Raio de luz
Se a única
realidade é o passado,
onde está a
criança que nasci,
o jovem que
usou meu cérebro para sonhar,
o homem que
fui ontem, hoje de manhã,
há apenas um
segundo?
Só
estiveram, amaram, riram ou choraram,
num pedaço
qualquer do tempo,
mas lá não
estão mais.
E se a
certeza é o futuro,
quem será e
onde estará
o homem, que
serei daqui a instantes,
amanhã de
manhã, até mais não sei quando?
Tal e qual o
menino do passado,
também não
consigo encontrá-lo.
Ambos não
morreram,
mas nenhum
existe.
Somos, na
realidade,
uma
infinidade de seres diferentes,
a cada
avanço milimétrico do tempo,
revelando o
ser confuso,
mágico,
incompreensível,
que somos no
momento.
Na
velocidade incomensurável da luz,
a terra
desloca-se no universo,
atrelada à
galáxia.
E você, que
leu este poema até o fim,
já está a
milhões de quilômetros do princípio,
e não é a
mesma pessoa que alguém viu ou conheceu.
(escritor
gaúcho que hoje faz 77 anos de idade)
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