O apanhador
de desperdícios
Uso a
palavra para compor meus silêncios.
Não gosto
das palavras
fatigadas de
informar.
Dou mais
respeito
às que vivem
de barriga no chão
tipo água
pedra sapo.
Entendo bem
o sotaque das águas
Dou respeito
às coisas desimportantes
e aos seres
desimportantes.
Prezo
insetos mais que aviões.
Prezo a
velocidade
das
tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim
um atraso de nascença.
Eu fui
aparelhado
para gostar
de passarinhos.
Tenho
abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal
é maior do que o mundo.
Sou um
apanhador de desperdícios:
Amo os
restos
como as boas
moscas.
Queria que a
minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu
não sou da informática:
eu sou da
invencionática.
Só uso a
palavra para compor meus silêncios.
(poeta
mato-grossense nascido faz hoje 99 anos)
Sem comentários:
Enviar um comentário