terça-feira, dezembro 01, 2015

Amar-te é Vir de Longe

Amar-te é vir de longe,
 descer o rio verde atrás de ti,
 abrir os braços longos desde os sete
 anos sob a latada ao pé do largo,
 guardar o cheiro a figos vistos lá,
 a olho nu, ao pé, ao pé de ti,
 parar a beber água numa fonte,
 um acaso perdido no caminho
 onde os vimes me roçam a memória
 e te anunciam mãos e te perfazem;
 como se o sino à hora de tocar
 já fosse o tempo todo badalado,
 e a tua boca se abrisse atrás do tojo,
 e abaixo dos calções as pernas nuas
 se rasgassem só para o pequeno sangue,
 tal o pequeno preço que me pedes.
 Atrás da curva estavas, és, serias,
 nos muros de granito, nas amoras.
 Amar-te era lembrança e profecias,
 uma porta já feita para abrir,
 e encontrar o lar ou música lavada
 onde, se nasces, vives, duras, moras
 - meu nome exacto e pão
 no chão das alegrias.


(Pedro Tamen faz hoje 81 anos)

1 comentário:

jrd disse...

Um dos nossos maiores poetas contemporâneos.
Um belo poema

Abraço