segunda-feira, julho 05, 2010

A eira e a piscina


















No local onde se encontra esta piscina existiu uma eira onde eu brinquei, aos Domingos, até aos 10 anos, na quinta de que os meus pais foram rendeiros explorados durante quase três décadas, pagando anualmente dois carros de milho (cada carro correspondia a 40 rasas e cada rasa a 13 quilos), dois terços da azeitona e dois terços das uvas colhidas, tudo colocado na casa do dono, a mais de uma hora e meia de viagem com o carro de bois, sendo que todas as despesas do ciclo do milho, da apanha da azeitona e do tratamento da vinha, desde a poda até à vindima, eram da conta dos rendeiros.

Depois de sairmos de lá em 1960, o patrão, um “respeitável” chefe das finanças, violonista amador e chefe de quina da Legião Portuguesa, nunca mais encontrou ninguém disponível para uma semi-escravidão para poder alimentar oito filhos e a quinta esteve mais de 30 anos ao completo abandono, até que o seu filho mais novo – um ano mais velho do que eu – conseguiu subsídios da União Europeia para recuperar a casa e transformá-la numa unidade de Turismo de Habitação, que fica a menos de um quilómetro da casa da minha irmã onde estou a redigir esta posta à sombra da parreira.

Ficou um coisa simpática para recordar a infância, embora com o travo amargo da exploração a que a que toda a minha família foi submetida. Podem vir passar cá uns dias, que isto é um sossego.

4 comentários:

José Ferreira Marques disse...

Milho, azeitona, uvas...Onde é que isso fica?
Beira (Viseu), Ribatejo, Beira litoral?

jrd disse...

O que esconde o chão de água que agora reflecte o azul.
Bom descanso.
Abraço

O Puma disse...

As voltas que a vida dá

no outro lado do silêncio

Abraço

Mónica disse...

o país mudou como a piscina: o trabalho explorado transformou-se em caras piscinas para 2 ou 3, e qdo quisermos comer..bebemos a água da piscina.