Uma criança
interrompida
Esta criança
é uma lâmpada que assustada
se apagou.
Nem mapas nem paisagens já
nada a
espanta; nada a pode já espantar -
o mundo
conhece-o pequeno: é uma prisão
tão apertada
ao corpo que lhe tolhe os desejos
e o riso, os
jogos e a invenção.
O seu poço,
os ecos que nele teriam
brilhando, o
labirinto fragrante dos tecidos,
dos arcos e
das portas casa após casa
são agora
ruínas sobre ruínas, escombros
que já
caiadas salas e quartos foram, ruas
fendidas sob
o céu estéril dos assassinos.
Esta criança
tem nas costas tatuada a origem
que se cola
ao seu futuro, empurrando-a
para lá,
para o destino destinado - de onde vens tu?
- venho de
lá e vou para lá. - Não tem origem
que lhe dê
p'ra muito mais que uma morte
repetida que
cala os lugares e apaga as vozes.
No cinema
que ondula a negro entre o seu crânio
e a abertura
solar dos olhos - é sempre a catástrofe
um desastre
que regressa. Os bárbaros desta vez
vieram
numerosos e diversos mas nem sequer
eram parte
da solução. Não eram parte de nada
apenas iam e
vinham do outro lado deste lado.
É difícil
mas supõe que esta criança terá conhecido
uma glória
um tempo: Andava de bicicleta
numa
paisagem de palha; com os seus se batia
em alta
grita. Apedrejava pássaros, cães e soldados.
Agora só uma
pequena víbora se deita com ela
no sono e no
sonho a morde e a interrompe.
Esta criança
é breve.
(poeta eborense
que hoje faz 67 anos)
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