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quinta-feira, abril 30, 2009

A canditata Eleonora Gaggioli, a actriz que parece ser uma das favoritas do Caimão para as Europeias.
Javier Ortiz Os que o conheceram bem, e ao seu trabalho, dizem que era um mestre do jornalismo e dos princípios, um jornalista que nunca claudicou, um panfletista incansável. Morreu anteontem, ao 61 anos, de paragem respiratória, esgotado de tanto trabalhar e pregar no deserto. Por cá, apesar de tão próximos, não me parece que fosse muito conhecido, arreigados que estamos ao velho preconceito que “de Espanha nem bom vento nem bom casamento”. Que descanse em paz

quarta-feira, abril 29, 2009

100 dias Barack Obama cumpre hoje o seu centésimo dia como Presidente dos Estados Unidos e nestes três meses e dez dias muitas coisas mudaram, embora alguns achem que tudo ficou na mesma. Para mim, que nunca coloquei a fasquia demasiado alta porque sei que há conceitos na Europa e na América Latina de que os estado-unidenses têm medo (socialismo é um deles, nacionalização é outro), não tem sido uma desilusão. Houve mudanças de fôlego na política externa: no trato com a União Europeia, nas relações com a América Latina - Lula foi o primeiro presidente a visitar a Casa Branca e houve um bom relacionamento com todos os dirigentes que participaram na Cimeira da América - , no estender de mãos ao Irão, no diálogo com a Rússia, no levantamento das restrições relativas a viagens, remessas e envio de algumas mercadorias para Cuba, na contenção relativamente ao apoio incondicional a Israel. Para mim, que não pretendo ser analista político, as situações mais difíceis serão mesmo as duas últimas. Para levantar o incompreensível embargo a Cuba necessita do apoio das duas Câmaras do Congresso e ainda não dispõe dos 60 Senadores necessários para impedir o boicote da minoria; mas está prestes a consegui-lo, pois o Senador Republicano da Pensilvânia, Arlen Specter, mudou ontem de campo, cansado da linha cada vez mais conservadora do seu partido, e o Democrata (e humorista) Al Franken já foi declarado por três vezes vencedor no Minesota em Novembro de 2008, faltando apenas a confirmação do Supremo Tribunal do Estado. No que concerne a Israel (a que está estreitamente ligado o relacionamento com o Irão), o lóbi israelita é muito poderoso e Hillary Clinton tem dado uma no cravo e outra na ferradura, mas há sinais de que os Estados Unidos estão mesmo apostados na política dos dois Estados. Fica por saber o que fazer com os atoleiros do Afeganistão e do Paquistão. A nível de política interna, decidiu fechar Guantánamo e fazer julgar os presos em tribunais dignos desse nome, apresentou um orçamento virado para aspectos sociais (saúde, educação, diminuição de impostos para as pessoas de rendimentos médios e baixos, infra-estruturas), reverteu a decisão de Bush sobre o financiamento da investigação em células estaminais embrionárias, conseguiu aprovar um pacote de estímulos considerado bastante positivo, revelou os memorandos acerca da autorização da tortura como meio de obtenção de informações, reconheceu a responsabilidade dos Estados Unidos na guerra das drogas. É duvidoso que a atitude para com os bancos seja a mais adequada, terá de ter pulso forte para conseguir uma regulação efectiva dos mercados financeiros, a Comissão de Investigação para apurar (e punir) os responsáveis pelas torturas parece que vai avançar, mesmo contra a sua vontade, tem de fazer frente à toda poderosa RNA. No que respeita ao ambiente, foram reconhecidos os problemas das alterações climáticas, a EPA mudou radicalmente de atitude e as energias renováveis tornaram-se uma prioridade. Dos vários balanços que me pude ler, destaco a coluna do Times da autoria da politicamente incorrecta Arianna Huffington, criadora e editora do Blogue (mais jornal digital) The Huffington Post , e o editorial do The New Iork Times.

terça-feira, abril 28, 2009

Misérias Ele se partiu Em tantos Não deixou evidências De existência Uma fissura no vento Reverteu a tempestade iminente Os campos minados da alma Refletiram misérias temporais Dos lábios famintos O beijo arrancado em raiz Quebrou o sentido do mundo Cida Sepúlveda* *poetisa brasileira

segunda-feira, abril 27, 2009

Santo, santo, santo… Depois de um Domingo dedicado ao novo santo, com três horas de transmissão em directo na televisão pública (e parece que também na TVI), mais meia hora no Jornal da Tarde, quinze minutos no Telejornal e os encómios de Cavaco Silva, foi hoje a vez de o sacristão mor opinar sobre o Condestável, terminando o seu arrazoado com estas palavras: “S. Nuno de Santa Maria foi sempre um homem radicalmente livre. Esta santa liberdade é aquilo que mais precisamos na crise dos 35 anos da nossa democracia”. Eu sei pelos livros de História que Nuno Álvares Pereira travou acérrimos combates contra os inimigos castelhanos para manter a independência cá do rectângulo, mas não sei se era santo ou não. O que realmente acho é que se cá voltasse e, não havendo razão para guerrear castelhanos, perguntasse a Deus contra quem é que devia lutar, ouviria, certamente: “vai, Nuno, parte as Portas todas e luta pelo teu povo trabalhador contra Césares e Cavacos, Leites e Durões, Lopes e Rangeis e mais uns tantos Rosas que, além de terem vendido o país ao estrangeiro, desconhecem os meus mandamentos, principalmente o segundo, dado estarem sempre a invocar o meu nome em vão”.

domingo, abril 26, 2009

EXTRAVIO Devia a vida ser só isso, O vinho, o pão, o som da chama. Sapos no tanque. O olhar mortiço Do mocho. O luar crivando a cama. Mãos de mulher cerrando a fresta Onde entra, como a morte, a bruma. Mas nos perdemos na floresta Onde não há árvore nenhuma Alexei Bueno Feliz aniversário, Alexei
A ameaça Na cidade do México, um casal beija-se através das máscaras de protecção contra a gripe suína, que já matou 80 pessoas no país e terá atingido os Estados Unidos e a Nova Zelândia. Imagem: Alfredo Estrella/AFP/Getty Images

sábado, abril 25, 2009

Liberdade Nomear-te, Liberdade, É logo ser mais livre. Armindo Rodrigues (in O Poeta Perguntador - Editorial Caminho – 1979)

sexta-feira, abril 24, 2009

Reflexões do dia Das minhas leituras de hoje tenho de realçar duas colunas de opinião do Jornal de Negócios que, como é habitual nos autores, têm como objectivo outro tipo de “negócios”. A primeira é do artista plástico Leonel Moura e realça a atitude da Câmara Municipal de Viana do Castelo, capital do distrito onde nasci, que decidiu acabar com as touradas na cidade. Como era de esperar, o PSD, que gosta muito de “touradas”, votou contra. Mas a praça de touros, adquirida pela autarquia, vai deixar de ser palco de lides de touros para ser um museu de ciência viva. A segunda é do escritor e jornalista Baptista Bastos e debruça-se sobre os protagonismos do 25 de Abril e a adulteração de que a Revolução dos Cravos tem sido alvo.
OS PASSOS NA NOITE Ouve, querida, na noite angustiada, sem portas mas perfeita como um ovo, como soa e ressoa a martelada de cada passo do povo. Ouve, na noite descarnada e enxuta, o som que sobe, vertical e inteiro. Ouve, querida, até às lágrimas, escuta o oceano prisioneiro. Noite implacável, arrepiada de vultos como versos que mordem o papel em que crianças, com gestos de adultos, enchem de grãos de areia a nossa pele. Noite aos quadrados, grades de gaiola, cada quadrado fecha uma canção, era aos quadrados no tempo da escola, continua aos quadrados desde então. Mas para lá dos barrancos, das ciladas, para lá do engano e o desengano cada pancada assobia madrugadas cada pancada tem um som humano. Compassados os passos, contra o vento, escalam a noite descarnada e enxuta. Viris, soam, ressoam no cimento, ouve, querida, até ás lágrimas, escuta. Sidónio Muralha (in Poemas de Abril - Prelo Editora – 1974)

quinta-feira, abril 23, 2009

O Eça e dona Pulquéria Agora que já assentou a poeira levantada pela alegada existência de um “manuel de bem vestir” para as candidatas às funções de atendimento na Loja do Cidadão de Faro e pensando ter percebido que o única intenção da dona Maria Pulquéria Lúcio era chamar a atenção das candidatas para as ligeiras diferenças entre esticar as pernas nas areias da praia e ajudar a ultrapassar as burocracias a que os cidadãos são obrigados - só não percebi aquele veto às cuecas e sutiãs pretos - não quero deixar de aqui denunciar a gritante iliteracia de muitos dos críticos da dona Pulquéria. Na verdade, vi-a ser tratada como se fosse aquela dona da educação lá do norte, que é bem mais nova, muito mais gorda e sem a fineza da AMA mor. A começar pelo nome, já que Moreira (ou mureira), por muito desgostosos que fiquem aqueles que com ele carregam, significa, de acordo com o Aurélio, monte de esterco, enquanto Pulquéria deriva do latim pulchra, o adjectivo latino para bela, bonita, formosa, gentil. Para quem tiver dúvidas, basta verificar que o superlativo absoluto sintético de pulcra é pulcríssima ou pulquérrima. Mas não se ficam por aqui os contrastes entre as duas personagens. Segundo alguns ofícios da Moreira tornados públicos, ela é Directora Regional da Educação mas não sabe escrever. Já a Administradora da AMA se revelou uma queirosiana da mais fina estirpe, tão conhecedora da obra do grande Eça que até descobriu e adaptou uma das crónicas que ele escreveu no ano de 1867, no Distrito de Évora, jornal criado e dirigido pelo José Maria no curto período que passou na cidade alentejana, quando tinha apenas 21 anos de idade; senão, vejam: O Vestuário Influencia o Pensamento Nada influencia mais profundamente o sentir do homem do que a fatiota que o cobre. O mais ríspido profeta, se enverga uma casaca e ata ao pescoço um laço branco, tende logo a sentir os encantos dos decotes e da valsa; e o mais extraviado mundano, dentro de uma robe de chambre, sente apetites de serão doméstico e de carinhos ao fogão. Maior ainda se afirma a influência do vestuário sobre o pensar. Não é possível conceber um sistema filosófico com os pés entalados em escarpins de baile, e um jaquetão de veludo preto forrado a cetim azul leva inevitavelmente a ideias conservadoras. Eça de Queirós, in 'Distrito de Évora' Claro que Eça não podia escrever sobre mini-saias e roupa interior preta, já que no seu tempo aquilo que os homens ambicionavam ver - fora das alcovas, naturalmente - era o tornozelo da dama quando ela descia da caleche. Mas tal facto apenas realça o arrojo da dona Pulquéria ao adaptar para o século XXI aquilo que ele escreveu há 150 anos.

quarta-feira, abril 22, 2009

Parvoíces em directo Sempre que regresso a casa a tempo, enquanto trato aqui do besidróglio vou ouvindo o Portugal em Directo na RTP1, com reportagens de vários pontos do País. É um programa com coisas interessantes mas, de quando em vez, ouvem-se umas barbaridades de bradar aos céus. Ontem, por exemplo, um jornalista muito conhecedor disse que o Che Guevara era natural de Cuba mas tinha fortes ligações à Argentina, enquanto uma jornalista mais jovem confundiu vinho branco com vinho verde, como se não houvesse verdes tintos de se lhe tirar o chapéu e brancos maduros de fazer saltar a tampa. E a Dina Aguiar, que coordena no estúdio com um ar cada vez mais enfatuado, tudo deixa passar em claro. Santa ignorância!

terça-feira, abril 21, 2009

Chamar os bois pelos nomes William Kurt Black é um académico e autor estado-unidense, especialista, entre outras coisas, em crimes de colarinho branco, finanças públicas e regulação das actividades financeiras. Era regulador do sistema bancário quando, em finais da década de 1980 e princípios da de 1990 se deu a crise S&L, na qual faliram mais de 700 Associações de Poupanças e Empréstimos. Fez parte desta crise o escândalo político conhecido como Keating Five, no qual 5 Senadores, incluindo John McCain, foram acusados de corrupção. William Kurt Black sabe, portanto, do que fala. Democrata e apoiante do Presidente Obama, decidiu pôr a boca no trombone. No passado dia 3 de Abril resolveu aceitar o convite de Bill Moyers para dar uma entrevista ao Bill Moyers Journal, da PBS, na qual fez declarações assombrosas, afirmando que a actual crise é, no fundo, um enorme Esquema Ponzi, que os "empréstimos mentirosos" e outros artifícios financeiros eram, essencialmente, fraudes ilegais e que as notações AAA dadas àqueles empréstimos faziam parte de uma cobertura criminosa. Muito mais disse o experiente académico, nomeadamente sobre o Secretário do Tesouro Timothy Geithner, mas o melhor é ouvi-lo ou ler a transcrição da sua entrevista, significativamente intitulada “A melhor maneira de roubar um banco é ser dono de um”, nome de um livro do entrevistado. Fica-se a saber (quase) tudo sobre a origem da crise.

segunda-feira, abril 20, 2009

Sessenta e nove? Acabei de ouvir que o governo, para além de encaminhar os casais com problemas de infertilidade para clínicas privadas, vai aumentar a comparticipação dos medicamentos para tratamento da mesma de 67 por cento para 69, nas palavras da Ministra da Saúde. Congratulo-me, naturalmente, com o facto de os casais inférteis verem acrescidas as suas possibilidades de terem filhos. Mas financiar “sessenta e noves”? Então isso não é um método mais do que seguro de evitar a gravidez? Ou sou eu que estou desactualizado?
Lute Lute, pois qualquer que seja o resultado você tirará proveito. Lute, Se ganhar, não esqueça de olhar com bons olhos os que ainda estão lutando. Lute, Se perder, aproveite para avaliar sua resistência. Tome fôlego, levante e volte à luta. Lute. Chico Poeta* *poeta brasileiro

domingo, abril 19, 2009

Vicissitudes da vida Era minha intenção homenagear um dos dois intelectuais brilhantes de língua portuguesa cujos aniversários natalícios hoje se celebram - a grande Lygia Fagundes Telles, prémio Camões de 2005, felizmente ainda entre nós, ou o enorme Manuel Bandeira, nascido há 123 anos. Mas opto por me referir à estória de solidão e desprezo sofridos de uma mulher, cujo talento oculto apenas se revelou aos 47 anos de idade, perante os ouvidos incrédulos e as faces perplexas do júri e da assistência de um concurso de novos talentos, faces essas que há apenas uns instantes faziam trejeitos de impaciência carregados de desdém. Já quase tudo foi dito sobre Susan Boyle, a senhora escocesa vítima de um parto complicado que lhe provocou dificuldades de aprendizagem, que sempre foi tratada como atrasada mental, que nunca recebeu um beijo de um homem, cuja única companhia, após a morte da mãe, era o seu gato velho de 10 anos e que se transformou num fenómeno global de uma dita sociedade da informação tão capaz de incensar os seus heróis momentâneos como de enterrá-los no momento seguinte. Eu não percebo nada de qualidade vocal, mas acho extraordinário que ninguém, incluindo os agora orgulhosos vizinhos, tenha antes reparado naquela voz, autêntico diamante em bruto escondido por detrás de uma face banal. Mas é bom saber que, fora do apetite devorador dos media, uma cantora da qualidade e estatuto da Elaine Paige, precisamente o grande ídolo da Susan, decididiu sugerir a possibilidade de cantaram em dueto.

sábado, abril 18, 2009

Da esquina da rua Da esquina da rua chegam vozes absortas. Da esquina da rua pessoas brincam de artistas. Da esquina da rua homens sonham com direitos iguais. Da esquina da rua uma linda menina tenta beijar a lua. Da esquina da rua cachorros ladram para um vulto que passa. Da esquina da rua um carro derrapa feito cavalo de lote. Da esquina da rua a poesia sazona o tempo. Da esquina da rua eu e minhas vontades esperamos o tempo passar. Chico Miranda* *poeta brasielro

sexta-feira, abril 17, 2009

Imaginação ao poder A empresa alemã Doc Morris Pharmacies começou a fazer uma hilariante campanha publicitária aos seus preservativos, a qual pretende fazer passar o conceito “use preservativo e assegure-se de que não vai trazer ao mundo o próximo Osama bin Laden, Adolfo Hitler ou Mao Tze-Tung”. Cada anúncio, elaborado pela Grey, apresenta um conjunto de espermatozóides, entre os quais sobressai um que se parece com Hitler, bin Laden ou Mao e uma mensagem nada subtil: “É melhor cobri-lo... a menos que queira introduzir o mal no mundo”. Embora as imagens possam ser vistas aqui em tamanho gigante, não resisto a afixá-las.

quinta-feira, abril 16, 2009

O Errante Por um erro me fiz errante, Mais errante que o erro do errado Mil tropeços no meu passado, Os infernantes constando Dos meus retalhos. Sem dúvida, com mágoas Meu sorriso pichado. Ó triste dor tão infinita: Não me inflame agora Não me deixe ser um errante, O mesmo que ontem amava Nas curvas de um delirante. Um errado errante, Um facínora Um desamante. Tantos sonhos refeitos, Tantos tombos levados... Viver numa clausura com incúria Tamanha fera, qual a rua desabitada. Nos degraus de uma ponte pitoresca? Na esquina de um velho sobrado?... Não importa É um errado, Um errante de sonhos mutilados Pelo poder da censura César William* *poeta brasileiro

quarta-feira, abril 15, 2009

Bizarrias A notícia é tão bizarra que, para além da generalidade dos tablóides, do Pravda e de uma revista de ciência, até o jornal humorístico inglês Anorak se lhe referiu. Ao cidadão russo Artyom Sidorkin, de 28 anos, foi diagnosticado um cancro quando começou a sentir insuportáveis dores no peito e a tossir sangue. Ao submeterem-no a uma intervenção cirúrgica para remoção do tumor, os médicos verificaram, estupefactos, que se tratava de um abeto a crescer dentro do pulmão, já com o tamanho de 5 centímetros. Os médicos pensam que o homem inalou uma semente que acabou por germinar e o paciente ficou todo satisfeito porque, afinal, não tinha cancro.

terça-feira, abril 14, 2009

Centenário Numa manhã rutilante que vem perto, quando findar a noite ilegal que nos ensombra – tu e eles virão, aos ombros dos velhos lutadores, para o templo dos heróis. Bandeiras vermelhas como o sangue dos mártires hão-de envolver os vossos corpos. Braçadas de flores de todos os jardins proletários se desfolharão sobre vós. Bocas que mal sabiam cantar hão-de entoar um hino revolucionário. E hão-de brotar lágrimas de muitos olhos, tão puras como as lágrimas da tua companheira. Vale a pena lutar por esse dia, camarada! Lutaremos. Sabes? Os militantes da base já descobriram o teu nome. ALFREDO DINIS. Mas não houve deslize conspirativo… Vai sendo tempo que o povo decore os nomes dos seus filhos heróicos. Vai sendo tempo. Não te digo adeus, camarada. Até um dia, no Portugal liberto. Soeiro Pereira Gomes – Última Carta (in Refúgio Perdido e Outros Contos – Edições Avante - 4 de Fevereiro de 1975)

segunda-feira, abril 13, 2009

Que sossego! Estes dias têm sido tão calmos que até parece que governo e oposição foram a banhos. Tirando uma inauguraçãozita nos Algarves em que a AMA mor, dona Pulquéria de seu nome, “explicou” às meninas que há algumas diferenças entre as areias da praia e os balcões da Loja do Cidadão e, portanto, nada de coxa ao léu, maminha à mostra, cueca preta ou perfume sensual, de nada mais me apercebi. O Paulo Portas não pediu mais polícias na rua, a dona Manuela não disse nenhuma “verdade”, o Rangel não armou ao pingarelho, o Sócrates não se exibiu mais uma vez, O Chico não pediu a nacionalização da banca, o Lino não disse “jamé”, o Jerónimo não foi dançar o vira, o Pinho não abriu o bico, o Cavaco não comeu bolo rei, o Pedreira não tentou justificar o injustificável, não houve Juízes ou Magistrados do MP a fazerem justiça no telejornal, o Marinho esteve calado, o Silva não malhou em ninguém, o AJJ conteve-se na poncha. Claro que o meu universo de observação se resume à televisão pública, dado que SIC e TVI me servem, apenas, para bola ou filmes. Portugal é um bom país para se viver na segunda metade da Semana Santa. Pena que só seja uma vez por ano.

domingo, abril 12, 2009

Lojas do cidadão Quanto tiver de ir buscar um CU* novo gostava de ser atendido por esta...

...mas, provavelmente, vou ser atendido por esta. *Cartão Único
Dia Poético Que lindo dia De poesia Se pôs! A manhã baça, O jornal carrancudo, E, de repente, tudo Cheio de luz e graça! E que não há milagres! Há, mas são destes, que não provam nada… É uma pena Que a nossa alma seja tão pequena, Ou já esteja ocupada. Miguel Torga Poesia Completa I - D. Quixote - 2007

quinta-feira, abril 09, 2009

Memórias de Adriano Não, não se trata do romance de Marguerite Yourcenar, que viaja pelos meandros do imperador romano Adriano, mas do “nosso” Adriano, lutador antifascista e cantor de eleição, de quem estaríamos a celebrar o 67º aniversário se a malfadada velha da foice e nariz adunco não lhe tivesse ceifado a vida aos 40 anos. Levou-lhe o corpo, mas ficaram connosco a memória, a voz e, entre muitas outras pérolas, As mãos: As mãos Com mãos se faz a paz se faz a guerra. Com mãos tudo se faz e se desfaz. Com mãos se faz o poema - e são de terra. Com mãos se faz a guerra - e são a paz. Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra. Não são de pedras estas casas, mas de mãos. E estão no fruto e na palavra as mãos que são o canto e são as armas. E cravam-se no tempo como farpas as mãos que vês nas coisas transformadas. Folhas que vão no vento: verdes harpas. De mãos é cada flor, cada cidade. Ninguém pode vencer estas espadas: nas tuas mãos começa a liberdade. Manuel Alegre/Adriano Correia de Oliveira

quarta-feira, abril 08, 2009

O Grande Irmão Poder-se-ia pensar que a realidade do romance 1984 ainda era uma coisa distante, mas já há cientistas a trabalhar num sistema europeu de rastreio global de carros que afirmam que a tecnologia necessária para isso já faz parte da nossa vida diária, dado que o sistema utiliza as mesmas ligações dos telemóveis, da internete Wi-Fi e das etiquetas de segurança presas às roupas nas lojas. Um carro passará a estar sempre localizável através daqueles meios de comunicação, guardados num roteador por detrás do painel de instrumentos. Algo similar ao dispositivo da via verde, mas com um olho muito mais abrangente. O dispositivo emitirá uma mensagem “pulsar” a revelar a sua localização precisa, a velocidade e a direcção a todos os outros carros num raio de 400 metros. O “pulsar” pode enviar outras mensagens: assim, quando uma carro faz uma travagem forçada para evitar um obstáculo ou quando as rodas encontram um pavimento escorregadio, essa informação pode ser enviada para outros condutores que se encontrem na zona. O pagamento automático de portagens é outra funcionalidade. Os veículos também poderão comunicar com a “infra-estrutura rodoviária”, através de sinais colocados em pilastras ou em pontes para receber e dar informação, permitindo adequar a rede semafórica ao fluxo de trânsito que se aproxima e avisando os condutores quando há engarrafamentos. Como se vê, só “vantagens”, se não nos preocuparmos com o facto de a nossa vida passar a ser completamente devassada, quando os governos decidirem utilizar todas as potencialidades do sistema para uma vigilância total dos cidadãos, permitindo saber quem foi onde e que eventuais infracções cometeu, através do roteador, do telemóvel e do uso dos cartões de débito e crédito. É que a Comissão Europeia já pediu aos governos para reservarem a rádio frequência na banda 5.9 Gigahertz para o “sistema” de rastreio automóvel. Para saber “tudo” sobre o próximo Big Brother is watching you pode ler este artigo do Guardian.

terça-feira, abril 07, 2009

ULTIMATUM FUTURISTA ÀS GERAÇÕES PORTUGUESAS DO SÉC. XXI Acabemos com este maelstrom de chá morno! Mandem descascar batatas simbólicas a quem disser que não há tempo para a criação! Transformem em bonecos de palha todos os pessimistas e desiludidos! Despejem caixotes de lixo à porta dos que sofrem da impotência de criar! Rejeitem o sentimento de insuficiência da nossa época! Cultivem o amor do perigo, o hábito da energia e da ousadia! Virem contra a parede todos os alcoviteiros e invejosos do dinamismo! Declarem guerra aos rotineiros e aos cultores do hipnotismo! Livrem-se da choldra provinciana e da safardanagem intelectual! Defendam a fé da profissão contra atmosferas de tédio ou qualquer resignação! Façam com que educar não signifique burocratizar! Sujeitem a operação cirúrgica todos os reumatismos espirituais! Mandem para a sucata todas as ideias e opiniões fixas! Mostrem que a geração portuguesa do século XXI dispõe de toda a força criadora e construtiva! Atirem-se independentes prá sublime brutalidade da vida! Dispensem todas as teorias passadistas! Criem o espírito de aventura e matem todos os sentimentos passivos! Desencadeiem uma guerra sem tréguas contra todos os "botas de elástico"! Coloquem as vossas vidas sob a influência de astros divertidos! Desafiem e desrespeitem todos os astros sérios deste mundo! Incendeiem os vossos cérebros com um projecto futurista! Criem a vossa experiência e sereis os maiores! Morram todos os derrotismos! Morram! PIM!
José de Almada Negreiros P O E T A F U T U R I S T A E T U D O

segunda-feira, abril 06, 2009

Puro como a neve Já se sabia que a “profunda investigação” prometida pelo exército israelita às acusações, feitas pelos próprios militares, de abate deliberado de civis palestinos, incluindo mulheres e crianças, não ia dar em nada. O que não se sabia era que o assunto ia ser encerrado tão rapidamente e que o investigador iria usar a marca de detergente que apregoa que “branco mais branco, não há”. Mas foi o que aconteceu. Bastaram ao MAG (Military Advocate General), Brigadeiro General Avichai Mendelblit, 11 dias, incluindo dois Sábados, para investigar os relatos dos combatentes e esconjurar as suas alegações, fazendo o exército emergir das acusações puro com a neve. A crer nas conclusões do MAG, um grupo de soldados e oficiais de combate ao serviço de algumas das unidades de maior elite das forças de ataque israelitas demonstraram não ser mais do que uma mão cheia de requintados mentirosos e exagerados contadores de histórias, homens que não proferiram uma única palavra verdadeira, pois limitaram-se a eliminar “terroristas”. Como a imagem abaixo prova, a criança que olha para as duas vacas mortas neste “jardim” de Gaza só pode ser um “perigoso terrorista” que se dirige para as duas velhotas que lhe vão “ensinar” a forma de destruir Israel. Aliás, de certeza que as duas vacas também eram “perigosas terroristas suicidas”, com granadas dissimuladas de chocalhos, que se dirigiam para uma unidade de elite israelita a fim de rebentar com os tanques e seus ocupantes. Imgem : Tyler Hicks/The New York Times

domingo, abril 05, 2009

Elogio do sonho Quando caminha nas águas banha as agulhas noturnas e bebe chamas de espumas nos claros copos da lua esconde no corpo um fogo claro, vermelho, constante: rubro ondular de bandeiras por entre nuvens dançantes ei-la subindo nas chuvas galopando em seu cavalo a cabeleira de trigo solta ao furacão voante ordena para que um dia os sons se mudem nas cordas destes violinos cegos que por entre urtigas tocam - vejo-a inteira, emparedada entre as brasas que caíam naqueles vales secretos onde as árvores fugiam. César Leal* *poeta brasileiro

sábado, abril 04, 2009

Curtos de vista Eu não percebo a atitude dos políticos mouros perante a nomeação de Domingos Névoa para presidente da Braval. A Braval é uma empresa criada para o tratamento do lixo (em linguagem técnica, resíduos sólidos) dos concelhos de Braga, Póvoa de Lanhoso, Vieira do Minho, Amares, Vila Verde e Terras de Bouro, municípios dirigidos por gente do PS (2) do PSD (3) e do PSD/Paulo Portas (1). Não sei se a participação accionista é proporcional aos habitantes de cada concelho ou não, mas isso não vem ao caso. Mesmo que Braga tenha a maioria absoluta, se os outros 5 accionistas não estivessem de acordo com a decisão podiam impugná-la junto de quem de direito, através de uma previdência cautelar, que é o meio que está na moda. Se a previdência cautelar não surtisse efeitos, metiam previdências cautelares sucessivas em sucessivos (é de propósito) tribunais, de modo que o tal Domingos Névoa não tomasse posse antes de morrer. Não é o que tem sucedido com a malfadada co-incineração (ou será cu-incineração)? Mas não, portaram-se com a galhardia da unanimidade, e fizeram muito bem. Na verdade, quem melhor para lidar com o lixo do que uma pessoa condenada por corrupção activa? Lixo por lixo, estava muito melhor a tratar do lixo menos poluente do que a tentar corromper os tratadores de outros lixos. Como os mouros que mandam, todos sem excepção, entenderam que era melhor corromper pessoas do que corromper resíduos sólidos, o Névoa demitiu-se e lá fica a Braval sem um especialista do mais fino recorte. Quem vai pagar a falta de produtividade?

sexta-feira, abril 03, 2009

Exageros Parafraseando Mark Twain, no Telejornal da RTP de ontem as notícias sobre o montante financeiro do acordo conseguido na Cimeira dos G20 foram grandemente exageradas, quase 5 vezes exageradas. Mas vamos por partes. Na nomenclatura internacional, adoptada por quase todo o mundo e por todos os países europeus com excepção da Inglaterra, um bilião é um milhão de milhões (1 seguido de doze zeros), enquanto na nomenclatura anglo-saxónica, adoptada na Inglaterra, nos Estados Unidos e no Brasil, um bilião são mil milhões (1 seguido de nove zeros). De igual forma, na nomenclatura internacional um trilião é um milhão de biliões (1 seguido de dezoito zeros) e na anglo-saxónica são mil biliões dos deles (1 seguido de doze zeros). Difícil de imaginar? Talvez seja mais fácil se utilizarmos o tempo. Se considerarmos segundos, um bilião de segundos para os anglo-saxónicos corresponde a 31 anos e 259 dias, enquanto que um bilião de segundos na nomenclatura internacional significa 31.709 anos e 289 dias. Se passarmos para o trilião, a diferença é ainda maior, já que para os anglo-saxónico um trilião de segundos representa 31.709 anos e 289 dias, enquanto para quem segue a numeração internacional será o curto período de 31.709.791.983 anos, mais do dobro do tempo que se estima ter decorrido desde o big bang até hoje. É um bocadinho mais de tempo (ou de dinheiro, no caso em apreço). Passando à notícia divulgada e comentada pela RTP e utilizando a designação internacional e os dólares dos Estados Unidos, foi posta uma grande ênfase no estímulo de 5 biliões de dólares (3,7 biliões de euros), quando o mesmo foi de apenas 1,1 biliões de dólares - ou seja, 22% do valor divulgado -, que serão quase todos despendidos no financiamento do FMI e do Banco Mundial. 5 biliões de dólares foi o montante total que os presentes estimaram já terem decidido, cada um por si, “gastar” em estímulos até ao fim do próximo ano e não teve nada a ver com a Cimeira. Teria sido muito fácil a televisão pública não ter cometido tamanha argolada. Bastava que tivesse posto um simples estagiário a seguir jornais ingleses (o Guardian ou o Times, por exemplo) que tinham jornalistas económicos a acompanhar o evento no local, para verificar que o valor em discussão e considerado como uma grande vitória para o anfitrião da Cimeira andava à volta 1 bilião (1 trillion); mas não, prefere gastar o dinheiro dos contribuintes na novela mexicana do Freeport. Como hoje tirei o dia para cascar no canal que malbarata os meus impostos, não vou dizer nada sobre a bondade (ou falta dela) desta e doutras decisões da Cimeira. Mas quem quiser, pode ler aqui o comunicado, na integra, ou, se preferir, um resumo bastante bem estruturado. Cartoon: Steve Bell/Guardian

quinta-feira, abril 02, 2009

Hilaridade
A descontracção dos “grandes”, apanhados pelo fotógrafo com “as calças na mão”, foi muito menos hilariante do que os alegados 3,7 biliões (triliões para os ingleses e americanos) anunciados pela televisão pública. Tanto quanto pude ver, não passaram de menos de um terço (1,1 biliões, o que já não é nada mau); como o despertador canta às 5H30, amanhã talvez volte ao assunto. Imagem: Kirsty Wigglesworth/Associated Press/NYT
A Última Ceia Como ainda não há novidades e a fotografia de “família” só depois de mais uma tentativa, já que na primeira o canadiano tinha ido à casa de banho e na segunda foi o italiano que se pirou, talvez à procura de um espelho para se certificar de que não é mais pálido do que Obama, fica o humor de Morten Morland para o Times online.

quarta-feira, abril 01, 2009

As minhas verdades e inverdades Hoje é o dia adequado para pôr a nu as minhas inverdades. Mas vou começar pelas verdades: Sou muito complacente mas detesto hipócritas. É mesmo a hipocrisia aquilo que mais detesto nas pessoas; Gosto de cozinhar. Dizem as mulheres a as visitas que o faço muito bem; Adoro lampreia. Sou limiano e a lampreia é um dos meus pratos favoritos; só é pena ser tão cara; Gosto de dormir a sesta quando posso. Hábito que me ficou do meu tempo de adolescente passado com espanhóis; Adoro ervilhas tortas guisadas com carne. Carne de vaca, frango ou coelho mas, para ficarem boas, lá vou eu de avental para a cozinha; Considero-me um conversador nato. É verdade, embora não seja um fala barato. E agora as tais inverdades: Tenho muito medo de andar de avião. Nunca tive e já voei quase um milhão de milhas. O avião é o meio de tranporte mais seguro (desde que se mantenha no ar quando é preciso); Não gosto de lulas grelhadas. É a única forma como gosto delas; Gosto de deambular pelos centros comerciais. Se pudesse nunca punha lá os pés.