Liberdade
Nos meus
cadernos escolares
Na minha
carteira e nas árvores
Na areia e
na neve
Escrevo o
teu nome
Em todas as
páginas lidas
Em todas as
páginas brancas
Pedra sangue
papel ou cinza
Escrevo o
teu nome
Nas imagens
douradas
Nas armas
dos guerreiros
Na coroa dos
reis
Escrevo o
teu nome
Na selva e
no deserto
Nos ninhos
nas giestas
No eco da
minha infância
Escrevo o
teu nome
Nas
maravilhas nocturnas
No pão
branco dos dias
Nas estações
desposadas
Escrevo o
teu nome
Em todos os
meus trapos de azul
No charco
sol bolorento
No lago de
lua viva
Escrevo o
teu nome
Nos campos
no horizonte
Nas asas dos
pássaros
E no moinho
das sombras
Escrevo o
teu nome
Em cada bafo
da aurora
No mar nos
navios
Na montanha
demente
Escrevo o
teu nome
Nas formas
cintilantes
Nos sinos
das cores
Na verdade
física
Escrevo o
teu nome
Nos atalhos
despertos
Nas estradas
abertas
Nas praças
que extravasam
Escrevo o
teu nome
No candeeiro
que se acende
No candeeiro
que se apaga
Nas minhas
casas reunidas
Escrevo o
teu nome
No fruto
cortado em dois
Do espelho e
do meu quarto
No meu leito
concha vazia
Escrevo o
teu nome
No meu cão
guloso e meigo
Nas suas
orelhas erguidas
Na sua pata
desajeitada
Escrevo o
teu nome
No trampolim
da minha porta
Nos objectos
familiares
No jorro do
fogo abençoado
Escrevo o
teu nome
Em toda a
carne concedida
Na fronte
dos meus amigos
Em cada mão
que se estende
Escrevo o
teu nome
No vidro das
surpresas
Nos lábios
aplicados
Bem por cima
do silêncio
Escrevo o
teu nome
Nas
ausências sem desejo
Na nua
solidão
Nos degraus
da morte
Escrevo o
teu nome
Na saúde
regressada
No risco
desaparecido
Na esperança
sem memória
Escrevo o
teu nome
E pelo poder
d’uma palavra
Recomeço a
minha vida
Nasci para
te conhecer
Para te
nomear
Liberdade
(poeta da
Resistência francesa, nascido a 14 de Dezembro de 1895)
Tradução de
Egito Gonçalves
1 comentário:
O poema da minha vida.
Obrigado
Abraço
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