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sexta-feira, setembro 30, 2016

O ar

Em nossa transparência
Os muros da carne.

Em nossa angústia
O vento rebelde.

Em nossa nuvem
O vôo do pássaro.

Em nossa fonte
A água invisível.

Em nossa árvore
A serpente do nada.

Somos o ar
Na torre das palavras.


(poeta paulista que hoje faz 90 anos)

quinta-feira, setembro 29, 2016

Falésias

Poder-me-ão encontrar, trago um rapaz na minha
memória, a casa a uma janela
da qual ele vem como um sabor à boca,
falésias onde o aguardo à hora do crepúsculo.

Regresso assim ao mar de que não posso
falar sem recorrer ao fogo e as tempestades
ao longe multiplicam-nos os passos.
Onde eu não sonhe a solidão fá-lo por mim.


(Luís Miguel Nava faria hoje 59 anos)

quarta-feira, setembro 28, 2016


Ben E. King  nasceu faz hoje 78 anos
Uma quadra

Que dos céus as estrelas desçam esculpidas em mármore.
E se abatam em mim na dureza pétrea e existente;
E do chão abafado e maldito onde não desponta árvore
Crescerá num volume duro meu canto humano e quente.


(poeta angolano nascido faz hoje 92 anos)

terça-feira, setembro 27, 2016

Olhos Verdes

Olhos verdes da cor das verdes esmeraldas
e que cercados sois de olheiras de ametistas,
tendes nesse fulgor, a Esperança do Artista,
que da montanha azul ascende às brutas faldas!

E em meio deste mundo imundo e mau e egoísta,
cheio de intrigas, dolo e muitas outras baldas,
viveis num grande sonho, um sonho panteísta,
numa errante visão de flores e grinaldas.

Há em vós a atração dos profundos abismos,
a cuja borda os bons e maus conjuntos choram,
na música do amor em calma e cataclismos.

E a orquestração dos sons dos perdidos lamentos
desses que em vossa busca, ó pedras raras, foram
domando o mar, buscando o céu, vencendo os ventos.


(poeta paulista nascido faz hoje 119 anos)

segunda-feira, setembro 26, 2016

Armário

Eu queria, senhora, ser o seu armário
e guardar os seus tesouros como um corsário
Que coisa louca:
ser seu guarda-roupa!
Alguma coisa sólida, circunspecta e pesada
nessa sua vida tão estabanada.
Um amigo de lei
(de que madeira eu não sei)
Um sentinela do seu leito
com todo o respeito.
Ah, ter gavetinhas
para suas argolinhas
Ter um vão
para seu camisolão
e sentir o seu cheiro,
senhora, o dia inteiro
Meus nichos
como bichos
engoliriam suas meias-calças,
seus soutiens sem alças,
e tirariam nacos
dos seus casacos,
E no meu chão, como trufas,
as suas pantufas…
Seus echarpes, seus jeans,
seus longos e afins
Seus trastes
e contrastes.
Aquele vestido com asa
e aquele de andar em casa.
Um turbante antigo.
Um pulôver amigo.
Bonecas de pano.
Um brinco cigano.
Um chapéu de aba larga.
Um isqueiro sem carga.
Suéteres de lã
e um estranho astracã.
Ah, vê-la se vendo
no meu espelho, correndo.
Puxando, sem dores,
os meus puxadores.
Mexendo com o meu interior
à procura de um pregador.
Desarrumando meu ser
por um prêt-à-porter…
Ser o seu segredo,
senhora, e o seu medo.
E sufocar com agravantes
todos os seus amantes.


(Luís Fernando Veríssimo faz hoje 80 anos)
Silêncio
        
Na gruta do anoitecer,
         sou a flor acesa que habita
as nervuras do silêncio.
                                      Da sozinhez,
a estrutura
de silêncio & de sigilos.

Dos longes      trago o fascínio do luar
e o cetim das pétalas de rosas
para suavizar
                   os músculos da quietude.

Penetro janelas & oráculos,
         com o perfume da voz da noite.
E, em invisível pouso,

                            acendo o silêncio
com a força da paixão
de quem ouve o respirar da palavra,
e o da lucidez que ela me concede.

..... Sou a força acesa deste silêncio.


(poetisa mineira que hoje faz 76 anos)

domingo, setembro 25, 2016

nenhum amor escapa impune

deixa-me perguntar se te
pareço tão assustado assim. Não
me sinto deslocado, talvez curioso, mas
nem surpreso. algo em ti me puxa
sempre ao sentimento, mesmo antes de
te conhecer, lembras-te, uma propensão para
te tratar bem, cuidar, vulnerabilizar os meus
modos, recusar admitir que também eu sou
capaz de crueldades quotidianas e
impunes. queria conversar contigo
sobre o nelson, que foi ver as coisas a
arder fotografando a própria
pele. queria falar-te da isabel e de como
choramos juntos, muito maricas, quando
nos correm mal estes amores ou, pior, a
nossa amizade. esta noite sonhei contigo e
achei graça dizer-te que cheirava mal
na nossa cama. que me incomodou a luz a entrar
pela persiana por fechar. que ouvi com dor o
orgasmo da vizinha de baixo

queria que soubesses que também eu
poderia ter ardido para o nelson
fotografar. queria que soubesses que
também poderia parar de chorar pela
isabel. queria que soubesses que o faria
exclusivamente
para arruinar o meu coração, se fosse a
tua vontade e com isso te deixasse em
paz. faria qualquer coisa, ainda que
quisesse morrer a seguir, faria qualquer coisa que,
por um instante, te pusesse
a pensar em mim


(valter hugo mãe faz hoje 45 anos)

sábado, setembro 24, 2016

Mensagem livre - I

Não será da tarde
que farei meu poema.
Nem do sol
farei minha canção.
Do sal da terra,
argamassa, areia,
estrume e viola
farei com carinho
         poemas de amor.

Dos olhos de minha amada
e de tristezas
brotarão da terra
meus poemas e canções.

Cantarei na viola
existência do homem
que luta pelo seu dia,
         canta alegria
         e não espera por esperar.

Farei minha canção
do sal da terra
poemas de amor.


(poeta goiano que faz hoje 76 anos)

sexta-feira, setembro 23, 2016

Teu Corpo Principia

Dou-te
um nome de água
para que cresças no silêncio.

Invento a alegria
da terra que habito
porque nela moro.

Invento do meu nada
esta pergunta.
(Nesta hora, aqui.)

Descubro esse contrário
que em si mesmo se abre:
ou alegria ou morte.

Silêncio e sol - verdade,
respiração apenas.

Amor, eu sei que vives
num breve país.

Os olhos imagino
e o beijo na cintura,
ó tão delgada.

Se é milagre existires,
teus pés nas minhas palmas.

Ó maravilha, existo
no mundo dos teus olhos.

Ó vida perfumada
cantando devagar.

Enleio-me na clara
dança do teu andar.

Por uma água tão pura
vale a pena viver.

Um teu joelho diz-me
a indizível paz.


(António Ramos Rosa faleceu faz hoje 3 anos)
Para não Deixar de Amar-te Nunca

Saberás que não te amo e que te amo
pois que de dois modos é a vida,
a palavra é uma asa do silêncio,
o fogo tem a sua metade de frio.

Amo-te para começar a amar-te,
para recomeçar o infinito
e para não deixar de amar-te nunca:
por isso não te amo ainda.

Amo-te e não te amo como se tivesse
nas minhas mãos a chave da felicidade
e um incerto destino infeliz.

O meu amor tem duas vidas para amar-te.
Por isso te amo quando não te amo
e por isso te amo quando te amo.


(Pablo Neruda faleceu faz hoje 43 anos)

quinta-feira, setembro 22, 2016

Génese

Os búzios eram nas trevas
nas trevas brilharam olhos
os olhos rasgaram águas
as águas encheram ventres
os ventres criaram filhos
os filhos comeram terra
a terra deu logo bichas
as bichas pariram bichos
os bichos pejaram ruas
nas ruas nasceram casas
das casas saíram braços
os braços treparam muros
os muros prenderam bocas
as bocas disseram vozes
as vozes gritaram gritos
os gritos tornaram vozes
as vozes passaram muros
dos muros vieram braços
os braços ruíram casas
as casas fizeram ruas
nas ruas havia bichos
os bichos furaram terras
das terras surgiram filhos
os filhos só tinham ventres
os ventres traziam água
a água tapou os olhos
os olhos ficaram trevas

nas trevas cantaram búzios.


(poeta madeirense nascido a 22 de Setembro de 1925)

quarta-feira, setembro 21, 2016

Natureza morta

Estirado na valeta que há na estrada
jaz um homem.

Como o pobre está sorrindo
a gente tola que passa
cuida que ele está dormindo
e fala logo em cachaça.

Mas o homem já morreu.

De que morreu, não importa.
Tão pouco de que viveu.

É uma natureza morta.
Fazem-lhe quarto
tristonha quaresmeira toda em flor
e um grupinho multicor
de marias-sem-vergonha.

O homem, indiferente,
jogado à margem da estrada
já não pode ver mais nada
nem sente nada.

                              Morreu.

Mas me fez pensar na vida.


(poeta paulista falecido faz hoje 34 anos)

terça-feira, setembro 20, 2016

Sacrário

Ausência do corpo.
Amor absoluto.

Hosanas de Sol.
De chuva.
De areia.
E andorinhas
resvalando as asas
no consternado ombro cinzento
de uma nuvem.

E uma hérbia mantilha
teu sacrário
velando.


(poetisa moçambicana nascida a 20 de Setembro de 1926)

segunda-feira, setembro 19, 2016

Outra Margem

E com um búzio nos olhos claros
Vinham do cais, da outra margem
Vinham do campo e da cidade
Qual a canção? Qual a viagem?

Vinham p’rá escola. Que desejavam?
De face suja, iluminada?
Traziam sonhos e pesadelos.
Eram a noite e a madrugada.

Vinham sozinhos com o seu destino.
Ali chegavam. Ali estavam.
Eram já velhos? Eram meninos?
Vinham p’rá escola. O que esperavam?

Vinham de longe. Vinham sozinhos.
Lá da planície. Lá da cidade.
Das casas pobres. Dos bairros tristes.
Vinham p’rá escola: a novidade.

E com uma estrela na mão direita
E os olhos grandes e voz macia
Ali chegaram para aprender
O sonho a vida a poesia.


(escritora salaciense nascida a 19 de Setembro de 1935)

domingo, setembro 18, 2016


Luiz Goes faleceu faz hoje 4 anos
Quando eu morrer

Quando eu morrer em véspera tranqüila,
Num pôr-do-sol de goivos e saudade,
Da velha igreja, que a Madona asila,
O sino grande a soluçar Trindade;

Quando o tufão do mal que me aniquila
Soprar minh´alma para a Eternidade,
Todas as flores dos jardins da vila,
Certo, eu terei da tua caridade.

E, já na sombra amiga do cipreste,
Há de haver uma lágrima piedosa,
A edênica gota, a pérola celeste,

Para quem desfolhou, terno, e as mãos cheias,
O lírio, o bogari, o cravo e a rosa
Pelas estradas brancas das aldeias.


(poeta carioca falecido faz hoje 100 anos)

sábado, setembro 17, 2016

Antagonismo

Não quero essa fúria
que me impele
para o exercício do gesto,
nem esse gesto côncavo
que me torna
enfurecido.

Prefiro a mobilidade
de um inseto prisioneiro,
cujo desespero
transcende
a concha da mão
que o esmaga.


(poeta mineiro que hoje faz 69 anos)
Poema do Silêncio

Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angústia e de revolta.

Foi em meu nome que fiz,
A carvão, a sangue, a giz,
Sátiras e epigramas nas paredes
Que não vi serem necessárias e vós vedes.

Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
- Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!

Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razão das épi-trági-cómicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo...

O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. ânsias de Altura e Abismo,
Tinham raízes banalíssimas de egoísmo.

Que só por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tão humano!

Senhor meu Deus em que não creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.

Sofro, assim, pelo que sou,
Sofro por este chão que aos pés se me pegou,
Sofro por não poder fugir.
Sofro por ter prazer em me acusar e me exibir!

Senhor meu Deus em que não creio, porque és minha criação!
(Deus, para mim, sou eu chegado à perfeição...)
Senhor dá-me o poder de estar calado,
Quieto, maniatado, iluminado.

Se os gestos e as palavras que sonhei,
Nunca os usei nem usarei,
Se nada do que levo a efeito vale,
Que eu me não mova! que eu não fale!

Ah! também sei que, trabalhando só por mim,
Era por um de nós. E assim,
Neste meu vão assalto a nem sei que felicidade,
Lutava um homem pela humanidade.

Mas o meu sonho megalómano é maior
Do que a própria imensa dor
De compreender como é egoísta
A minha máxima conquista...

Senhor! que nunca mais meus versos ávidos e impuros
Me rasguem! e meus lábios cerrarão como dois muros,
E o meu Silêncio, como incenso, atingir-te-á,
E sobre mim de novo descerá...

Sim, descerá da tua mão compadecida,
Meu Deus em que não creio! e porá fim à minha vida.
E uma terra sem flor e uma pedra sem nome
Saciarão a minha fome.


(José Régio nasceu faz hoje 115 anos)

sexta-feira, setembro 16, 2016


Victor Jara foi assassinado pelos terroristas faz hoje 43 anos
Desnuda e exposta aos vendavais sem pejo

Árvore abandonada no caminho;
desnuda e exposta aos vendavais sem pejo,
não tenho sombras para o teu carinho,
não tenho frutos para o teu desejo.

Destroçou-me o infortúnio... Malfazejo
foi-me o destino, e pérfido, e mesquinho.
Guardei no seio o teu primeiro beijo:
tudo o mais se perdeu pelo caminho.

Por que buscas agora o amor desfeito?
- És sonho na minha alma, e sonho morto.
- Sou rosa em tuas mãos, e desfolhada.

Depois de tantos anos, no teu leito
tens apenas sobejos do meu corpo,
da minha alma, talvez, não tenhas nada...


(poeta mineiro falecido a 16 de Setembro de 1973)

quinta-feira, setembro 15, 2016

Canção da Escuta

O sonho na prateleira
me olha com seu ar
de boneco quebrado.

Passo diante dele muitas vezes
e sorrimos um para o outro,
cúmplices de nossos desastres cotidianos.

Mas quando o pego no colo
(como às bonecas tão antigamente)
para avaliar se tem conserto
ou se ficará para sempre como está,
sinto sem estranheza
que dentro dele ainda bate
um pequeno tambor obstinado
e marca - timidamente -
um doce ritmo nos meus passos.


(poetisa gaúcha que hoje faz 78 anos)

quarta-feira, setembro 14, 2016

Papel molhado

Com rios
com sangue
com chuva
ou orvalho
com sêmen
com vinho
com neve
com pranto
os poemas
costumam ser
papel molhado.


(poeta uruguaio nascido faz hoje 96 anos)

terça-feira, setembro 13, 2016

O FADO DO COVEIRO

Das artes mágicas campeão audaz
tira Marcelo da manga a outra faceta:
por su dama Lisboa, o Galaaz
faz à viela e ginga à lisboeta.

Calça à boca de sino de sino e cachené
ao marialva senil metendo inveja,
fidalgo edil que canta para a ralé
o faduncho finório gargareja.

Estremece Aníbal com o pardal fadista
que aquilo é treino para o último regalo:
escaqueirar o reinado cavaquista
e sobre a tumba, por fim, cantar de galo.


(Natália Correia nasceu faz hoje 93 anos)

segunda-feira, setembro 12, 2016

Teu olhar

Na folha em branco,
Palavras escritas,
Em vermelho sangue, ferida!

Na sepultura dos sonhos,
Enfrentando as lutas,
Deixo-me morrer
Frente a frente aos seus olhos,
Sem jamais te alcançar.

No azul das algas salgadas,
Nas tormentas e marés calmas,
Lá longe, castanho, severo,
Brilha o teu olhar!


(poetisa sul-mato-grossense que hoje faz 66 anos)

domingo, setembro 11, 2016


Peter Tosh foi assassinado faz hoje 29 anos
Evolução

Fui rocha em tempo, e fui no mundo antigo
tronco ou ramo na incógnita floresta...
Onda, espumei, quebrando-me na aresta
Do granito, antiquíssimo inimigo...

Rugi, fera talvez, buscando abrigo
Na caverna que ensombra urze e giesta;
O, monstro primitivo, ergui a testa
No limoso paúl, glauco pascigo...

Hoje sou homem, e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce, em espirais, da imensidade...

Interrogo o infinito e às vezes choro...
Mas estendendo as mãos no vácuo, adoro
E aspiro unicamente à liberdade.


(Antero de Quental faleceu a 11 de Setembro de 1891)

sábado, setembro 10, 2016

Subversiva

A poesia
Quando chega
Não respeita nada.

Nem pai nem mãe.
Quando ela chega
De qualquer de seus abismos

Desconhece o Estado e a Sociedade Civil
Infringe o Código de Águas
Relincha

Como puta
Nova
Em frente ao Palácio da Alvorada.

E só depois
Reconsidera: beija
Nos olhos os que ganham mal
Embala no colo
Os que têm sede de felicidade
E de justiça.

E promete incendiar o país.


(poeta maranhense que hoje faz 86 anos)

sexta-feira, setembro 09, 2016

Um dia branco

Dai-me um dia branco, um mar de beladona
Um movimento
Inteiro, unido, adormecido
Como um só momento.

Eu quero caminhar como quem dorme
Entre países sem nome que flutuam.

Imagens tão mudas
Que ao olhá-las me pareça
Que fechei os olhos.

Um dia em que se possa não saber. 

quinta-feira, setembro 08, 2016

Grito da Dúvida

Há na minha alma este tormento imenso:
Um céu de estrelas todo pontilhado
Para onde quer subir meu sonho ousado,
Galgando a altura em espirais de incenso.

Foge-me a estrela que eu, alucinado,
Tento prender. E, em prantos, me convenço
Do impossível, o olhar ao céu suspenso;
Mãos erguidas, o rosto transtornado...

Ó tu que a minha vida tantalizas
Com promessas vazias, imprecisas,
Fugidias, perdidas, abstratas.

Na mais rude tragédia entre as mais rudes,
Se não me amas, por que tu me iludes?
Se tu me iludes, por que não me matas?...


(poeta baiano nascido faz hoje 104 anos