TEMPO A COR DA SOLIDÃO TINGIU-ME O LEITO HÁ TANTO TEMPO ASSIM SÓ EU DENTRO DE MIM A PROCURAR POR NÓS E APENAS UMA VOZ RESPONDE ESTÃO AGORA O VAZIO E A SAUDADE A SÓS HÁ MUITO TEMPO AMOR QUE EU TE SUFOCO EM PENSAMENTO MAS QUANDO A NOITE CAI TRAZ TUA IMAGEM COMO UM VENTO FAZ TANTO FRIO AQUI SÓ EU DENTRO DE MIM A PROCURAR POR NÓS E APENAS UMA VOZ RESPONDE ESTÃO AGORA O VAZIO E A SAUDADE A SÓS NAVEGO UM MAR DE FADO AZUL ANGÚSTIA DE UM BOLERO VERSADO EM SOMBRAS, MEIA LUZ SOLUÇO NO MEU CANTO UMA CANÇÃO ENQUANTO ESPERO NAVEGO UM MAR DE FADO AZUL ANGÚSTIA DE UM BOLERO VERSADO EM SOMBRAS, MEIA LUZ SOLUÇO NO MEU CANTO UMA CANÇÃO ENQUANTO ESPERO ENQUANTO ESPERO ACONTECER ENQUANTO ESPERO VER NO CAIS VOU DERRAMANDO SEM QUERER A FEBRE DOS MEUS AIS NAVEGO UM MAR DE FADO AZUL ANGÚSTIA DE UM BOLERO VERSADO EM SOMBRAS, MEIA LUZ SOLUÇO NO MEU CANTO UMA CANÇÃO ENQUANTO ESPERO João Bosco* *No dia do seu 61º aniversário

quinta-feira, julho 12, 2007

Pablo Neruda Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada, e tiritam, azuis, os astros lá ao longe". O vento da noite gira no céu e canta. Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Eu amei-a e por vezes ela também me amou. Em noites como esta tive-a em meus braços. Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito. Ela amou-me, por vezes eu também a amava. Como não ter amado os seus grandes olhos fixos. Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi. Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela. E o verso cai na alma como no pasto o orvalho. Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la. A noite está estrelada e ela não está comigo. Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe. A minha alma não se contenta com havê-la perdido. Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a. O meu coração procura-a, ela não está comigo. A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores. Nós dois, os de então, já não somos os mesmos. Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei. Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido. De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos. A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos. Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda. É tão curto o amor, tão longo o esquecimento. Porque em noites como esta tive-a em meus braços, a minha alma não se contenta por havê-la perdido. Embora seja a última dor que ela me causa, e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo. Pablo Neruda* *No103º aniversário do seu nascimento Tradução de Fernando Assis Pacheco Vinte poemas de amor e uma canção desesperada

quarta-feira, julho 11, 2007

Suzanne Vega



Esta Senhora chama-se Suzanne Nadine Vega e celebra hoje 48 anos de idade.

Nascida em Santa Monica, Califórnia, a 11 de Julho de 1959, é uma cantora estado-unidense reconhecida mundialmente, mas a que, infelizmente, por cá não se dá a devida importância.

Filha de um escritor porto-riquenho, Suzanne cresceu e viveu grande parte de sua juventude em Manhattan, Nova Iorque, tendo escrito a sua primeira canção aos 14 anos.

Com fortes influências de Leonard Cohen, o álbum de estreia, intitulado Suzanne Vega e lançado em 1985, foi muito elogiado pela crítica da especialidade no seu país e atingiu a platina na Inglaterra.

Em 1987 veio o reconhecimento mundial (da crítica e do público), com o álbum Solitude Standing. A faixa intitulada Luka andou meses a fio nas rádios do mundo inteiro.

Com 9 álbuns no activo até agora e uma Retrospectiva em DVD (de 2003), é uma voz a ouvir, sempre. Happy Birthday, Suzanne!

Luka

My name is Luka
I live on the second floor
I live upstairs from you
Yes I think you've seen me before

If you hear something late at night
Some kind of trouble. some kind of fight
Just don't ask me what it was
Just don't ask me what it was
Just don't ask me what it was

I think it's because I'm clumsy
I try not to talk too loud
Maybe it's because I'm crazy
I try not to act too proud

They only hit until you cry
And after that you don't ask why
You just don't argue anymore
You just don't argue anymore
You just don't argue anymore

Yes I think I'm okay
I walked into the door again
Well, if you ask that's what I'll say
And it's not your business anyway
I guess I'd like to be alone
With nothing broken, nothing thrown

Just don't ask me how I am
Just don't ask me how I am
Just don't ask me how I am

My name is Luka
I live on the second floor
I live upstairs from you
Yes I think you've seen me before

If you hear something late at night
Some kind of trouble. some kind of fight
Just don't ask me what it was
Just don't ask me what it was
Just don't ask me what it was

They only hit until you cry
And after that you don't ask why
You just don't argue anymore.
You just don't argue anymore
You just don't argue anymore

Suzanne Vega
Esta vida Um sábio me dizia: esta existência, não vale a angústia de viver. A ciência, se fôssemos eternos, num transporte de desespero inventaria a morte. Uma célula orgânica aparece no infinito do tempo. E vibra e cresce e se desdobra e estala num segundo. Homem, eis o que somos neste mundo. Assim falou-me o sábio e eu comecei a ver dentro da própria morte, o encanto de morrer. Um monge me dizia: ó mocidade, és relâmpago ao pé da eternidade! Pensa: o tempo anda sempre e não repousa; esta vida não vale grande coisa. Uma mulher que chora, um berço a um canto; o riso, às vezes, quase sempre, um pranto. Depois o mundo, a luta que intimida, quadro círios acesos : eis a vida Isto me disse o monge e eu continuei a ver dentro da própria morte, o encanto de morrer. Um pobre me dizia: para o pobre a vida, é o pão e o andrajo vil que o cobre. Deus, eu não creio nesta fantasia. Deus me deu fome e sede a cada dia mas nunca me deu pão, nem me deu água. Deu-me a vergonha, a infâmia, a mágoa de andar de porta em porta, esfarrapado. Deu-me esta vida: um pão envenenado. Assim falou-me o pobre e eu continuei a ver, dentro da própria morte, o encanto de morrer. Uma mulher me disse: vem comigo! Fecha os olhos e sonha, meu amigo. Sonha um lar, uma doce companheira que queiras muito e que também te queira. No telhado, um penacho de fumaça. Cortinas muito brancas na vidraça Um canário que canta na gaiola. Que linda a vida lá por dentro rola! Pela primeira vez eu comecei a ver, dentro da própria vida, o encanto de viver. Guilherme de Almeida* *Poeta, advogado, jornalista, ensaísta e tradutor paulista, falecido a 11 de Julho de 1969

terça-feira, julho 10, 2007

Orate, frates Há associações de ideias muito curiosas. Quando tive conhecimento do Motu Próprio Datae divulgado, quase secretamente, no passado sábado, por Bento XVI, recordei-me de uns célebres discursos de Cícero com os quais tomei contacto (e traduzi), há mais de 40 anos. Lucius Sergius Catilina foi um político romano, oriundo de família patrícia, mas pobre, que se revelou indivíduo de má índole. Depois de ter sido questor, pretor e governador de África, tentou ser nomeado cônsul. Como não o conseguiu, organizou uma conspiração para assassinar os dois cônsules designados (um dos quais Cícero). Descoberta a tramóia, Cícero interpelou Catilina em quatro discursos, cujo conjunto ficaria conhecido pelo nome de Catilinárias, que foram usadas durante muito tempo como uma das principais formas de ensino da arte de argumentar em todo o mundo. A primeira começa assim: Quo usque tandem abutere, Catilina, patientia nostra? quam diu etiam furor iste tuus nos eludet? quem ad finem sese effrenata iactabit audacia? Nihilne te nocturnum praesidium Palati, nihil urbis vigiliae, nihil timor populi, nihil concursus bonorum omnium, nihil hic munitissimus habendi senatus locus, nihil horum ora voltusque moverunt? Patere tua consilia non sentis, constrictam iam horum omnium scientia teneri coniurationem tuam non vides? Quid proxima, quid superiore nocte egeris, ubi fueris, quos convocaveris, quid consilii ceperis, quem nostrum ignorare arbitraris? (ver uma tradução fiável aqui). Julgo que a minha associação de ideias se prende com o facto de, com ligeiras adaptações, entre as quais o nome do destinatário, as interpelações de Cícero a Catilina poderem hoje ser dirigidas a Bento XVI por qualquer crente de base sem pretensões de sofisticação teológica nem receio de ser excomungado, como é o meu caso. Com efeito, Bento XVI, depois de ter arranjado tantos sarilhos como Inquisidor Mor, tem sido pródigo em continuar a arranjá-los, como Papa; primeiro, foi numa lição dada numa cidade alemã, quando citou, a despropósito e "esquecendo" que um Papa não é um académico comum, um imperador Bizantino do século XIV sobre a violência do Islão, originando um coro de protestos em todos os países árabes; depois, foi num discurso na visita ao Brasil, onde afirmou que a cristianização levada pelos descobrimentos foi muito positiva, esquecendo os morticínios que tal cristianização provocou; agora, quer pôr os católicos a rezar pela conversão dos judeus. Pela minha parte e devido à familiaridade que tive com os géneros, até gosto de canto gregoriano e, sobretudo, das grandes peças religiosas polifónicas; mas podem ter cabimento integral em liturgias realizadas em línguas vernáculas. O que mais me entristece é que esta decisão representa um retrocesso enorme numa das maiores conquistas do Concílio Vaticano II, é uma cedência clara aos meios mais conservadores da Igreja, é uma concessão aos seguidores de Marcel Lefébvre (que Roma tenta reintegrar, enquanto saneia dezenas de teólogo(a) s que não prescindem de pensar pelas suas próprias cabeças) e tem todos os ingredientes para se tornar um factor de desunião. Se dúvidas houvesse, a carta que acompanha o Motu Próprio tirá-las-ia. Por entre um conjunto de generalidades, lá confessa que “trata-se de chegar a uma reconciliação interna no seio da igreja”. Com a Fraternidade Sacerdotal S. Pio X, está bom de ver. Duvido que o consiga, mesmo dizendo adeus ao Concílio Vaticano II, pois é disso mesmo que se trata. Basta ver os sítios da tal Fraternidade. Mas mesmo que o conseguisse, a que preço? A partir de agora, sujeitamo-nos a ver a cara do celebrante apenas quando ele se virar para a assembleia, decorrida mais de metade da liturgia, para dizer Orate, frates, que é como quem diz Orai, irmãos.

segunda-feira, julho 09, 2007

De repente


Foi de repente, há 27 anos. Na noite de 8 de Julho de 1980, quando acertava com o Toquinho os detalhes das canções do álbum "Arca de Noé", Vinícius de Moraes alegou estar cansado e foi tomar um banho. Toquinho foi dormir. Na madrugada do dia 9, Vinícius foi encontrado pela empregada, na banheira de casa, com dificuldades em respirar. Toquinho correu em seu auxílio, seguido por Gilda Mattoso, última esposa do poeta. Mas não houve tempo para socorrê-lo. Vinícius de Moares morreria na manhã desse dia 9 de Julho.

No enterro, consolada por Elis Regina, Gilda recordava a noite anterior, quando, numa entrevista, perguntaram a Vinícius: "Você está com medo da morte?". E o poeta, placidamente, respondeu: "Não, meu filho. Eu não estou com medo da morte. Estou é com saudades da vida".

Soneto da separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Vinícius de Moraes

domingo, julho 08, 2007

Payada Raízes, tronco, ramagem... Ramagem, tronco, raiz... Abriu-se uma cicatriz de onde brotei na paisagem... O tempo me fez mensagem que os ventos pampas dirigem, Dos anseios que me afligem de transplantar horizontes, Buscando o rumor das fontes pra beber água na origem. Sobre o lombo da distância, de paragem em paragem, Fui repontando a mensagem de bárbara ressonância, Fazendo pátria na infância porque precisei fazê-la, E a Liberdade, sinuela, sempre foi a estrela guia Que o meu olhar perseguia como quem busca uma estrela. Pensei chegar alcançá-la, no estágio de índio rude, Mas nunca na plenitude, porque essa deusa baguala Que aos andejos embuçala, nunca ninguém alcançou, Bisneto nem bisavô, nos entreveros mais brutos, Labareda de minutos que o vento sempre apagou. Primeiro era o campo aberto, descampado, sem divisas... Com fronteiras imprecisas, mundo sem longe nem perto.. Eu era o índio liberto, barbaresco e peleador Rei de mim mesmo, senhor da natureza selvagem, A religião da coragem e o sol de bronze na cor Um dia veio o jesuíta a este rincão do planeta Vestindo a sotaina preta na catequese bendita Foi mais do que uma visita à minha pampa morena Bombeei por trás da melena, olhos nos olhos o irmão, E gravei no coração a santa cruz de Lorena! Mais tarde veio mais gente às minhas terras campeiras... A falange das bandeiras, impiedosa e inclemente... Me levantei de repente e as tribos se levantaram... As várzeas se ensangüentaram, elas que eram verdejantes, Mas eu venci os bandeirantes, que nunca mais retornaram! E depois vieram os lusos, os negros, os castelhanos, E nos pagos campejanos, novas normas, novos usos... As violências e os abusos da Ibéria, Castela e Lácio Que rasgaram o prefácio e mataram as plegárias E as ânsias comunitárias dos irmãos de Santo Inácio. Não pude deter a vaga de Andonega e Barbacena... Se a História não os condena, a mancha nunca se apaga! A opressão jamais indaga na sua ambição mesquinha, Era meu tudo o que tinha, era meu tudo o que havia, E eu morri porque dizia que aquela terra era minha! Mas o eterno não morre, porque permaneço vivo... No lampejo primitivo de cada fato que ocorre O meu sangue rubro corre na velha raça gaudéria, Corcoveando em cada artéria pela miscigenação Na bárbara transfusão com os andarengos da Ibéria... Fui sempre aquilo que sou, sou sempre aquilo que fui, Porque a vida não dilui o que a mãe terra gerou... Sou o brasedo que ficou e aceso permaneceu, Sou o gaúcho que cresceu junto aos fortins de combate E já estava tomando mate quando a pátria amanheceu!!! E assim, crescendo ao relento, criado longe do pai, Junto ao mar doce - o Uruguai -, o rio do meu nascimento, Soldado sem regimento no quartel da imensidade... Um dia me deu vontade, deixei crescer toda a crina E me amasiei com uma china que chamei de Liberdade! Por mais de trezentos anos fui pastor e sentinela Na linha verde e amarela, peleando com castelhanos, Gravando com "los hermanos" a epopéia do fronteiro! Poeta, cantor e guerreiro da América que nascia Na bendita teimosia de continuar brasileiro!!!! Com Bento em mil entreveros, em barbarescos ensaios... Depois contra os paraguaios, em Humaitá e Toneleros Andei em Monte Caseros, Paisandu, Peribebuí Passo da Pátria, Avaí... longe do meu território... E fui ordenança de Osório nos campos de Tuiuti Depois, em Noventa e três, na gesta federalista, A pátria a perder de vista, andei peleando outra vez... Sem soldo no fim do mês porque pelear era lindo, As espadas retinindo, chapéu batido na copa, Como carneador de tropa nas forças de Gomercindo Mais adiante, em Vinte e três, em Vinte e quatro de novo... É o destino do meu povo que assim altivo se fez, A marca da intrepidez deste velho território! Ante o bárbaro ostensório dos lenços rubros e brancos Acompanhei os arrancos do velho Flores, e Honório... Chimangos e maragatos, farrapos, federalistas Caminhadas e conquistas que a história guarda em seus fatos Os tauras intemeratos de adaga e pistola à cinta... Não há ninguém que desminta nossa estirpe de raiz Que se adonou da matriz nas arrancadas de Trinta Depois vesti a verde-oliva, como sempre voluntário, No "cuerpo" expedicionário, formando uma comitiva Da nossa indiada nativa pra responder um libelo E o pendão verde-amarelo, no outro lado do mundo, Cravei, bem firme e bem fundo, no velho Monte Castelo! Hoje, tempo de mudar, meu coração continua O mesmo tigre charrua das andanças do passado. Sempre de pingo ensilhado, bombeando pampa e coxilha... A pátria é minha família! Não há Brasil sem Rio Grande E nem tirano que mande na alma de um Farroupilha! Jayme Caetano Braum* *Poeta, payador e radialista gaúcho, falecido a 8 de Julho de 1999

sábado, julho 07, 2007

O génio "louco" Dominoes It's an idea, someday in my tears, my dreams don't you want to see her proof? Life that comes of no harm you and I, you and I and dominoes, the day goes by... You and I in place wasting time on dominoes a day so dark, so warm life that comes of no harm you and I and dominoes, time goes by... Fireworks and heat, someday hold a shell, a stick or play overheard a lark today losing when my mind's astray don't you want to know with your pretty hair stretch your hand, glad feel, in an echo for your way. It's an idea, someday... It's an idea, someday in my tears, my dreams don't you want to see her proof? Life that comes of no harm you and I, you and I and dominoes, the day goes by... Syd Barret* *no 1º aniversário da sua morte

sexta-feira, julho 06, 2007

What a Wonderful World





















Frida Kahlo nasceu há 100 anos; Louis Armstrong morreu há 36.

Apesar de serem contemporâneos e de países vizinhos, provavelmente nunca se encontraram. Mas une-os o facto de se terem dedicado à sua arte de alma e coração e de ambos terem, em vida, conquistado o reconhecimento internacional.

Ela, na pintura; ele no jazz, onde a sua voz e trompete inconfundíveis dominaram a cena durante 50 anos.

Sugiro a abertura de uma nova “janela”, para deliciarem os olhos com as 73 telas da Frida, enquanto os ouvidos saboreiam a voz do Satchmo, naquela que é considerada a sua mais emocionante interpretação:

What A Wonderful World

I see trees of green, red roses too
I see them bloom for me and you
and I think to myself, what a wonderful world

I see skies of blue and clouds of white
the bright blessed day, the dark sacred night
and I think to myself, what a wonderful world

the colors of the rainbow, so pretty in the sky
are also on the faces of people going by
I see friends shaking hands, saying, "how do you do?"
they're really saying, "I love you"

I hear babies cry, I watch them grow
they'll learn much more, than I'll never know
and I think to myself, what a wonderful world

yes, I think to myself, what a wonderful world

Imagem : Auto-retrato Duas Fridas, de 1939

quinta-feira, julho 05, 2007

Jean Cocteau


Jean Cocteau, nascido a 5 de Julho de 1889, perto de Paris, foi um artista francês de múltiplos talentos, que se encontra entre os que mais marcaram a sua época.

Para além de poeta, foi romancista, dramaturgo, pintor, cenógrafo, escultor, realizador e actor.

Tendo publicado o seu primeiro livro de poesia aos 19 anos, aos 20 ingressou no círculos do ballet e do teatro, onde foi introduzido pelo amigo Serguei Diaghilev. Da sua colaboração nasceu Parade, espectáculo de ballet produzido em 1917 por Diaghilev, com música de Erik Satie e decoração de Pablo Picasso, com quem viria a trabalhar múltiplas vezes.

Em 1918 encontra o poeta Raymond Radiguet, do qual foi íntimo, falando-se mesmo de uma relação amorosa, embora não exista qualquer prova disso. A morte de Radiguet,em 1923,deixou-o em profundo desespero, tendo-se entregue ao ópio, do qual nunca se viria a libertar, apesar se sucessivas curas de desintoxicação.

Nos anos vinte associa-se a Marcel Proust, André Gide e Maurice Barrès, tendo sido amigo da maior parte da comunidade artística europeia da altura.

A sua filmografia (O sangue de um poeta, A bela e o monstro, A águia de duas cabeças e Testamento de Orfeu, entre outros), a maior parte escrita e dirigida por si, foi particularmente importante por ter introduzido o surrealismo no cinema influenciando, de certo modo, o género que ficou conhecido como Nouvelle Vague. De A bela e o monstro conheceu Jean Marais, que viria a ser o seu parceiro amoroso mais duradouro.

Grande amigo de Edith Piaf, escreveu, em 1940, uma peça de teatro propositadamente para ela, Le Bel Indifférent, que foi um enorme sucesso. A ua ligação a Piaf era tal que a notícia da sua morte o deixou com uma crise de sufoco, vindo também ele a morrer horas mais tarde, de ataque cardíaco.

Plain-Chant

Je n'aime pas dormir quand ta figure habite,
La nuit, contre mon cou ;
Car je pense à la mort laquelle vient trop vite,
Nous endormir beaucoup.

Je mourrai, tu vivras et c'est ce qui m'éveille!
Est-il une autre peur?
Un jour ne plus entendre auprès de mon oreille
Ton haleine et ton coeur.

Quoi, ce timide oiseau replié par le songe
Déserterait son nid !
Son nid d'où notre corps à deux têtes s'allonge
Par quatre pieds fini.

Puisse durer toujours une si grande joie
Qui cesse le matin,
Et dont l'ange chargé de construire ma voie
Allège mon destin.

Léger, je suis léger sous cette tête lourde
Qui semble de mon bloc,
Et reste en mon abri, muette, aveugle, sourde,
Malgré le chant du coq.

Cette tête coupée, allée en d'autres mondes,
Où règne une autre loi,
Plongeant dans le sommeil des racines profondes,
Loin de moi, près de moi.

Ah ! je voudrais, gardant ton profil sur ma gorge,
Par ta bouche qui dort
Entendre de tes seins la délicate forge
Souffler jusqu'à ma mort.

Jean Cocteau*

*Excerto de “Plain-Chant" – Poésie/Gallimard

(Imagem: retrato de Jeande Cocteau por Amedeo Modigliani)

quarta-feira, julho 04, 2007

Será só fundamentalismo? Ouvimos nas televisões e rádios e temos dificuldade em acreditar; lemos nos jornais e abrimos a boca de espanto: os 8 (oito) presos suspeitos dos ataques bombistas em Glasgow e Londres pertencem todos ao Serviço Nacional de Saúde britânico – os 7 homens são médicos e a única mulher, casada com um deles, é técnica de laboratório. Há quem tenha defendido que o “caldo de cultura” propício ao aparecimento de voluntários bombistas, principalmente bombistas suicidas, é a inexistência de alternativas para milhares de jovens sem perspectivas de futuro, vivendo em regiões assoladas pela guerra, muitos deles em campos de refugiados. Vários dos defensores dessa tese chegaram a culpar o “ocidente” pela existência de tais condições, apesar de se saber que a al-Qaeda conta, nos seus quadros, com muitos elementos altamente qualificados, a começar por Osama bin Laden (engenheiro) e Ayman al-Zawhiri (médico). A pergunta que se coloca com toda a acuidade é esta: o que leva pessoas altamente qualificadas e com um futuro promissor a tornarem-se bombistas? Mais: o que faz com que pessoas treinadas para tratar da saúde dos outros e zelar pelo seu bem-estar se empenhem em acções que visam a destruição, o estropiamento e a morte de dezenas, centenas ou milhares de seres humanos? O fanatismo religioso não pode explicar tudo, até porque, como afirmou categoricamente um membro da Associação Muçulmana de Médicos e Dentistas “estas acções são completamente contrárias aos ensinamentos quer da medicina quer do Islão”; apesar da frase “as pessoas que vos curam matar-vos-ão”, alegadamente dita por um dirigente da al-Qaeda a um pastor anglicano de Bagdade, à margem de uma reunião sobre reconciliação religiosa, recentemente realizada na capital da Jordânia. Alice Miles e Michael Binyon, ambos colunistas do Times, tentam dar-nos algumas pistas em duas peças que vale a pena ler. Poderá tratar-se de nacionalismo e luta contra a ocupação de território por potências estrangeiras, de acordo com a tese defendida por Robert Pape no seu livro Dying to Win, resumida neste entrevista de 2005. Ou será que esta negra realidade ultrapassa a capacidade de compreensão da nossa cultura?
DA SOMBRA QUE SOMOS - II


É só para recordar que hoje, no Porto, na Livraria Poetria (Palacete Balsemão à Praça Carlos Alberto), às 21H30, haverá nova apresentação do novo livro de Maria Sofia Magalhães.

Para quem morar no Porto ou arredores, um convívio a não perder.





Guardar silêncios
como quem colecciona gestos habituais
em horas desabitadas.
Corro as cortinas da memória
e sinto vertigens de descobertas
em ciclos perfeitos.

Maria Sofia Magalhães

terça-feira, julho 03, 2007

Desta tem de ser Agora não posso mesmo escapar. Da última vez que fui "contemplado", estava de "interregno" por Minas Gerais, com poucas possibilidades de "acusar o toque". Agora que a MC achou por bem invectivar-me, aqui vão os últimos cinco livros que li (mas era melhor terem perguntado à minha mulher, que lê 3 ou 4 por mês): Pensar Outra Vez - Filosofia, Valor e Verdade, de Desidério Murcho A Ética do Aborto, tradução e organização de Pedro Galvão O "Eduquês" em Discurso Directo, de Nuno Crato Trabalho Poético, de Carlos de Oliveira Cinco Equações que Mudaram o Mundo, de Michael Guillen. E os cinco felizes contemplados, são: Sofia - Defender o Quadrado Graça - Inflorescências Fernanda - Grilinha Zetrolha - zetrolha Bianca - Le Nozze di Figaro
An American Prayer


Chamava-se James Douglas Morrison e morreu em Paris há 36 anos, no dia 3 de Julho de 1971. De overdose (segundo testemunho da namorada que, anos mais tarde, teria o mesmo destino, inalou heroína pensando tratar-se de cocaína), de “ataque cardíaco”, segundo o relatório oficial, ou assassinado, como alegam outros. Há, ainda, múltiplas teorias da conspiração, que o dão como vivendo em África, nas Bahamas ou num rancho dos Estados Unidos.

Mais conhecido como Jim Morrison e celebrizado como letrista, compositor e cantor do grupo de culto The Doors, Jim foi também realizador, actor e um poeta prolífico, tendo deixado, na sua curta vida, pelo menos quatro livros de poesia, para além das centenas de poemas musicados e cantados.

Jim Morrison nasceu em 8 de Dezembro de 1943, filho de pais conservadores e rigorosos - o pai seria almirante da marinha dos Estados Unidos e a mãe era funcionária também da marinha. Apesar de ter de mudar frequentemente de escola devido à itinerância de família, foi um estudante dotado em literatura, poesia religião, filosofia e psicologia, entre outras matérias.

Além da ter bebido em toda a “beat generation” – Jack Kerouac, William S. Burroughs, Allen Ginsberg e, principalmente, Michael McClure, de quem foi amigo e que o incentivou a desenvolver a sua arte escrever, de tão impressionado que ficou com a sua poesia – Jim teve fortes influências do filósofo Friedriech Nietzche (a ponto de, após a sua morte, Robby Krieger ter afirmado que “o niilismo de Nietzche matou-o”), de William Blake , Charles Baudelaire, Arthur Rimbaud, Charles Mackay, Balzac, Joseph Campbell, James Frazer, Céline e Antonin Artaud. Tendo estudado história da arte e do teatro e introdução ao teatro, escreveu um ensaio sobre À Espera de Godot, de Samuel Beckett, construiu propostas cénicas para a montagem de Gata em Telhado de Zinco Quente, de Tennessee Williams e trabalhou como actor em O Criado, de Harold Pinter.

Entre o lançamento, em Janeiro de 1967, do primeiro álbum do Grupo – The Doors – e o último gravado com Jim Morrison – L. A. Woman - decorreram apenas 4 anos, mas houve mais cinco álbuns, se contarmos com as gravações originais – em 1970 – do An American Prayer, apenas lançado em 1978, vários singles e um duplo ao vivo – Absolutely Live. Uma carreira fulgurante, que marcou a história da musica popular.

Sendo apenas um ano mais novo do que o Jim e tendo tido, na minha adolescência e na fase de adulto jovem, um acesso privilegiado à sua obra, não posso deixar de reconhecer que Jim Morrison foi (e continua a ser) um dos meus artistas preferidos. E vejo, com gosto, que a minha filha ouve os The Doors com prazer (há a discografia completa cá em casa, a maioria em vinil e CD).

Do álbum L.A.Woman,

Riders On The Storm

Riders on the storm,
Riders on the storm,

into this house we're born,
into this world we're thrown
like a dog without a bone,
an actor out alone,

riders on the storm

There's a killer on the road
His brain is squirming like a toad
Take a long holiday
Let your children play
If you give this man a ride
Sweet family will die
Killer on the road

Girl you gotta love your man
Girl you gotta love your man
Take him by the hand
Make him understand
The world on you depends
Or life will never end
Gotta love your man

Jim Morrison/The Doors

segunda-feira, julho 02, 2007

Ausência Num deserto sem água Numa noite sem lua Num país sem nome Ou numa terra nua Por maior que seja o desespero Nenhuma ausência é mais funda do que a tua. Sophia de Mello Breyner Andresen* *No terceiro aniversário da sua ausência

domingo, julho 01, 2007

Barco Negro


Amália da Piedade Rodrigues, filha de um músico sapateiro beirão que, para sustentar os quatro filhos e a mulher, tentou a sua sorte na capital, terá nascido, segundo o seu assento de nascimento, a 23 de Julho de 1920, na freguesia lisboeta da Pena, mas queria que o aniversário fosse celebrado a 1 de Julho ("no tempo das cerejas"), e dizia : talvez por ser essa a altura do mês em que havia dinheiro para me comprarem os presentes.

Sobre Amália já quase tudo foi dito, incluindo algumas graves acusações - julgo que totalmente infundadas, pelo que se veio a saber mais tarde - no imediato pós Abril, de ter sido uma cara do regime salazarento.

A verdade é que seu fado de Peniche foi proibido por ser considerado um hino aos que se encontravam presos em Peniche e o poema de Pedro Homem de Mello, Povo que lavas no rio, por si cantado, ganhou dimensão política. E a democracia viria a reconhecer os seus méritos, condecorando-o pela mão de Mário Soares e destinando-lhe um lugar no Panteão Nacional, como grande propagadora que foi da cultura portuguesa, da língua portuguesa e do Fado.

Mesmo quem não aprecia este tipo de música (eu gosto), concordará que ainda está para nascer quem cante de forma tão sublime centenas de poemas de nomes maiores da nossa literatura, entre eles Barco Negro, de David Mourão Ferreira:

De manhã, que medo, que me achasses feia!
Acordei, tremendo, deitada n'areia
Mas logo os teus olhos disseram que não,
E o sol penetrou no meu coração.

Vi depois, numa rocha, uma cruz
E o teu barco negro dançava na luz
Vi teu braço acenando, entre as velas já soltas
Dizem as velhas da praia, que não voltas

São loucas! São loucas!

Eu sei, meu amor,
Que nem chegaste a partir,
Pois tudo, em meu redor,
Me diz qu'estás sempre comigo.

No vento que lança areia nos vidros;
Na água que canta, no fogo mortiço;
No calor do leito, nos bancos vazios;
Dentro do meu peito, estás sempre comigo.