Augusto dos Anjos
Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos, nascido a 20 de Abril de 1884, foi um poeta brasileiro que fez a transição do simbolismo e do parnasianismo para o modernismo, sendo classificado por muitos críticos literários como pré-moderno.
Tendo vivido apenas 30 anos (morreu de pneumonia em 1914), deixou um único livro de poemas editado, a que chamou Eu, e alguma poesia dispersa por periódicos em que colaborou. Após a sua morte, o seu amigo Órris Soares organizou uma edição chamada Eu e Outras Poesias, que incluiu poemas até então não publicados.
Famoso pela originalidade temática e vocabular, Augusto dos Anjos recorreu a uma infinidade de termos científicos, biológicos e médicos ao escrever os seus poemas, nos quais expressa, por princípio, um pessimismo atroz.
Quer em vida quer quando morreu, ninguém o reconheceu . Ninguém o compreendeu, ninguém lhe leu os versos nos cafés superficialmente afrancesados do Rio de Janeiro, e é até conhecida a cena de um dos seus raros admiradores que leu um soneto de Augusto dos Anjos a Olavo Bilac e recebeu a resposta desdenhosa: "É este o seu grande poeta? Fez bem ter morrido!"
Quem salvou a fama póstuma de Augusto dos Anjos foi o seu povo, do Nordeste e do interior do Brasil. A abundância de estranhas expressões científicas e de palavras esquisitas existente nos seus versos atraiu os leitores semi-cultos que, muito provavelmente, não compreendiam nada da sua poesia, mas ficavam fascinados pelas metáforas de decomposição dos seus versos, tal e qual como estavam em decomposição as suas vidas.
Nada menos do que 31 edições do seu livro Eu dão testemunho dessa imensa popularidade, que repeliu os leitores exigentes ( e os pseudo cultos), de tal modo que, até durante a fase modernista da literatura brasileira, os versos de Augusto dos Anjos passaram por exemplos de mau gosto.Foram alguns poucos leitores dedicados que conseguiram reivindicar e restabelecer a verdadeira grandeza de Augusto dos Anjos: Álvaro Lins, Antônio Houaiss, Francisco de Assis Barbosa e alguns outros.
Constitui uma curiosidade o facto de um exemplar do Eu fazer parte da Biblioteca da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, por causa dos termos científicos que utilizou na sua obra.
Psicologia de um vencido
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
Augusto dos Anjos
1 comentário:
O poema é forte, mas muito bom.
Bom fim-de-semana!
Abraço
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