quarta-feira, abril 09, 2014

Convite à Viagem

Minha doce irmã
Que bom que será
Irmos os dois de viagem!
Irmos os dois viver,
Amar e morrer
Num país à tua imagem!
Os sóis molhados
Nos céus nublados
Têm para mim o encanto
Tão misterioso
Do olhar enganoso,
Que brilha no teu pranto.

Lá onde a calma, o luxo e a beleza
E a volúpia se sentam à nossa mesa.

Móveis já velhos
Polidos como espelhos
Decorarão nosso lar;
As mais belas flores
Misturarão os odores
Ao vago aroma do âmbar,
Lustres cintilantes,
Espelhos distantes,
O esplendor oriental
Hão-de falar
À alma em segredo
A sua língua natal.

Lá onde a calma, o luxo e a beleza
E a volúpia se sentam à nossa mesa.

Vês além no rio
Dormir um navio
De humor vagabundo;
Foi para saciar,
O que possas desejar,
Que veio do fim do mundo.
- À tarde acontece
Que o vale em redor,
O rio, toda a cidade
São jacinto e oiro;
O mundo adormece
Numa quente claridade.

Lá onde a calma, o luxo e a beleza
E a volúpia se sentam à nossa mesa.


(Charles Baudelaire nasceu a 9 de Abril 1821)

Tradução de Fernando Pinto do Amaral

1 comentário:

São disse...

Embora ache que a poesia perde sempre nem que seja a melhor das traduções e, por isso, prefiro as edições bilingues...gostei do poema.

Gosto de Dulce Pontes , mas há muito tempo que não se ouve falar dela.

É sempre o mesmo em Portugal: descobre.se uma pessoa e aparece em tudo quanto é sítio , até ao enjoo...depois é posta de lado e até parece que nunca existiu!

Boa tarde