A morte de
calar
As viagens
que sou prenderam-se em redomas
Ao corpo das
palavras. À morte de calar.
Do alfabeto
meu ignoro as cristalinas
Formas de
aladas letras nestes versos finais.
São
fantasmas de sol. São fantasmas de sede
Que chegam
alta noite para nenhum lugar.
Decifro nas
entranhas das trevas migradoras
O solstício
da vida além da morte clara.
Mas quem me
vem cegar, com setas voadoras
Nega-me
agora a paz das secretas paisagens.
Meus Irmãos
de astronaves, guiadas por um morto,
Que me
esperam e estão, que me cantam e falam.
Que na vazia
Cruz crucificam meu corpo
E abandonam
a flor, mesmo a meio da sala.
À janela
rasgada, para as cinzentas águas,
Encostam-me,
sem olhos, e deixam-me ficar.
Não tenho
nada mais a escrever sobre as ondas.
E mesmo que
tivesse, ninguém leria o mar.
Natércia Freire
(poetisa
benaventense nascida a 28 de Outubro de 1920)
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