Philip Glass nasceu a 31 de Janeiro de 1937
How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
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terça-feira, janeiro 31, 2012
Balada de Sempre
Espero a tua vinda
a tua vinda,
em dia de lua cheia.
Debruço-me sobre a noite
a ver a lua a crescer, a crescer...
Espero o momento da chegada
com os cansaços e os ardores de todas as chegadas...
Rasgarás nuvens de ruas densas,
Alagarás vielas de bêbados transformadores.
Saltarás ribeiros, mares, relevos...
- A tua alma não morre
aos medos e às sombras! -
Mas...,
Enquanto deixo a janela aberta
para entrares,
o mar,
aí além,
sempre duvidoso,
desenha interrogações na areia molhada...
(Fernando Namora faleceu a 31 de Janeiro de 1989)
segunda-feira, janeiro 30, 2012
Passam hoje 40 anos sobre o Domingo Sangrento, nome com que ficou conhecido o massacre perpetrado pela tropa inglesa sobre pacíficos cidadãos da Irlanda do Norte que se manifestavam a favor dos direitos cívicos. Para que não se esqueça, os U2 escreveram esta canção, lançada no álbum War, de 1983.
CINQUENTENÁRIO
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Trago os olhos naufragados
em poentes cor de sangue...
Trago os braços embrulhados
numa palma bela e dura
e nos lábios a secura
dos anseios retalhados...
Enroladas nos quadris
cobras mansas que não mordem
tecem serenos abraços...
E nas mãos, presas com fitas
azagaias de brinquedo
vão-se fazendo em pedaços...
Só nos olhos naufragados
estes poentes de sangue...
Só na carne rija e quente,
este desejo de vida!...
Donde venho, ninguém sabe
e nem eu sei...
Para onde vou
diz a lei
tatuada no meu corpo...
E quando os pés abram sendas
e os braços se risquem cruzes,
quando nos olhos parados
que trazem naufragados
se entornarem novas luzes...
Ah! Quem souber,
há-de ver
que eu trago a lei
no meu corpo...
(poetisa angolana falecida a 30 de Janeiro de 1962)
domingo, janeiro 29, 2012
Notícias num jornal
"Morre mais um brasileiro"
A notícia não é muito esclarecedora
Pode ser mais um típico investidor da bolsa,
de colapso por conta das cotações
Ou uma vítima que perdeu a bolsa
na saída de alguma estação?
Quem sabe esse cidadão era alguém importante?
Com foto na coluna social e coisa e tal?
Ou talvez apenas um transeunte ou meliante,
que já desfilou nas paredes de delegacias
ou na capa de algum jornal?
Pode ser de cirrose por excesso de carnaval
Ou trombose na fila da segurança social...
Talvez de desgosto após mais um emprego perdido
Ou por causa de um reboco do seu barraco caído
De stress causado pela cachorrinha fifi
Ou de inanição mesmo antes de aprender a sorrir
Muitos são os motivos da fatalidade em questão
Temos os que morrem por excessos, outros por omissão
Será que o cidadão em causa
Morreu de causa imprópria?
Deixou saldo devedor da casa própria?
Estava cadastrado do SPC?
Ou era mais um invisível que ninguém vê?
Que passa por essa vida
Cresce, estuda, trabalha, se casa e se endivida
Sem entender muito bem essa engrenagem
É moído por ela e nem reclama, é bobagem...
José Benício
(poeta carioca)
sábado, janeiro 28, 2012
QUANDO FORES VELHA
Quando fores velha, grisalha, vencida pelo sono,
Dormitando junto à lareira, toma este livro,
Lê-o devagar, e sonha com o doce olhar
Que outrora tiveram teus olhos, e com as suas sombras profundas;
Muitos amaram os momentos de teu alegre encanto,
Muitos amaram essa beleza com falso ou sincero amor,
Mas apenas um homem amou tua alma peregrina,
E amou as mágoas do teu rosto que mudava;
Inclinada sobre o ferro incandescente,
Murmura, com alguma tristeza, como o Amor te abandonou
E em largos passos galgou as montanhas
Escondendo o rosto numa imensidão de estrelas.
(poeta irlandês falecido a 28 de Janeiro de 1939)
sexta-feira, janeiro 27, 2012
quinta-feira, janeiro 26, 2012
quarta-feira, janeiro 25, 2012
Soneto à Liberdade
Primeiro tu virás, depois a tarde
com terras, mares, algas, vento, peixes.
trarás, no ventre, a marca das idades
e a inquietude dos pássaros libertos.
virás para o enorme do silêncio
- flor boiando na órbita das águas -
tu não verás o fúnebre das horas
nem o canto final do sol poente.
primeiro tu virás, depois a tarde
sem desejos e amor. virás sozinha
como o nome saudade. virás única.
eu não terei a posse do teu corpo
nem me batizarei na tua essência,
mas tu virás primeiro e eu morro livre.
(poeta cabo-verdiano falecido a 25 de Janeiro de 2005)
terça-feira, janeiro 24, 2012
Poeta
Deixa cair todo este orvalho puro
sobre os teus ombros doloridos.
Vê como é suave a terra:
mesmo nos galhos mais bruscos,
olha: há carícias amigas.
Tudo é mais coração, porque és mais coração.
Orvalho... Orvalho... Parece
que em tua vida alguma cousa amadurece.
Deixa cair, deixa rolar teu poema
como um fruto maduro, pelo chão.
(poeta gaúcho nascido a 24 de Janeiro de 1902)
segunda-feira, janeiro 23, 2012
domingo, janeiro 22, 2012
sábado, janeiro 21, 2012
Vinha de noite o medo
Vinha de noite o medo, às horas mortas,
quando os cães só ladravam aos intrusos
e os homens se levavam dessas portas
que o fascismo rasgava com os seus usos.
Vinha de noite a infâmia, pela calada,
calando um povo triste, extenuado,
marcando com as grilhetas o seu fado...
até que a flor sorriu, de madrugada.
Vê como já nos rodam nos caixilhos
as portas que se irmanam das batentes
e tu, pobre país, premeias gentes
mas amordaças os teus próprios filhos.
Um rasgo todo à altura da parede;
a isto a minha porta se compara,
que o cravo do meu canto é manhã clara...
e a liberdade nunca é fome, ou sede.
(poeta algarvio nascido a 21 de Janeiro de 1959)
sexta-feira, janeiro 20, 2012
O Cálice
Poema dedicado à minha irmã (a segunda de oito) , falecida ontem em França aos 78 anos de idade
De coração estilhaçado a razão do cérebro comanda
pode ser um buraco que vigilante e armado
defende até à morte a trincheira conquistada
no azul lunar do céu na longínqua dança das ondas
quase adormecerá… os neurónios realinham
ninguém o engana tanto, amordaça seu desejo
como a razão que o cega
Do abstracto tece a cortina ao corpo frio suado
à língua seca… e haverá sempre novo dia e outro
a máscara tem-na colada ao rosto
jogos de palavras e neurónios seu ofício
Desgraçada da que lhe viu o rosto, lhe lê os olhos
conhece brechas na trincheira - instante eterno partida
(nunca servirá dois cálices à lareira sabendo-a só
e se a campainha tocar atenta na chuva na janela
duas três vezes e decide ser ilusão do vinho forte
do cansaço vento, com o tempo quiçá da idade)
e há um corpo que agoniza sem o sangue
do vinho que ele em cálice solitário derrama
gritando pela urgência do amor na vida
quando o teme mais que à própria morte…
(Maria José Lascas Fernandes nasceu em Montemor-o-Novo a 20 de Janeiro de 1962)
quinta-feira, janeiro 19, 2012
Apocalipse
Quando passa o tempo, as coisas
retornam aos elementos. E as cria-
turas. Para a transformação
final. Mas nem o fim
permanece. O cardume dos lagos
que morre embranquecido
por fim é de água. Os boquilobos
multicolores na beira das áleas
caem na terra e são terra.
(Fiama Hasse Pais Brandão faleceu a 19 de Janeiro de 2007)
Urgentemente
É urgente o amor
É urgente um barco no mar
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos, muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
(José Fontinhas Rato nasceu a 19 de Janeiro der 1923)
quarta-feira, janeiro 18, 2012
A Cortiça
É preciso dizer-se o que acontece
no meu país de sal
há gente que arrefece que arrefece
de sol a sol
de mal a mal.
É preciso dizer-se o que acontece
no meu país de sal.
Passando o Tejo para além da ponte
que não nos liga a nada
só se vê horizonte
horizonte
e tristeza queimada.
É preciso dizer-se o que se passa
no meu país de treva:
uma fome tão grande que trespassa
o ventre de quem a leva.
É preciso dizer-se o que se passa
no meu país de treva:
mal finda a noite escurece logo o dia
e uma espessa energia
feita de pus no sangue
de lama na barriga
nasce da terra exangue e inimiga.
É o vapor da sede é o calor do medo
a cama do ganhão
a casca do sobredo.
É o suor com pão
que se come em segredo.
É preciso dizer-se o que nos dão
no meu país de boa lavra
aonde um homem morre como um cão
à míngua de palavra:
Por cada tronco desnudado um lado
do nosso orgulho ferido
e por cada sobreiro despojado
um homem esfomeado e mal parido.
Ah, não, filhos da mãe!
Ah, não, filhos da terra!
Os enjeitados também vão à guerra.
(Ary dos Santos faleceu a 18 de Janeiro de 1984)
Nota: mantive o alinhamento que consta do volume "Vinte anos de poesia", de 1984 - Círculo de Leitores
Conquista
Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.
Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!
(Miguel Torga faleceu a 17 de Janeiro de 1995)
segunda-feira, janeiro 16, 2012
domingo, janeiro 15, 2012
Ícaro no Labirinto
Então você quis provar o absinto
das noites verdes do néon
e se embriagar de lírios e pássaros
até tocar com a língua
o infinito brilho das estrelas?
Você quis cair do alto
sem se ferir durante o vôo?
E desejou a flor do ópio
atravessando as longas avenidas da madrugada
como um vento quente nas cortinas?
Você quis sorver o sangue espesso do tempo
para poder sentir no fundo dos olhos,
no labirinto das veias, a fúria das esquinas?
Tentou sonhar com máquinas magníficas
que não triturassem seus miolos?
Você quis provar o espesso vinho tinto aéreo da Mulher-Sereia?
Quis aparecer nos espelhos dos olhos de água-viva da Medusa?
Teve calafrios debaixo dos lençóis?
Mergulhou na tempestade
com a palavra de fogo tatuada na testa?
Então você quis cantar a canção
do anjo negro e dissolver na dura claridade?
Quis ouvir a melodia dos abismos?
Provar o doce canibalismo das borboletas?
Você quis voar rumo ao sol com asas de cera
e, no entanto, tudo que sobrou foi essa Monalisa sarcástica,
com seu sorriso de escárnio, no inevitável dia seguinte.
Jorge Mendes
(poeta brasileiro)
sábado, janeiro 14, 2012
Anoitecer
Homem, cantava eu como um pássaro
ao amanhecer. Em plena unanimidade
de um mundo só.
Como, porém, viver num mundo onde todas as coisas
tivessem um só nome?
Então, inventei as palavras.
E as palavras pousaram gorjeando sobre o rosto
dos objetos.
A realidade, assim, ficou com tantos rostos
quantas são as palavras.
E quando eu queria exprimir a tristeza e a alegria
as palavras pousavam em mim, obedientes
ao meu menor aceno lírico.
Agora devo ficar mudo.
Só sou sincero quando estou em silêncio.
Pois, só quando estou em silêncio
elas pousam em mim - as palavras -
como um bando de pássaros numa árvore
ao anoitecer.
(poeta brasileiro falecido a 14 de Janeiro de 1974)
sexta-feira, janeiro 13, 2012
quinta-feira, janeiro 12, 2012
Lágrima
A cada hora
o frio
que o sangue leva ao coração
nos gela como o rio
do tempo aos derradeiros glaciares
quando a espuma dos mares
se transformar em pedra.
Ah no deserto
do próprio céu gelado
pudesses tu suster ao menos na descida
uma estrela qualquer
e ao seu calor fundir a neve que bastasse
à lágrima pedida
pela nossa morte.
Carlos de Oliveira
Poema dedicado ao meu irmão, falecido há 1 ano
Não sou eu quem o diz
Não sou eu quem o diz!
Mas este corpo estranho pulsa em mim
como um coração, não meu, mas de alguém
composto de outras fibras, outras carnes
que não estas humanas. Quem me obriga
será antes a dor, que, incrusta
em meu ser, já se não distingue da
composição escassa de meu corpo,
veículo insolúvel que a transporta,
Anjo ou dor ou enfim força alheia ao
arbítrio da vontade, nem sequer
válida no restrito território
que sou, a mim me impinges a palavra:
impõe-se o canto à boca que o articula.
(escritor paulista falecido a 12 de Janeiro de 2007)
quarta-feira, janeiro 11, 2012
bisédimo
perseguem-te os cães de ninguém
e por trás da tua cabeça rebenta a luz
que lhes devora a reles pelagem - com um dardo
abre a ferida do ouro que carregas à cintura
tudo se mantém obscuro na orla das dunas
as mulheres crescem por dentro das miragens
mostram os seios
descem à fontes turvas do oásis
dormem
envoltas na poeira e na baba dos dromedários
durante a noite um chacal ronda o limite
das imagens - uiva dentro da pele
deixando pegadas na chamejante madrugada
levanta os olhos e a voz - abre a boca
solta a praga de gafanhotos acidulados pela geada
dos verdes dos azuis das antracites e sorri
ao fechares o pequeno livro da abissínia
quem anunciará aos vindouros destas paragens
o esplendor do lume por cima da floresta de bisédimo?
(Alberto Raposo Pidwell Tavares nasceu em Coimbra a 11 de Janeiro de 1948
Verbo Crackar*
Eu empobreço de repente
Tu enriqueces por minha causa
Ele azula para o sertão
Nós entramos em concordata
Vós protestais por preferência
Eles escafedem a massa
Sê pirata
Sede trouxas
Abrindo o pala
Pessoal sarado.
Oxalá eu tivesse sabido que esse verbo era irregular.
(* verbo inventado, baseado no crack da Bolsa de Nova York em 1929)
(poeta paulista nascido a 11 de Janeiro de 1890)
terça-feira, janeiro 10, 2012
CUME
É a hora da tarde, essa que põe
seu sangue nas montanhas.
E nesta hora alguém está sofrendo;
uma perde, angustiada,
bem neste entardecer o único peito
contra o qual se estreitava.
Há algum coração em que o poente
Mergulha aquele cume ensanguentado.
O vale já sombreia
e se enche de calma.
Mas, lá do fundo, vê que se incendeia
de rubor a montanha.
A esta hora ponho-me a cantar
minha eterna canção atribulada.
Sou eu que estou batendo
o cume de escarlate?
Ponho em meu coração a mão e o sinto
a verter quando bate.
(poetisa chilena falecida a 10 de Janeiro de 1957)
Tradução de Ruth Sylvia de Miranda Salles
segunda-feira, janeiro 09, 2012
Questão de pontuação
Todo mundo aceita que ao homem
cabe pontuar a própria vida:
que viva em ponto de exclamação
(dizem: tem alma dionisíaca);
viva em ponto de interrogação
(foi filosofia, ora é poesia);
viva equilibrando-se entre vírgulas
e sem pontuação (na política):
o homem só não aceita do homem
que use a só pontuação fatal:
que use, na frase que ele vive
o inevitável ponto final.
(João Cabral de Melo Neto nasceu a 9 de Janeiro de 1920)
domingo, janeiro 08, 2012
A Angústia
Nada em ti me comove, Natureza, nem
Faustos das madrugadas, nem campos fecundos,
Nem pastorais do Sul, com o seu eco tão rubro,
A solene dolência dos poentes, além.
Eu rio-me da Arte, do Homem, das canções,
Da poesia, dos templos e das espirais
Lançadas para o céu vazio plas catedrais.
Vejo com os mesmos olhos os maus e os bons.
Não creio em Deus, abjuro e renego qualquer
Pensamento, e nem posso ouvir sequer falar
Dessa velha ironia a que chamam Amor.
Já farta de existir, com medo de morrer,
Como um brigue perdido entre as ondas do mar,
A minha alma persegue um naufrágio maior.
(poeta francês falecido a 8 de Janeiro de 1896)
Tradução de Fernando Pinto do Amaral
sábado, janeiro 07, 2012
A Máquina das Noites
Os temas regulares em mim
avançam, não posso
dar-me nesta voz. Um retrato
pintado por cima vem
situar o risco do tempo.
Daqui se vê o mundo
passando o seu destino
numa fita, alguns números
e rasuras, o sofrimento
não é o que pensam.
A parreira horizontal
fez no cimento a sombra
de um deus e um mote
no salão parou a música.
Passagem de modelos
nesta história o brilho
intermitente, a voz.
Procura um pouco mais
nesta vontade
a seca explicação.
Helder Moura Pereira
(poeta setubalense nascido a 7 de Janeiro de 1949)
sexta-feira, janeiro 06, 2012
Caixa
Quanto maior é a caixa, mais leva.
As caixas vazias levam tanto como as cabeças vazias.
Muitas caixinhas vazias que se deitam numa grande caixa vazia,
enchem-na toda.
Uma caixa meio-vazia diz: “Ponham-me mais.”
Uma caixa bastante grande pode conter o mundo.
Os elefantes precisam de grandes caixas para guardar uma dúzia de
lenços de assoar para elefantes.
As pulgas dobram os seus lencinhos e arrumam-nos com cuidado
em caixas de lenços para pulgas.
Os sacos encostam-se uns aos outros e as caixas levantam-se
independentes.
As caixas são quadradas e têm cantos, ou então são redondas
e têm círculos.
Pode empilhar-se caixa sobre caixa até que tudo venha abaixo.
Empilhe caixa sobre caixa, e a caixa do fundo dirá: “Queira notar que tudo repousa sobre mim.”
Empilhe caixa sobre mim, e a que está em cima perguntará: “É capaz de me dizer qual de nós cai para mais longe quando caímos todas?”
As pessoas-caixas vão à procura de caixas e as pessoas-sacos à procura de sacos.
(poeta estado-unidense nascido a 6 de Janeiro de 1878)
Tradução de Alexandre O'Neill
quinta-feira, janeiro 05, 2012
Mar Alto
Esta água é todas as águas,
sem porto, nome ou naufrágio.
Rendada de espuma ao vento,
sem dor nem contentamento.
Esta água - lugar nenhum -
é perdição sem loucura.
Nela se dissolvem mágoa,
memória, tempo, aventura.
Sem lei nem rei, sem fronteiras,
além de verbo e silêncio,
esta é a pátria procurada:
incêndio de tudo - nada.
(poeta mineiro nascido a 5 de Janeiro de 1924)
quarta-feira, janeiro 04, 2012
Manhã à Janela
Há um tinir de louças de café
Nas cozinhas que os porões abrigam,
E ao longo das bordas pisoteadas da rua
Penso nas almas úmidas das domésticas
Brotando melancólicas nos portões das áreas de serviço.
As ondas castanhas da neblina me arremessam
Retorcidas faces do fundo da rua,
E arrancam de uma passante com saias enlameadas
Um sorriso sem destino que no ar vacila
E se dissipa rente ao nível dos telhados.
(T.S.Eliot faleceu a 4 de Janeiro de 1965)
Tradução: Ivan Junqueira
Passos passo a passo
DECLARAÇÕES DE PASSOS COELHO ANTES DE SER ELEITO:
"Vamos ter de cortar em gorduras e de poupar. O Estado vai ter de fazer austeridade, basta de aplicá-la só aos cidadãos."
"Ninguém nos verá impor sacrifícios aos que mais precisam. Os que têm mais terão que ajudar os que têm menos."
"Queremos transferir parte dos sacrifícios que se exigem às famílias e às empresas para o Estado."
"O Governo está-se a refugiar em desculpas para não dizer como é que tenciona concretizar a baixa da TSU com que se comprometeu no memorando."
"Para salvaguardar a coesão social prefiro onerar escalões mais elevados de IRS de modo a desonerar a classe média e baixa."
"Se vier a ser necessário algum ajustamento fiscal, será canalizado para o consumo e não para o rendimento das pessoas."
"Se formos Governo, posso garantir que não será necessário despedir pessoas nem cortar mais salários para sanear o sistema português."
"A ideia que se foi gerando de que o PSD vai aumentar o IVA não tem fundamento."
"A pior coisa é ter um Governo fraco. Um Governo mais forte imporá menos sacrifícios aos contribuintes e aos cidadãos."
"Não aceitaremos chantagens de estabilidade, não aceitamos o clima emocional de que quem não está caladinho não é patriota"
"O PSD chumbou o PEC 4 porque tem de se dizer basta: a austeridade não pode incidir sempre no aumento de impostos e no corte de rendimento."