O Homem que
Contempla
Vejo que as
tempestades vêm aí
pelas
árvores que, à medida que os dias se tomam mornos,
batem nas
minhas janelas assustadas
e ouço as
distâncias dizerem coisas
que não sei
suportar sem um amigo,
que não
posso amar sem uma irmã.
E a
tempestade rodopia, e transforma tudo,
atravessa a
floresta e o tempo
e tudo
parece sem idade:
a paisagem,
como um verso do saltério,
é pujança,
ardor, eternidade.
Que pequeno
é aquilo contra que lutamos,
como é
imenso, o que contra nós luta;
se nos
deixássemos, como fazem as coisas,
assaltar
assim pela grande tempestade, —
chegaríamos
longe e seríamos anónimos.
Triunfamos
sobre o que é Pequeno
e o próprio
êxito torna-nos pequenos.
Nem o Eterno
nem o Extraordinário
serão
derrotados por nós.
Este é o
anjo que aparecia
aos
lutadores do Antigo Testamento:
quando os
nervos dos seus adversários
na luta
ficavam tensos e como metal,
sentia-os
ele debaixo dos seus dedos
como cordas
tocando profundas melodias.
Aquele que
venceu este anjo
que tantas
vezes renunciou à luta,
esse caminha
erecto, justificado,
e sai grande
daquela dura mão
que, como se
o esculpisse, se estreitou à sua volta.
Os triunfos
já não o tentam.
O seu
crescimento é: ser o profundamente vencido
por algo
cada vez maior.
(poeta
alemão nascido a 4 de Dezembro de 1875)
Tradução de
Maria João Costa Pereira
1 comentário:
Grande Rilke, sempre actual - eterno!
E as tempestades aqui estão, duras, violentas...
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