How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
segunda-feira, junho 04, 2007
No País dos Sacanas
Jorge de Sena, nascido em Lisboa, a 2 de Novembro de 1919, e falecido em Santa Barbara, na Califórnia, a 4 de Junho de 1978, é um dos grandes poetas de língua portuguesa e uma das figuras centrais da nossa cultura do século XX.
Licenciado em engenharia civil, dedicou-se à carreira de escritor tendo sido, para além de poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário, primeiro no Brasil e depois nos Estados Unidos.
Trabalhando como engenheiro na Junta Autónoma das Estradas entre 1948 e 1959, tinha um posicionamento político livre e denunciador, o que lhe acarretou perseguições políticas durante a ditadura salazarista.
Em 1959, receando as consequências políticas resultantes de uma falhada tentativa de golpe de estado em que esteve envolvido, a 11 de Março desse ano, exilou-se no Brasil, onde se dedicou ao ensino da Literatura, acabando por se doutorar em Letras na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara, São Paulo, em 1964, tendo obtido, também, o Diploma de Livre-Docência, para cujo efeito teve de adquirir a nacionalidade brasileira.
O golpe militar de 1964 e a subsequente alteração da situação política no Brasil fizeram com que, em 1965, se mudasse para os Estados Unidos, com Mécia de Sena e os seus nove filhos. Em Outubro desse ano passou a integrar o corpo docente da Universidade de Wisconsin, Madison, onde foi nomeado professor catedrático efectivo (1967), transitando, em 1970, para a Universidade da California, Santa Barbara (UCSB).
O poema No País dos Sacanas foi escrito em Outubro de 1973 e é um libelo contras as classes política e económica dominantes. Mas, decorridos mais de 33 anos, ainda é de extrema actualidade.
Que adianta dizer-se que é um país de sacanas?
Todos o são, mesmo os melhores, às suas horas,
e todos estão contentes de se saberem sacanas.
Não há mesmo melhor do que uma sacanice
para poder funcionar fraternalmente
a humidade da próstata ou das glândulas lacrimais,
para além das rivalidades, invejas e mesquinharias
em que tanto se dividem e afinal se irmanam.
Dizer-se que é de heróis e santos o país,
a ver se se convencem e puxam para cima as calças?
Para quê, se toda a gente sabe que só asnos,
ingénuos e sacaneados é que foram disso?
Não, o melhor seria aguentar, fazendo que se ignora.
Mas claro que logo todos pensam que isto é o cúmulo da sacanice,
porque no país dos sacanas, ninguém pode entender
que a nobreza, a dignidade, a independência, a
justiça, a bondade, etc., etc., sejam
outra coisa que não patifaria de sacanas refinados
a um ponto que os mais não são capazes de atingir.
No país dos sacanas, ser sacana e meio?
Não, que toda a gente já é pelo menos dois.
Como ser-se então nesse país? Não ser-se?
Ser ou não ser, eis a questão, dir-se-ia.
Mas isso foi no teatro, e o gajo morreu na mesma.
Jorge de Sena
10/10/1973
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