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segunda-feira, dezembro 31, 2012

E para entrar em 2013…

… a companhia de um Charles Mignon Brut Blanc de Blancs  que adquiri antes  da sanha açambarcadora do vitinho da mirra.
Façam o favor de ser felizes

Para as amigas e amigos que se têm dado ao trabalho de me visitar


Todos os Caminhos me Servem

Todos os caminhos me servem.
Em todos serei o ébrio
cabeceando nas esquinas.
Uma rua deserta e o hálito
das pessoas que se escondem,
uma rua deserta e um rafeiro
por companheiro.

Ó mar que me sacode os cabelos
que mulher alguma beijou,
lágrimas que os meus olhos vertem
no suor dos lagares,
que uma onda vos misture
e vos leve a morrer
numa praia ignorada.

Fernando Namora

domingo, dezembro 30, 2012

A SÓS COM ESTES CORPOS

Governos utopias
Cresce a grama
Entre os trilhos
As palavras apodrecem
No papel
Os olhos das mulheres
Ficam frios
Adeus amanhã
STATUS QUO


(escritor alemão falecido faz hoje 17 anos)

Tradução de Ricardo Domeneck

sábado, dezembro 29, 2012

Pablo Casals nasceu a 29 de Dezembro de 1876
Que as lágrimas levantem vôo

agora mesmo
és
um cisne.
os teus lagos são jardins do Nada
há pássaros infinitos à revelia e
cultivas laranjas em varandas
de fogo                                   
secretos vasos
desço então pelas tuas asas
de lágrimas:
de
neve
e
ouro
depois nada mais faço
que as lágrimas levantem vôo
da tua
infinita   
face


(poetisa coimbrã que hoje faz 67 anos)

sexta-feira, dezembro 28, 2012

Pelo Dever

Pelo dever

de resistir e caminhar
pelos destroços da nossa utopia,
eis-nos aqui de novo, acocorados,
aqui onde o tempo pára
e as coisas mudam.

E para que o nosso sonho renasça

com a levitação do vento e do grão,
eis-nos aqui de novo,
passivos como os espelhos,
no tear da nossa existência.

Este sempre será

O nosso amanhecer.
E a nossa perseverança
é como a da erva daninha
que lentamente desponta na pedra nua.


(poeta moçambicano que hoje faz 50 anos)

quinta-feira, dezembro 27, 2012

Indefinição

pois assim é a poesia:
esta chama tão distante mas tão perto
de estar fria


(poeta brasileiro falecido faz hoje 25 anos)
MORRER SIM (MAS DEVAGAR?)

O morto quando se esforça é uma arte em si.
Não queria exércitos e relâmpagos e lâminas
para expulsar a morte? Ao menos bombardear
a coutada das viúvas? As suas piscinas poderosas?
Mas a morte é a única coisa que se herda.
Por trás de cada um entre as pausas do choro
desabrocham os primeiros breves sorrisos. Não
há morto que escape a rirmo-nos dentro dele.
Morrer é uma forma de se ser outra vez notícia.
Por trás de cada morto erguem-se de súbito
décadas de rostos esquecidos. Cada morte pode
alterar os ares e os rios. Sobretudo a palavra
com que é dita. De que valeria ser poeta num
tempo destes? Cantar uma mulher deitada
a abrir-se? O morto existe. Comecei a dar-lhe nomes:
árvore de cinzas ou flor evaporada tanto faz.
O olfacto e o ouvido detinham-se inquietos
mobilizados noutras fronteiras e a minha
mente traduzia: é o aroma da terra
o sabor da maçã o estrépito dos autocarros.


(poeta amarantino nascido a 27 de Dezembro de 1923)

quarta-feira, dezembro 26, 2012

Filho da puta

I
O pequeno filho-da-puta
é sempre
um pequeno filho-da-puta;
mas não há filho-da-puta,
por pequeno que seja,
que não tenha
a sua própria
grandeza,
diz o pequeno filho-da-puta.

no entanto, há
filhos-da-puta que nascem
grandes e filhos-da-puta
que nascem pequenos,
diz o pequeno filho-da-puta.
de resto,
os filhos-da-puta
não se medem aos
palmos, diz ainda
o pequeno filho-da-puta.

o pequeno
filho-da-puta
tem uma pequena
visão das coisas
e mostra em
tudo quanto faz
e diz
que é mesmo
o pequeno
filho-da-puta.

no entanto,
o pequeno filho-da-puta
tem orgulho
em ser
o pequeno filho-da-puta.
todos os grandes
filhos-da-puta
são reproduções em
ponto grande
do pequeno
filho-da-puta,
diz o pequeno filho-da-puta.

dentro do
pequeno filho-da-puta
estão em ideia
todos os grandes filhos-da-puta,
diz o
pequeno filho-da-puta.
tudo o que é mau
para o pequeno
é mau
para o grande filho-da-puta,
diz o pequeno filho-da-puta.

o pequeno filho-da-puta
foi concebido
pelo pequeno senhor
à sua imagem
e semelhança,
diz o pequeno filho-da-puta.

é o pequeno filho-da-puta
que dá ao grande
tudo aquilo de que
ele precisa
para ser o grande filho-da-puta,
diz o
pequeno filho-da-puta.
de resto,
o pequeno filho-da-puta vê
com bons olhos
o engrandecimento
do grande filho-da-puta:
o pequeno filho-da-puta
o pequeno senhor
Sujeito Serviçal
Simples Sobejo
ou seja,
o pequeno filho-da-puta.

II
o grande filho-da-puta
também em certos casos começa
por ser
um pequeno filho-da-puta,
e não há filho-da-puta,
por pequeno que seja,
que não possa
vir a ser
um grande filho-da-puta,
diz o grande filho-da-puta.

no entanto,
há filhos-da-puta
que já nascem grandes
e filhos-da-puta
que nascem pequenos,
diz o grande filho-da-puta.

de resto,
os filhos-da-puta
não se medem aos
palmos, diz ainda
o grande filho-da-puta.

o grande filho-da-puta
tem uma grande
visão das coisas
e mostra em
tudo quanto faz
e diz
que é mesmo
o grande filho-da-puta.

por isso
o grande filho-da-puta
tem orgulho em ser
o grande filho-da-puta.

todos
os pequenos filhos-da-puta
são reproduções em
ponto pequeno
do grande filho-da-puta,
diz o grande filho-da-puta.
dentro do
grande filho-da-puta
estão em ideia
todos os
pequenos filhos-da-puta,
diz o
grande filho-da-puta.

tudo o que é bom
para o grande
não pode
deixar de ser igualmente bom
para os pequenos filhos-da-puta,
diz
o grande filho-da-puta.

o grande filho-da-puta
foi concebido
pelo grande senhor
à sua imagem e
semelhança,
diz o grande filho-da-puta.

é o grande filho-da-puta
que dá ao pequeno
tudo aquilo de que ele
precisa para ser
o pequeno filho-da-puta,
diz o
grande filho-da-puta.
de resto,
o grande filho-da-puta
vê com bons olhos
a multiplicação
do pequeno filho-da-puta:
o grande filho-da-puta
o grande senhor
Santo e Senha
Símbolo Supremo
ou seja,
o grande filho-da-puta.


(poeta portuense que hoje faz 75 anos)

terça-feira, dezembro 25, 2012

Dia de Natal

Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.

É dia de pensar nos outros – coitadinhos - nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.

De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)

Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.

A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra - louvado seja o Senhor! - o que nunca tinha pensado comprar.

Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.

Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha,
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.

Ah!!!!!!!!!!

Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.

Jesus
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.

Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.

Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.

Dia de Confraternização Universal,
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.

António Gedeão

segunda-feira, dezembro 24, 2012

Vida

um ano a mais
um ano a menos
que diferença faz
quando já somos
mais ou menos
mais suaves
mais sábios
mais fortes
mais justos
e de mais a mais
cromossomos

um ano a mais
um ano a menos
a vida é cais
e lá vão nossos sonhos:
barcos pequenos

um ano a mais
um ano a menos
lendo os sinais
nos esquecemos
e quando nos lembramos
é tarde demais

um ano amais
outro odiais
um ano demais
outro de menos
um ano tanto fez
outro tanto faz
um ano como nunca houve outro
um ano sem pagar e só levando o troco

um ano que vem
um ano que vai
e os mesmos ais
mais amenos


(poeta paranaense que hoje faz 62 anos)

domingo, dezembro 23, 2012


PARA
TODOS OS AMIGOS DA BLOGOSFERA
UMAS


Agapantos

Quem desce a avenida até à
praia nos canteiros entre os

prédios nos recantos mais
sombrios do meu cérebro

por todo o lado explodem
os agapantos… É como se fosse

um fogo-de-artifício rente
ao chão como se inteiros

os dias te explodissem na mão


(poeta vila-verdense que hoje faz 55 anos)
Carta ao Pai Natal

querido pai natal isto de querido é mais um pró-forma que aqui pelo sul europeu soalheiro e calaceiro como dizem os teus conterrâneos novos finlandeses que são mais cretinos do que uma mula sem cabeça tudo o que cheira a norte europeu de uma pseudomoral protestante luterana não é lá muito bem visto porque nós não gostamos de ser olhados de cima com arrogância lá consegui encontrar uma badana de um tal relatório da merkolândia  a pôr-nos pelas ruas da amargura e como o toco do lápis se acabou no ano passado tenho de escrever com o sangue do sabugo das unhas é um bocado doloroso mas não quero deixar de dizer-te que a ângela mamalhuda apesar de ter vindo cá ao rectângulo fazer uma mija de seis horas porque nós somos pobres mas asseados e as nossas retretes mesmo as dos aeroportos que para já ainda são nossos são muito mais limpas do que as da alemanha dizia eu apesar da mija da “frau” isto por aqui ainda não é um dos “lands” dela mas quase pois os portugueses continuam cada vez mais emborgeados encavacados encoelhados engasparados emportados enrelvados aguiarbrancados emiguelomacedados alvarados enlambretados encristados encratados teixeiracruzados empaulomacedados que  isto é uma dor d’alma nem queiras saber para a televisão pública mandaram um fabricante de cervejas para nos alumiar entregaram a energia aos chineses para vermos televisão temos de pagar aos angolanos agora querem oferecer a nossa tieipi ao um gajo judaico-polaco-colombiano-boliviano-brasileiro ainda não sabemos a quem vão dar a o mar as praias os rios as ruas os cemitérios a merda dos cães e dos gatos as as etares os esgotos  e tudo o mais de que um país do sétimo mundo como o rectângulo não precisa para viver  mas isto vai dar guerra ai vai vai e penso que no próximo ano se calhar já cá não estamos porque  apesar de o anunciado fim do mundo ter enchido os bolsos a uma data de vendedores de crendices e aproveitadores das falsas profecias por cá também houve alguns os esforços que a mamalhuda está a fazer para acabar com a europa são capazes de ter os resultados desejados pelos teus amigos verdadeiros finlandeses e isto acabar numa ditadura sob a pata alemã que o adolfo não conseguiu pelas armas mas a sucessora quer alcançar pelo estrafegamento económico este ano não te vou pedir nada porque as duas renas leiteiras que me enviaste o ano passado acedendo ao meu pedido foram confiscadas pelo vitinho que lhes secou as tetas comeu a carne escabichou os ossos e pendurou-lhes os cornos na sacada que dá para a antiga garagem estrela agora transformada  em lugar de lazer para os que vivem à conta do orçamento se houver natal em 2013 tentarei contactar-te da forma que puder até lá adeus.

sábado, dezembro 22, 2012

Joe Strummer faleceu faz hoje 10 anos
Canto na noite

Na noite escura, de um luar partido,
eu mudo o horizonte a cada passo,
eu cambaleio, caio, e me refaço
ao som de um canto lindo, sem saber
que o canto me envolveu em firme laço,
o canto me mostrou o meu viver.

Na noite escura, agora, eu ouço o canto,
adormecendo ao som de doce voz.
Na noite escura, junto a mim, no entanto,
ainda não te encontro.


(poeta pernambucano que hoje faz 65 anos)

sexta-feira, dezembro 21, 2012

Contagem Final :)))

Ladytron - Destroy Everything You Touch

Nine Inch Nails - The Day The World Went Away

R.E.M. - It's The End Of The World

Muse - Supermassive Black Hole

Europe - The Final Countdown

Eu já não choro

Eu já não choro
excepto por aquilo que algum dia
me fez chorar:
os aviões que proclamavam
que tudo tinha terminado;
a estação amarela diluída na noite
na qual coincidiam, somente por uns instantes,
o comboio que partia para o norte
e o que partia para o oeste
e que jamais voltariam a encontrar-se;
e a voz de Juan Rulfo: “diz-lhes que não me matem”;
e a malaguenha canária;
e a menina de Lisboa
que me pediu um “beijinho”.

Eu já não choro.
Nem sequer quando recordo
o que ainda me falta chorar.


(poeta madrileno falecido faz hoje 10 anos)

quinta-feira, dezembro 20, 2012

Dá-me as Tuas Mãos

As mãos foram feitas
para trazer o futuro,
encurtar a tristeza, encher
o que fica das mãos
de ontem - intervalos
(duros, fiéis) das palavras,
vocação urgente
da ternura, pensamento
entreaberto até
aos dedos longos
pelas coisas fora
pelos anos dentro.


(poeta português nascido em Lourenço Marques a 20 de Dezembro de 1927 e falecido em Espanha em 1975, de acidente de viação)

quarta-feira, dezembro 19, 2012

Phil Ochs nasceu faz hoje 72 anos
Outro Testamento

Quando eu morrer deitem-me nu à cova
Como uma libra ou uma raiz,
Dêem a minha roupa a uma mulher nova
Para o amante que a não quis.

Façam coisas bonitas por minha alma:
Espalhem moedas, rosas, figos.
Dando-me terra dura e calma,
Cortem as unhas aos meus amigos.

Quando eu morrer mandem embora os lírios:
Vou nu, não quero que me vejam
Assim puro e conciso entre círios vergados.
As rosas sim; estão acostumadas
A bem cair no que desejam:
Sejam as rosas toleradas.
Mas não me levem os cravos ásperos e quentes
Que minha Mulher me trouxe:
Ficam para o seu cabelo de viúva,
Ali, em vez da minha mão;
Ali, naquela cara doce...
Ficam para irritar a turba
E eu existir, para analfabetos, nessa correcta irritação.

Quando eu morrer e for chegando ao cemitério,
Acima da rampa,
Mandem um coveiro sério
Verificar, campa por campa
(Mas é batendo devagarinho
Só três pancadas em cada tampa,
E um só coveiro seguro chega),
Se os mortos têm licor de ausência
(Como nas pipas de uma adega
Se bate o tampo, a ver o vinho):
Se os mortos têm licor de ausência
Para bebermos de cova a cova,
Naturalmente, como quem prova
Da lavra da própria paciência.

Quando eu morrer. . .
Eu morro lá!
Faço-me morto aqui, nu nas minhas palavras,
Pois quando me comovo até o osso é sonoro.

Minha casa de sons com o morador na lua,
Esqueleto que deixo em linhas trabalhado:
Minha morte civil será uma cena de rua;
Palavras, terras onde moro,
Nunca vos deixarei.

Mas quando eu morrer, só por geometria,
Largando a vertical, ferida do ar,
Façam, à portuguesa, uma alegria para todos;
Distraiam as mulheres, que poderiam chorar;
Dêem vinho, beijos, flores, figos a rodos,
E levem-me - só horizonte - para o mar.


(Vitorino Nemésio nasceu faz hoje 111 anos)

terça-feira, dezembro 18, 2012

Canto Tercero

Astronauta,
A mil millas del mundo que los hombres crearan
Para nunca conducir,
Algo conoces de esta tierra
Y algo olvidas,
Algo conoces de las aguas,
Y relatas solitario a tus espacios:
En Atlántida, cuando se hunde océano
Brillan oxidadas las máscaras de los esclavos.
Piensa ahora que te anudas a las tardes
Con el limo en los ojos.
Piensa, con un niño en el pómulo celeste:
A la vuelta está el viento,
El paisaje deleznable de las nieves.
No temas nunca el mar
Que también tiembla.
No juzgues la carrera del Sol
Coronado por los zorros.
Suelta tus manos en los vuelos ajados del alambre:
En la última esquina del tiempo,
Mendigando en retorno, condenado,
Hallarás las mil fases de lo eterno.


(poeta peruano que hoje faria 71 anos)

segunda-feira, dezembro 17, 2012

Raio de luz

Se a única realidade é o passado,
onde está a criança que nasci,
o jovem que usou meu cérebro para sonhar,
o homem que fui ontem, hoje de manhã,
há apenas um segundo?
Só estiveram, amaram, riram ou choraram,
num pedaço qualquer do tempo,
mas lá não estão mais.
E se a certeza é o futuro,
quem será e onde estará
o homem, que serei daqui a instantes,
amanhã de manhã, até mais não sei quando?
Tal e qual o menino do passado,
também não consigo encontrá-lo.
Ambos não morreram,
mas nenhum existe.
Somos, na realidade,
uma infinidade de seres diferentes,
a cada avanço milimétrico do tempo,
revelando o ser confuso,
mágico, incompreensível,
que somos no momento.
Na velocidade incomensurável da luz,
a terra desloca-se no universo,
atrelada à galáxia.
E você, que leu este poema até o fim,
já está a milhões de quilômetros do princípio,
e não é a mesma pessoa que alguém viu ou conheceu.


(escritor gaúcho que hoje faz 77 anos de idade)

domingo, dezembro 16, 2012

O que sou

Sou pedra e flor
Ave e pensamento
Riso de criança
Chamas e vulcão
Vento do mar largo
Canto do Poeta
Morte nos ciprestes…

Sou a Voz do Silêncio!...


(poetisa cabo-verdiana nascida faz hoje 85 anos)