How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
domingo, janeiro 07, 2007
A fanfarrice de um bonifrate
O títere do cowboy texano num país esfrangalhado que, até há 4 anos, se chamou Iraque, de seu nome Nouri al-Maliki, ontem , olhou-se ao espelho e, pensando ter visto lá reflectidos Alá e o seu Profeta, ameaçou «rever as relações com todos os Estados que não respeitaram a vontade do povo» sobre a execução de Saddam Hussein, «assunto interno que diz apenas respeito aos iraquianos»
É capaz de ter razão. Afinal, no exemplo de democracia que são os Estados Unidos da América, a pena de morte nem sequer é um assundo do Estado mas um assunto dos estados. Uns consagram-na nas suas leis e outros não. Mesmo que, neste início do século XXI, qualquer pessoa com um mínimo de ética e bom senso considere a pena de morte uma barbaridade. Mas o povo, mesmo que tenha decidido em plenas condições de liberdade, o que não aconteceu na antiga Mesopotâmia, também se engana. E pode, ao fim de um certo número de anos, mudar os presidentes, os parlamentos e os governos que elegeu por engano, ou fazer reverter as leis aprovadas em circuntâncias às vezes obscuras.
Mas o senhor Nouri al-Maliki esqueceu-se de várias coisas:
Em primeiro lugar, ignorou que Saddam não foi condenado à morte por um tribunal isento, mas sim pelos responsáveis dos países ocidentais que invadiram o seu ex-país. E que, se queriam julgar Saddam com um mínimo de justiça e de dignidade, deviam tê-lo trazido para o TPI e não deixá-lo entregue à sanha assassina dos irmãos na fé do neto do Profeta do fantoche al-Maliki.
Em segundo lugar, esqueceu-se de que a política interna para o seu ex-país não é decidida em Bagdade. É-o na Casa Branca, sendo depois contrabandeada no mercado das ilusões da democracia, a preços de sangue e petróleo, por uma correio da droga ideologica que, para essas ocasiões, se veste de negro, um negro mais negro do que a morte que costuma deixar à sua passagem.
Em terceiro lugar, quis olvidar que Saddam foi apoiado com armas e conselheiros e mantido no seu lugar durante muitos anos por anteriores inquilinos da Casa Branca, um deles pai do actual, até que se convenceu de que o petróleo da sua terra não lhe era suficiente e quis ir explorar poços no quintal do vizinho. Foi escorraçado sem grande polémica, segundo a legalidade internacional, mas Bush pai menteve-o no seu posto, e por lá ficou por mais uma dúzia de anos, até que o Bush Jr. alegou que tinha sido mandado por Deus para o guerrear, quando na verdade queria esconder a crassa incompetência do seu governo em prevenir os atentados do 11 de Setembro. Quando o mesmo Deus decidir que o senhor al-Maliki já não serve para nada, deixá-lo-á cair como quem atira um preservativo usado para o caixote do lixo.
Por fim, não se lembrou o senhor Nouri al-Maliki de que, se o Saddam era um ditador que tinha de ser julgado e condenado à morte, devia, há muito tempo, ter tomado medidas tendentes à instauração de um regime que tivesse o apoio do seu povo, sem esperar pelos homens e armas idos de muito longe para "libertar" o seu solo pátrio. Há muitos povos que o fizeram. Aqui os nossos vizinhos deixaram morrer em paz um ditador que chacinou centenas de milhares de compatriotas para, pela mão de um Rei educado no Estoril, fazer uma transição pacífica para a democracia. Nós próprios, por acção directa de soldados fartos de verem dezenas de milhares de companheiros mortos e estropiados numa guerra iníqua em três frentes, conseguimos, de forma mais ou menos pacífica, entrar numa democracia representativa que, se não é aquilo com que tantos sonharam e pela qual muitos lutaram e alguns morreram, é aquilo que a maioria dos portugueses escolheu.
O senhor al-Maliki, de costas quentes, pode vociferar à vontade. Até pode cortar-nos o seu petróleo. Mas nós e os nossos parceiros europeus também podemos fechar as torneiras das ajudas e dos negócios, que talvez fosse o que devia ser feito se os lucros das empresas não fossem contruídos, em grande parte, sobre o sangue e o sofrimento dos povos. E, já agora, o senhor al-Maliki, em vez de fanfarronar, que tal se conseguisse arranjar empregos com salários e água, luz e alimentos pra o povo que diz liderar? Como diria o Raúl Solnado, pois!..
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1 comentário:
A sua análise é certeira, Lino!
Desde pequena que a MESOPOTÂMIA me fascina pelas invenções culturais, os jardins suspensos e cinco mil anos de civilização.
Pensar naquelas magníficas relíquias da História - que deviam ser veneradas como tal - surripiadas para as mãos de um qualquer milionário seboso com a conivência dos mesmos que estão a destruir o país palmo a palmo!!!!
Pergunto eu: não seria este mesmo o objectivo? Destruir, pura e simplesmente, criando a conjuntura adequada para que se matem uns aos outros e deixem aqueles recursos disponíveis para outras mãos? Com a conivência de uns quantos ranhosos locais, claro, que a Internacional dos Ranhosos é das mais poderosas e destituídas de escrúpulos à face da Terra!
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