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segunda-feira, julho 09, 2007

De repente


Foi de repente, há 27 anos. Na noite de 8 de Julho de 1980, quando acertava com o Toquinho os detalhes das canções do álbum "Arca de Noé", Vinícius de Moraes alegou estar cansado e foi tomar um banho. Toquinho foi dormir. Na madrugada do dia 9, Vinícius foi encontrado pela empregada, na banheira de casa, com dificuldades em respirar. Toquinho correu em seu auxílio, seguido por Gilda Mattoso, última esposa do poeta. Mas não houve tempo para socorrê-lo. Vinícius de Moares morreria na manhã desse dia 9 de Julho.

No enterro, consolada por Elis Regina, Gilda recordava a noite anterior, quando, numa entrevista, perguntaram a Vinícius: "Você está com medo da morte?". E o poeta, placidamente, respondeu: "Não, meu filho. Eu não estou com medo da morte. Estou é com saudades da vida".

Soneto da separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Vinícius de Moraes

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