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segunda-feira, julho 23, 2007

Uma (quase) teocracia É sabido que o Presidente dos Estados Unidos tem pautado os seus mandatos por uma obediência cega aos ditames religiosos mais conservadores, incluindo a desastrosa e inumana decisão de invadir o Iraque. Mas as “surpresas” continuam a aparecer a um ritmo quase diário. O “Cirurgião Geral” (Surgeon General) é uma figura de topo nos Estados Unidos, sem paralelo no nosso ordenamento. Sendo o responsável máximo do Serviço de Saúde Pública do País, é considerado o “Médico da Nação”. É indigitado pelo Presidente para mandatos de 4 anos e confirmado pelo Congresso, após as audições habituais e, além de ter o direito e o dever de se pronunciar sobre todos os aspectos da Saúde Pública, dirige o Public Health Service Commissioned Corps, um Corpo de mais de 6.000 profissionais de saúde (médicos, dentistas, engenheiros do ambiente, farmacêuticos, enfermeiros, especialistas em saúde ambiental, cientistas) com funções tão abrangentes que vão desde a prestação de cuidados de saúde a grupos específicos (índios Americanos, nativos do Alaska) até à colaboração com organizações de saúde internacionais, passando pela prevenção e controlo de doenças e promoção de estilos de vida saudáveis, pelo desenvolvimento da saúde mental da nação, pela verificação de que os medicamentos, os aparelhos médicos, a comida e os cosméticos são seguros, pela condução e sustentação de serviços de investigação biomédica e comportamental e pela comunicação dos resultados aos profissionais de saúde e ao público em geral. O último Cirurgião Geral foi o Dr. Richard Carmona, que desempenhou funções entre 2002 e 2006, não tendo sido convidado para um segundo mandato, percebe-se agora porquê. No passado dia 10, ao ser ouvido por um Comité da Câmara dos Representantes, numa sessão que antecedeu a audição do indigitado para lhe suceder, o Dr. Carmona acusou a administração de interferência política e de o amordaçarem em questões fundamentais de Saúde Pública (o nomeado responde perante o Subsecretário de Estado da Saúde). Sem indicar nomes, mas dispondo-se a fazê-lo se a Câmara assim o entendesse, declarou, num discurso arrasador, que a política se sobrepôs à ciência e a uma política social avisada, afirmando ter sido proibido de fazer quaisquer palestras ou relatórios sobre investigação em células estaminais, contracepção de emergência, educação sexual, aquecimento global, saúde pública na população prisional ou questões de saúde mental. Afirmou, ainda, que a divulgação do seu relatório sobre os malefícios do fumo passivo tinha sido adiada durante anos e que os comissários políticos tinham repetidamente insistido para que mencionasse o Presidente por 3 vezes em cada página dos seus discursos (exactamente o mesmo que Nicolae Ceausescu tinha exigido aos cientistas romenos). Depois do discurso de Agosto de 2001, em que anunciou que não haveria fundos federais para a investigação em células estaminais embrionárias, de ter afirmado que tinha sido a voz de Deus a levá-lo a invadir o Iraque, de ter levado à demissão, em 2005, de Susan F Wood (número 2 da FDA e Directora da agência Office of Women’s Health), frustrada pelas interferências políticas que levaram a atrasos na aprovação da venda livre da pílula do dia seguinte, de ter sido acusado por cientistas da NASA de os ter proibido de falar do aquecimento global, de ter vetado, por duas vezes, legislação que visava o financiamento da investigação em células estaminais embrionárias por fundos federais e do despedimento de uma dezena de procuradores gerais federais por razões políticas, as acusações do Dr. Carmona são a “cereja no topo do bolo”. Juntamente com o Dr. Carmona testemunharam dois antecessores seus, que exerceram os mandatos sob as Presidências de Reagan e Clinton. Ambos disseram ter sofrido pressões, mas reconheceram que as exercidas sobre o Dr. Carmona não tinham precedentes em termos de gravidade. A propósito, o Dr. Richard Carmona não é um médico qualquer: é considerado um herói, que serviu nas Forças Especiais do Exército e foi condecorado com duas Purple Hearts pela sua bravura no Vietname.

1 comentário:

  1. Os states ... hilariantes como sempre.
    Beijos e olha já fiz outro arroz de polvo, estás convidado.

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