How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
segunda-feira, junho 18, 2007
Olhar longe para frente
Depois da publicação dos dados atemorizantes do Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC) que prevêem grandes transtornos no sistema-Terra e no sistema-vida, o Brasil está ganhando mais e mais interesse internacional. Não é para menos: é a potencia mundial das águas, dotado com a maior biodiversidade do mundo, contendo em seu território as maiores florestas húmidas da Terra, com a maior área agricultável de todo o planeta, com climas para todo tipo de produção de alimentos e fibras. E ainda detém abundantíssima biomassa com tecnologia avançada, capaz de apresentar uma alternativa à matriz energética dominante de base fóssil.
Diante desta constatação, o país precisa de um olhar de águia, que vê longe para não cair num auto-engano que o fará desperdiçar uma chance histórica única de ocupar um papel importante na configuração de um novo mundo que há de vir.
O risco reside na tentação de o Brasil se contentar apenas com um olhar de galinha que vê perto, ao oferecer uma alternativa intrassistêmica de matriz energética para que a atual civilização consumista, perdulária e anti-ecológica possa continuar. Isso suporia a convicção de que ela tenha ainda futuro, possa ganhar mentes e corações para seus ideais e ser benéfica para a humanidade e para a Terra. Ora, exatamente isso ela não é. Sua vigência e prolongamento pode representar, de forma crescente, uma ameaça ao futuro comum dos humanos e do sistema-Gaia.
Não que o Brasil deixe de se valer de suas vantagens comparativas naturais e tecnológicas. Ele deve ajudar a enfrentar a crise energética mundial como passo para um patamar mais alto, visando alcançar um novo paradigma de relação com a natureza, de produção e de consumo.
Por isso o Brasil deve olhar mais longe, para além das urgências momentâneas e mirar o novo que ele, mais que outros países, é chamado a moldar. Ele precisa de uma inteligência estratégica pós-relatório do IPCC. Pode vigorosamente animar a elaboração de um novo paradigma civilizatório que tenha como eixo articulador a sustentação de toda a vida e não a acumulação de bens materiais e de serviços.
O que está em jogo agora é Gaia e a Humanidade. Seu futuro não é mais garantido pela conjunção de energias e fatores que até agora lhes davam sustentabilidade. A humanidade só viverá se fizer um ato político coletivo de querer viver junto com toda a comunidade de vida.
Bem dizia a Carta da Terra:"a escolha a fazer é esta: ou formamos uma aliança para cuidar da Terra e uns dos outros ou então arriscamos a nossa destruição e a devastação da diversidade da vida". Temos fundado temor de que nos estratos estratégicos do Governo falta esta consciência. Vejamos o que consta no atual orçamento: o Ministério do Meio Ambiente tem seus recursos cortados na ordem de 32,7%, passando de 651,2 para 438,5 milhões de reais, menos que o Esporte 643,9 milhões e 13 vezes menos que o Ministério da Defesa que é de 5,82 bilhões de reais.
Por que esta diferença? Não temos um inimigo externo potencial. O que temos é o real inimigo global que nos ataca por todos os lados: o aquecimento global e as mudanças climáticas. Devemos contra-atacar em todas as frentes para garantirmos um efeito global. Caso contrário, a arca de Noé afundará, carregando consigo todos os orçamentos para coisas que não são realmente decisivas.
Leonardo Boff
Publicado no site do autor em 01/06/2007 e aqui afixado com a sua autorização.
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1 comentário:
É preocupante.
Abraço
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