quinta-feira, novembro 01, 2007

MAIS UMA VEZ o menino chora no meio da noite no meio da praça no meio do coração. o menino chupa laranjas e abismos as bombas caem. está sozinho no meio do oceano no meio de cem milhões no meio do infinito. o menino desenha navios submersos enquanto chovem granadas enquanto mais uma vez o povo é saqueado. o menino chora sob um turbilhão de cavalos em febre sob um teia de equívocos e fracassos. estamos no meio da noite barroca no meio da praça onde os tiranos engolem o ouro no meio do coração torturado por mil punhais envenenados e um punho de sombra redigindo lei imóveis. o menino uiva um labirinto (não há pai nem mãe nem lembrança de ternura para consolar o pranto). o menino uiva uma farpa de cristal um relâmpago de estrelas podres o abandono definitivo (não há luz no quarto onde o menino chora sob um fedor de sinfonia estarrecida). no meio da fome no meio da morte no meio do coração. Afonso Henriques Neto* *poeta brasileiro

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