How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
terça-feira, março 20, 2007
Desenvolvimento ou sociedade sustentável?
A reflexão crítica tem criado vasto convencimento de que o propalado "desenvolvimento sustentável" no sistema capitalista (pode ser válido num sistema localizado) é uma armadilha que cabe denunciar. A lógica do desenvolvimento neste sistema imperante contradiz a lógica da sustentabilidade. Ele se entende linear, ilimitado e supõe o infinito dos recursos da natureza. A sustentabilidade nos alerta de que vivemos num pequeno planeta, super-habitado, com recursos limitados, alguns renováveis e outros não. Se não elaborarmos um desenvolvimento (que precisamos) bem dosado e equitativo do qual todos possam se beneficiar, inclusive os demais membros da comunidade de vida à qual pertencemos, podemos ir ao encontro de um desastre.
Analistas como o prêmio Nobel de química Christian de Duve começa seu conhecido livro Poeira vital: a vida como imperativo cósmico afirmando que estamos assistindo a sintomas globais que, outrora, no processo evolutivo, antecipavam grandes devastações que atingiram a Terra. Mas há uma diferença, diz ele: outrora eram meteoros rasantes ou cataclismos naturais que devastavam a biosfera. Hoje o meteoro rasante mais perigoso se chama ser humano. Temos que cuidar e vigiar esse "meteoro" ameaçador e imprevisível.
A melhor forma de fazê-lo é deslocar o eixo do desenvolvimento para o da sustentabilidade. O que importa é termos uma sociedade sustentável que encontre para si o desenvolvimento de que precisa para garantir a base material de sua reprodução fazendo com que então o desenvolvimento participe desta sustentabilidade. Como é a sustentabilidade?
Uma sociedade é sustentável quando se organiza e se comporta de tal forma que ela, através das gerações, consegue garantir a vida dos cidadãos e dos ecossistemas na qual está inserida. Quanto mais uma sociedade se funda sobre recursos renováveis e recicláveis, mais sustentabilidade ostenta. Isso não significa que não possa usar de recursos não renováveis. Mas ao fazê-lo, deve praticar grande racionalidade especialmente por amor à única Terra que temos e em solidariedade para com gerações futuras. Há recursos que são abundantes como o carvão, o alumínio e o ferro, com a vantagem de que podem ser reciclados.
Uma sociedade só pode ser considerada sustentável se ela mesma, por seu trabalho e produção, se tornar mais e mais autônoma. Se tiver superado níveis agudos de pobreza ou tiver condições de crescentemente diminui-la. Se seus cidadãos estiverem ocupados em trabalhos significativos. Se a seguridade social for garantida para aqueles que são demasiadamente jovens ou idosos ou doentes e que não podem ingressar no mercado de trabalho. Se a igualdade social e política, também de gênero, for continuamente buscada. Se a desigualdade econômica for reduzida a níveis aceitáveis. Por fim, se seus cidadãos forem socialmente participativos e destarte puderem tornar concreta e continuamente perfectível a democracia. Por estes critérios o Brasil está ainda longe de ser uma sociedade sustentável.
Tal sociedade sustentável deve se colocar continuamente a questão: quanto de bem-estar ela pode oferecer ao maior número possível de pessoas com o capital natural e cultural de que dispõe? Obviamente esta questão supõe a prévia sustentabilidade do Planeta sem a qual todos os demais projetos perderiam sua base e seriam vãos.
Leonardo Boff
Publicado no site do autor em 15 de Setembro de 2006 e afixado aqui com a sua autorização.
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1 comentário:
Mais uma utopia, esta da sociedade sustentável.
Numa epoca em que o egoísmo se sobrepõe a qualquer racionalidade, é difícil antever uma mudança. Quem sabe, com as novas gerações!?
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