Quero
escrever
Quero
escrever
o borrão
vermelho de
sangue
Quero
escrever o
borrão vermelho de sangue
com as gotas
e coágulos pingando
de dentro
para dentro.
Quero
escrever amarelo-ouro
com raios de
translucidez.
Que não me
entendam
pouco-se-me-dá.
Nada tenho a
perder.
Jogo tudo na
violência
que sempre
me povoou,
o grito
áspero e agudo e prolongado,
o grito que
eu,
por falso
respeito humano,
não dei.
Mas aqui vai
o meu berro
me rasgando
as profundas entranhas
de onde
brota o estertor ambicionado.
Quero
abarcar o mundo
com o
terremoto causado pelo grito.
O clímax de
minha vida será a morte.
Quero
escrever noções
sem o uso
abusivo da palavra.
Só me resta
ficar nua:
nada tenho
mais a perder.
(poetisa
brasileira falecida faz hoje 35 anos)
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