O MAR VISTO
DA CADEIA
O mar é
largo
E profundo.
Tão largo e
profundo,
Que cabe
todo inteiro
E amargo, no
fundo
Do simples
olhar que lhe deito...
Estendido e
liso,
Refeito como
um ventre de mulher
Apetecido
sem aviso,
Já teve
sereias e monstros,
Ossos a
apodrecer,
Para ser,
agora,
De um
qualquer...
Desencanto a
apodrecer-
-me o canto,
nesta hora?
- Só se for
nas areias
Onde morre
monótono,
E nas
marés-cheias
De tanto
luar e espanto
Na memória...
Já o tive
Insatisfeito,
Na cova da
mão,
No búzio dos
ouvidos,
E no sonho
que ainda vive
De uma doce
ilusão...
Inventei-lhe
Desaparecidos
ecos,
Talvez
reinos perdidos,
Tesouros,
conchas,
Algas e
palácios
Encantados
de mouros...
Depois ficou
só mar
Vulgar,
indigesto,
Azul, verde,
prateado,
«Grande ...
grande ... »,
Com o resto
afogado
No coração...
Chegou então
a hora
Do mar
lúcido
Sem papão,
Apreendido,
Económico,
Assassino,
embora,
Mas também
elo de ligação
(poeta
angolano que hoje faria 81 anos)
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