sábado, janeiro 31, 2009

Coisas, Pequenas Coisas Fazer das coisas fracas um poema. Uma árvore está quieta, murcha, desprezada. Mas se o poeta a levanta pelos cabelos e lhe sopra os dedos, ela volta a empertigar-se, renovada. E tu, que não sabias o segredo, perdes a vaidade. Fora de ti há o mundo e nele há tudo que em ti não cabe. Homem, até o barro tem poesia! Olha as coisas com humildade. Fernando Namora, in "Mar de Sargaços"

sexta-feira, janeiro 30, 2009

Muros
Não quero que a minha casa seja cercada por muros de todos os lados e que as minhas janelas estejam tapadas. Quero que as culturas de todos os povos andem pela minha casa com o máximo de liberdade possível. Mahatma Gandhi
(A propósito do 61º aniversário do seu assasinato, do muro à volta da Palestina e de outros muros que se vão levantando.)
Imagem: à esquerda, crianças judias num campo de concentração nazi e, à direita, crianças de Gaza num campo de concentração sionista

quinta-feira, janeiro 29, 2009

Os perdedores Naquela que um jornalista israelita, judeu e residente em Jerusalém, apelidou de guerra mais brutal e mais cruel de toda a história de Israel e que agora atravessa um cessar fogo periclitante, não houve ganhadores, mas apenas perdedores. Israel, apesar do aparente sucesso militar, perdeu em toda a linha, não conseguindo nenhum dos objectivos declarados, menos ainda dos encobertos mas à vista de toda a gente, e mostrou a centenas de milhões de pessoas a verdadeira face do sionismo. Quanto aos objectivos declarados, Israel queria destruir o Hamas e o seu governo, conseguir a reinstalação do líder da Fatah no poder em Gaza e acabar com a resistência armada. Terá conseguido matar mais de 1.300 palestinos, entre os quais 95 militantes do Hamas, sendo o resto civis, incluindo perto de 400 crianças; Mahmoud Abbas (ou Abu Mazen) perdeu mais uma fatia da pouca credibilidade que tinha, mesmo na Cisjordânia, e deixou de reunir quaisquer condições para liderar o que quer que seja; e teve o condão de fazer com que cada palestino capaz de pegar em armas, agora ou no futuro, seja mais um provável resistente armado, multiplicando por quase 100 o número de resistentes armados que se estima existir actualmente. No que respeita aos objectivos encobertos, pretendia Israel que o exército recuperasse a aura de invencibilidade perdida na guerra de 2006 e que os Partidos Kadima - do Primeiro (des)Ministro Ehud Olmert e da Ministra das Negociatas Estrangeiras Tipzi Livni - e Trabalhista - do Ministro do Ataque, Ehud Barak, ficassem bem posicionados para vencer as eleições do próximo mês. Conseguiu que o IDF passasse a ser visto entre a maioria da população mundial como um bando de terroristas assassinos; que todas as sondagens apontem como grande vencedor o Likud, do extremista Benjamin Nataniau; e que centenas de milhões de pessoas ficassem a conhecer os horrores da criação do estado sionista. Os palestinos também perderam, tornando mais difícil a concretização do sonho de um Estado Palestino independente. Mahmoud Abbas, que já era pouco crível por ter feito concessões a Israel sem obter nada em troca, perdeu o pouco que tinha e não se perfila ninguém capaz de liderar a Fatah e conduzi-la a um entendimento com o Hamas. Por sua vez, o Hamas, apesar de aparentemente ter saído reforçado, tem um milhão e meio de pessoas a morrer, sem acesso a comida, água e medicamentos e tem quase 400 quilómetros quadrados, completamente arrasados, para reconstruir, o que não pode fazer sem o apoio do Ocidente, que insiste em canalizar a ajuda através da Fatah. Como se isso não bastasse, há líderes do Hamas - como se pode ver neste artigo do professor de Irvine, Mark LeVine – que sabem há muitos anos que a violência não funciona, mas não sabem como fazê-la parar e que o verdadeiro acto de desespero que constitui o lançamento de foguetes Qassam e morteiros – que são poucos, desnecessários, errados e improdutivos – apenas serve para dar um pretexto a Israel para mais chacinas e para permitir aos seus apoiantes assobiar para o lado. Para além de ser uma temeridade totalmente desnecessária “cutucar a onça com vara curta”, ninguém, a não ser meia dúzia de lunáticos, admite que, mau grado toda a injustiça que envolveu a criação de um estado sionista e racista em terras palestinas e a sua crescente escalada de violência até ao que hoje é, Israel pode (e muito menos deve) ser destruído, pelo que o Hamas, mais tarde ou mais cedo, vai ter de aceitar oficialmente a sua existência. Quanto mais tarde o fizer mais contribui para o lento extermínio de um povo que diz defender. Perdeu, também, a dita “civilização ocidental”, ao permitir que um dos “seus” (salvo seja) tenha agido ao longo de 60 anos e continue a agir muito pior do que os bárbaros da idade das trevas, ao contribuir para a escalada do conflito de religiões e ao aprofundar o fosso entre o Ocidente e o Leste e entre o Norte e o Sul. Depois de tudo aquilo a que se assistiu, que autoridade têm os auto-denominados paladinos dos direitos humanos para se arvorarem em seus defensores? E, pior ainda, quem lhes vai ligar alguma? Perdeu, ainda, a humanidade no seu todo, principalmente os mais carentes, porque aquilo que Israel destruiu tinha sido construído, em grande parte, com o apoio da boa vontade de Estados e cidadãos dos países ditos desenvolvidos. E se, para os Estados, os donativos são uma forma de tentar limpar com uma mão a (má) consciência que a outra mão deixou conspurcar já é de esperar que os cidadãos se comecem a interrogar sobre se vale a pena contribuir para construir, hoje, algo que algum doido varrido vai destruir amanhã.

quarta-feira, janeiro 28, 2009

A Padrão dos Pobres A Standard & Poor’s, empresa que atribui notações para o risco de crédito (vulgo rating) dos Países e das Empresas, decidiu, no fim da passada semana, baixar a notação de Portugal de AA- para A+, o que implica, também, a descida das notações das empresas com sede em Portugal, mesmo as filiais de empresas estrangeiras, já que uma das regras da notadora é não dar às empresa mais do que um grau acima da notação do país. Tal significa que o crédito para o Estado e para as Empresas ficou mais difícil e mais caro, não pela notação em si mas porque vivemos num mundo de decisores mentecaptos que seguem sem questionar as decisões de empresas sem qualquer credibilidade. E vou explicar porquê. O mundo do rating é dominado por três empresas: a Standard & Poor’s ( líder), a Moody's e a Fitch Ratings. Foram estas empresas que provocaram a actual crise financeira, já que os seus “sábios”, ainda há dois anos, atribuíam uma notação máxima (AAA, o máximo comum às três empresas) aos instrumentos financeiros (derivados) que financiaram o crédito subprime e que conduziram ao imbróglio em que hoje o mundo vive, que começou por ser financeiro mas já é económico e social, porque “quando o mar bate na rocha que se lixa é o mexilhão”. Para percebermos melhor o quão ridículos são os métodos destes abencerragens, chega dizer que a Standard & Poor’s considerou a Islândia como uma economia extremamente forte na véspera do País declarar a bancarrota e o Lehman Brothers um banco financeiramente robusto já este tinha apresentado às autoridades de Nova Iorque o pedido de falência. Há uns anos atrás, a Enron e a WorldCom tinham AAA pouco tempo antes de estoirarem. Depois de um relatório de 2003 da SEC (a CMVM lá do sítio), completamente arrasador para a indústria de rating, indiciando o recebimento de chorudas comissões pelas notações atribuídas a alguns instrumentos financeiros estruturados que enganaram milhões de investidores, um analista da Standard & Poor’s escreveu “esperemos estar todos ricos e reformados quando o castelo de cartas ruir” e outro acrescentou “eles (os instrumentos financeiros) podiam ter sido estruturados por vacas, que nós notá-los-íamos na mesma”. QED, o rating, só por si, não significa grande coisa; o que é muito perigoso é ser utilizado por decididores aparelhados com antolhos laterais. (Nota: Os sistemas de notações muito similares utilizados pelas três grandes podem ser vistos clicando nas ligações que coloquei acima.. Todas a notações apresentadas têm ainda graus intermédios de + (com excepção do AAA, que é o mais alto) e (com excepção do D, o mais baixo).

terça-feira, janeiro 27, 2009

Foro Social Mundial 2009 Entre hoje - dia 27 de Janeiro - e 1 de Fevereiro, o Fórum Social Mundial estará reunido em Belém, no Pará. Como singela homenagem à cimeira dos pobres (em contraponto à cimeira dos ricos, que decorre em Davos no mesmo período) deixo aqui uma ode do escritor, jornalista e poeta brasileiro Bernardo Kucinski, escrita propositadamente para o evento: Palavras de ordem Uma ode ao Fórum Social de Belém O mundo é complicado Nossa tarefa também Julgar sem pré-julgar Demarcar sem excluir Incluir sem forçar Somar, fazer bonito O mundo é infinito Combater a indiferença Respeitar a diferença e o diferente. Respeitar Defender a mata sem esquecer o homem Cultivar a terra sem derrubar a mata Cultivar o homem Amparar sem esperar Esperar sem se iludir Não desesperar, agir Não sucumbir Perseverar Convencer, conversar Persuadir sem mentir Não sofismar, Argumentar Gritar abaixo o imperialismo Viva o povo palestino Mas ao anti-semitismo dizer não Aplaudir a bravura Mas repudiar a bravata Não usar gravata Gritar a Amazônia é nossa Viva o povo brasileiro Viva a cesta básica e o Prouni Viva o luz para todos Em plena floresta amazônica Gritar abaixo os banqueiros Que seja a riqueza de todo o povo brasileiro Abaixo os juros E a especulação financeira Fora com o Deus mercado e o Deus dinheiro Sonhar mas não dormir Cada amanhecer é um novo dia O fim de um descanso Cada pequeno passo um avanço Conceituar sem preconceitos Refinar pensamentos Provocar sem agredir Polemizar De vez em quando aplaudir Perguntar e saber ouvir Não ouvir sem perguntar Questionar, Sempre Sempre duvidar, Não simplificar, complicar Entender é o que interessa Para poder avançar Saber, conhecer, decifrar Interpretar O saber é infinito O universo também O mundo é complicado Nossa tarefa também Bernardo Kucinski, Janeiro de 2009
Pormenores Fui desafiado pelo João a escolher, aleatoriamente, seis coisas sobre mim que deverei contar aqui e indicar mais seis blogues para continuarem o desafio, com as correspondentes ligações, e ir às respectivas caixas de comentários informá-los de que tinham sido nomeados. Sou totalmente avesso a algum tipo de correntes mas, para esta, aqui vai: *Abomino a hipocrisia, seja de que tipo for; *Gostava de ser filósofo e tocou-me ser economista e actuário pouco praticante; *Sou frontalmente contra o acordo ortográfico; *Detesto o politicamente correcto; *Cresci no meio de 6 irmãs, da mãe e da avó, casei com uma mulher, tive uma filha e quero morrer nos braços duma mulher; *Gostava de ser um comunicador perfeito: chamar estúpido a um gajo (ou gaja) que só o percebesse um ano depois. E agora os nomeados: Inflorescências Jardim de luz “CANTIGUEIRO” O Azereiro A FORMA E O CONTEÚDO PASSAGES

segunda-feira, janeiro 26, 2009

Adega do sono Dividias os gomos da fruta em aposentos da casa. A cortina do sumo leveda o sol levantado. O zodíaco do molde supre o gérmen do quarto. E o bafio estala a lareira das esferas na sala de estar da semente. Fabrício Carpinejar* *poeta brasileiro

domingo, janeiro 25, 2009

Se um cara corre... Se um cara corre, o bicho pega; se um cara fica, o bicho come! Este é um ditado brasileiro que traduz, de uma forma mais incisiva, o nosso velho preso por ter cão, preso por não ter. O adágio aplica-se que nem uma luva a Abdul Rahim Abdul Razzak al-Ginco, um cidadão sírio-curdo que passou os últimos sete anos em Guantánamo, onde continua preso. Em Janeiro de 2002, em Kandahar, al-Ginco, então com 26 anos, que tinha passado os dois anos anteriores a ser torturado pelos Talibãs, suplicou ao jornalista Tim Reid, do London Times, que pedisse às tropas estado-unidense recém chegadas que o ajudassem. E as tropas foram “ajudá-lo” e... enviaram-no para a prisão de Guantánamo, onde nunca foi acusado do que quer que fosse e diz que foi sujeito a torturas várias. O relato é o próprio jornalista e pode ser lido aqui.

sábado, janeiro 24, 2009

Pragmatismo Estético A disciplina é quase tudo menos o dia-a-dia o poema é quase nada mais a inspiração na falta solidária do mesmo quase faz-se o poema vive a poesia Carlos Vogt* *poeta brasileiro

sexta-feira, janeiro 23, 2009

O Enviado Especial Da catadupa de decisões tomadas pela nova Administração estado-unidense nos primeiros 2 dias de mandato quero focar-me numa que terá passado algo despercebida: de acordo com aquilo que era esperado, Obama escolheu George Mitchell para Enviado Especial ao Médio Oriente com vista à obtenção de um acordo de paz justo entre israelitas e palestinos. George John Mitchell, antigo senador democrata pelo Maine e líder da maioria democrata no Senado ente 1989 e 1995, foi nomeado por Bill Clinton Enviado Especial para a Irlanda do Norte, tendo desempenhado um papel fulcral no processo de paz que levou, em 1998, ao Acordo de Paz de Belfast, também conhecido por Acordo da Sexta Feira Santa, o qual conduziu a uma paz que perdura até hoje, apesar de alguns percalços. É verdade que o conflito Israelo-Palestino tem muitas diferenças relativamente ao da Irlanda do Norte, mas também tem pontos em comum, os quais suscitam alguma esperança, pois se na Irlanda do Norte republicanos (católicos) e unionistas (protestantes) - que se combateram durante décadas e desejaram a morte uns aos outros - conseguem, há mais de 10 anos, governar em conjunto e viver em paz, os palestinos e os israelitas não têm de estar condenados a lutar para sempre. Gerry Adams, líder histórico do Sinn Féin, já fez apelos nesse sentido. Não é menos verdade que George Mitchell já participou num quase acordo entre as duas partes, mas as negociações acabaram num fiasco. Com efeito, depois da Cimeira de Camp David 2000, esteve envolvido em negociações no Médio Oriente por indicação de Bill Clinton, mas o acordo, quase concluído na Cimeira de Taba, foi boicotado por Ariel Sharon, eleito primeiro ministro em 6 Fevereiro de 2001, com o beneplácito de Bush e Colin Powell. Agora, as condições locais são bem menos favoráveis, mas espera-se que haja um querer diferente em Washington.

quinta-feira, janeiro 22, 2009

A Habilidade Específica do Político A habilidade específica do político consiste em saber que paixões pode com maior facilidade despertar e como evitar, quando despertas, que sejam nocivas a ele próprio e aos seus aliados. Na política como na moeda há uma lei de Gresham; o homem que visa objectivos mais nobres será expulso, excepto naqueles raros momentos (principalmente revoluções) em que o idealismo se conjuga com um poderoso movimento de paixão interesseira. Além disso, como os políticos estão divididos em grupos rivais, visam dividir a nação, a menos que tenham a sorte de a unir na guerra contra outra. Vivem à custa do «ruído e da fúria, que nada significam». Não podem prestar atenção a nada que seja difícil de explicar, nem a nada que não acarrete divisão (seja entre nações ou na frente nacional), nem a nada que reduza o poderio dos políticos como classe. Bertrand Russell, in 'Ensaios Cépticos: A Necessidade do Cepticismo Político'

quarta-feira, janeiro 21, 2009

A esperança Compromissos profissionais há longo tempo assumidos acarretaram-me, anteontem e ontem, longas (mas muito compensadoras em termos profissionais e pessoais) jornadas de trabalho de mais de 12 horas, o que não me permitiu ver e ouvir (e muito menos escrever sobre) o que se passou na tomada de posse do novo Presidente dos Estados Unidos; mas, embora correndo o risco de fazer “chover no molhado” e mesmo com um dia de atraso, não quero deixar de dizer algo sobre o assunto. Neste dia, nós reunimo-nos porque escolhemos a esperança em detrimento do medo, a unidade de vontades em detrimento do conflito e da discórdia. A partir de hoje, temos de levantar-nos, sacudir o pó e começar outra vez a reconstruir a América. As duas citações acima são do discurso de ontem de Barak Obama, um discurso despojado da retórica a que habituou os seus apoiantes, mas cheio de mensagens positivas para os seus concidadãos e para o mundo; apesar de os adeptos do tudo ou nada considerarem que ele agradou, sobretudo, aos conservadores, e que defraudou as esperanças nele depositadas. Num mundo em que os conceitos ancestrais que cimentaram as relações entre os povos têm sido sistematicamente desprezados pelos poderosos e pelos seus braços políticos, Obama falou de valores, da memória dos antepassados, da responsabilidade pessoal e colectiva, do valor do trabalho, dos limites ao exercício do poder. Criticando com veemência (embora o fizesse de forma velada, como as circunstâncias exigiam) a política do seu antecessor, afirmou que rejeitava a falsa escolha entre a segurança e os ideais de liberdade em nome da defesa comum; zurzindo claramente na avidez dos que conduziram a economia ao seu estado actual, disse que o sucesso dependia da honestidade e do trabalho árduo, da coragem e da correcção, da tolerância e da curiosidade, da lealdade e do patriotismo. Conclamando os seus concidadãos ao reconhecimento de que cada Americano tem deveres para com ele próprio, para com o País e para com o mundo, deveres esses que não devem ser aceites de má vontade mas antes abraçados com entusiasmo, avisou de que o poder, só por si, não pode proteger o País nem lhes dá o direito de fazerem o que lhes aprouver; pondo de parte o lema bushiano de que “quem não está connosco está contra nós”, abriu portas a um dialogo multi-lateral, estendeu mãos aos velhos amigos e antigos inimigos, independentemente da sua raça ou credo. Já escrevi aqui sobre o que se poderia esperar de Obama como presidente, ciente que estou da diferente forma de encarar a política por parte dos europeus e dos estado-unidenses. Obama não poderá fazer tudo já, nem sequer nos seus quatro anos de (primeiro) mandato, e seguramente não fará muitas das coisas que gostaríamos que fizesse. Mas se der um contributo decisivo para resolver a crise económica, se sair do Iraque, se conseguir ajudar a encontrar uma solução justa para a situação israelo-palestina, se encarar de frente a problema das mudanças climáticas e a redistribuição da riqueza no mundo, é possível continuar a acreditar que outro (e melhor) mundo é possível. Imagem: Jim Young/Reuters

terça-feira, janeiro 20, 2009

ÁGUA Diversa de mim contudo eu Nesse mútuo consentimento – nado e nadas – aceita-me tão logo me despeça espalha-me em sal areia e algas espelho que à carne adere abismo que o sono invoca Carlos Roberto Lacerda* *poeta mineiro

segunda-feira, janeiro 19, 2009

A Génese de um Poema A maior parte dos escritores, sobretudo os poetas, preferem deixar supor que compõem numa espécie de esplêndido frenesim, de extática intuição; literalmente, gelar-se-iam de terror à ideia de permitir ao público que desse uma espreitadela por detrás da cena para ver os laboriosos e incertos partos do pensamento, os verdadeiros planos compreendidos só no último minuto, os inúmeros balbucios de ideias que não alcançaram a maturidade da plena luz, as imaginações plenamente amadurecidas e, no entanto, rejeitadas pelo desespero de as levar a cabo, as opções e as rejeições longamente ponderadas, as tão difíceis emendas e acrescentos, numa palavra, as rodas e as empenas, as máquinas para mudança de cenário, as escadas e os alçapões, o vermelhão e os postiços que em 99% dos casos constituem os acessórios do histrião literário. Edgar Allan Poe*, in A Filosofia da Composição *No 200º centenário do nascimento

domingo, janeiro 18, 2009

25 anos de saudade Ecce Homo Desbaratamos deuses, procurando Um que nos satisfaça ou justifique. Desbaratamos esperança, imaginando Uma causa maior que nos explique. Pensando nos secamos e perdemos Esta força selvagem e secreta, Esta semente agreste que trazemos E gera heróis e homens e poetas. Pois Deuses somos nós. Deuses do fogo Malhando-nos a carne, até que em brasa Nossos sexos furiosos se confundam, Nossos corpos pensantes se entrelacem E sangue, raiva, desespero ou asa, Os filhos que tivermos forem nossos. José Carlos Ary dos Santos
O veredicto da história Bush gosta de dizer que o veredicto da história sobre a sua presidência apenas virá longos anos após a sua morte. Mas, mais uma vez, o jornalista Dan Froomkin, na sua coluna White House Watch de terça feira, afirma que, longe de esperar que o seu cadáver esteja frio, o veredicto já existe mesmo antes de Bush deixar a Casa Branca. Num retrato cru, digno de ser lido, afirma entre muitas outras coisas, o seguinte: He took the nation to a war of choice under false pretenses - and left troops in harm's way on two fields of battle. He embraced torture as an interrogation tactic and turned the world's champion of human dignity into an outlaw nation and international pariah. He watched with detachment as a major American city went under water. He was ostensibly at the helm as the worst financial crisis since the Great Depression took hold. He went from being the most popular to the most disappointing president, having squandered a unique opportunity to unite the country and even the world behind a shared agenda after Sept. 11. He set a new precedent for avoiding the general public in favor of screened audiences and seemed to occupy an alternate reality. He took his own political party from seeming permanent majority status to where it is today. And he deliberately politicized the federal government, circumvented the traditional policymaking process, ignored expert advice and suppressed dissent, leaving behind a broken government. O texto é longo. mas vale a pena lê-lo com atenção, já que a coluna faz uma recolha das mais variadas opiniões a respeito do “bicho”.

sábado, janeiro 17, 2009

Comunicado Na frente ocidental nada de novo. O povo Continua a resistir. Sem ninguém que lhe valha, Geme e trabalha Até cair. Miguel Torga

(Ex)citações Se eu fosse um dirigente árabe, nunca assinaria um acordo com Israel. É normal, nós tirámos-lhes o país. É verdade que Deus no-lo prometeu, mas para que é que isso lhes serve? O nosso Deus não é o Deus deles. Tem havido anti-semitismo, houve os Nazis, Hitler, Auschwitz, mas que culpa é que eles têm? Só podem ver uma única coisa: viemos e roubámos-lhes o seu país. Porque teriam de aceitá-lo? David Ben Gurion, primeira pessoa a assumir as funções de Primeiro Ministro de Israel Cada vez que fazemos alguma coisa dizes que “os Estados Unidos farão isto ou aquilo...”. Quero deixar uma coisa bem clara: não te preocupes com a pressão dos Estados Unidos sobre Israel. Nós, o povo judeu, controlamos os Estados Unidos e os estado-unidenses sabem-no. Ariel Sharon, em 3 de Outubro de 2001, em conversa com Shimon Peres Entre os fenómenos políticos mais perturbadores dos nossos tempos encontra-se o aparecimento do Partido da Liberdade (Herut), no recém criado Estado de Israel; um partido político cuja organização, método, filosofia política e convocação social evocam o Partido Nazi e o Partido Fascista. Albert Einstein, Hanna Arendt e outras personalidades estado-unidenses de origem judaica num texto, para o jornal The New York Times, de protesto pela visita de Menachem Begin aos Estados Unidos, em Dezembro de 1948 O poder de Hitler emanava da “Lei Habilitante”, aprovada com todo o rigor jurídico pelo Reichstag e que permitiu que o Führer e os seus representantes fizessem o que lhes desse na gana ou, em jargão legal, emitissem normas com força de lei. O Knesset aprovou exactamente o mesmo tipo de lei imediatamente a seguir às conquistas de 1967, outorgando, assim, ao dirigente de Israel e aos seus representantes um poder comparável ao de Hitler, poder que têm exercido ao estilo hitleriano. Dr. Israel Shahak, Presidente da Liga Israelita para os Direitos Humanos e Civis, sobrevivente do campo de concentração de Bergen-Belsen, num comentário sobre as Normas de Emergência do exército israelita a seguir à guerra de 1967 Devolver os territórios ocupados? Não há ninguém a quem os devolver. Golda Meir, uma semana de assumir o cargo de Primeira Ministra de Israel, em 8 de Março de 1969.

sexta-feira, janeiro 16, 2009

Imagens...
Armazéns de um refúgio da ONU, bombardeado ontem por Israel. Nos armazéns encontrava-se um elevado número de pessoas, entre trabalhadores humanitários da ONU e refugiados palestinos, para além de centenas de toneladas de medicamentos e comida. Um antro de “terroristas”, segundo os sionistas guerreiros (imagem do The New York Times).
Um trabalhadora humanitária da ONU foge dos armazéns em chamas e vê-se estampada na sua cara a marca de “terrorista” (imagem do The New York Times).
Bombas de Fósforo Branco sobre Gaza. Trata-se de uma arma química proibida pela convenção de Genebra, já utilizada na Guerra do Iraque e agora em Gaza (filho de peixe sabe sempre nadar). Desde o início do massacre que a utilização deste tipo de bombas foi denunciada, facto que Israel sempre negou. Agora, o chefe da Missão Humanitária da ONU afirmou que sobre os armazéns tinham caído pelo menos três (imagem retirada da rede sem identificação da origem). Conclusão: Os terroristas são os outros.

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Assassinada há 90 anos No meio das trevas, sorrio à vida, como se conhecesse a fórmula mágica que transforma o mal e a tristeza em claridade e em felicidade. Então, procuro uma razão para esta alegria, não a acho e não posso deixar de rir de mim mesma. Creio que a própria vida é o único segredo. Rosa Luxemburgo - in Cartas da Prisão