How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
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domingo, maio 31, 2015
sábado, maio 30, 2015
sexta-feira, maio 29, 2015
A viagem
definitiva
Ir-me-ei
embora. E ficarão os pássaros
Cantando.
E ficará o
meu jardim com sua árvore verde
E o seu poço
branco.
Todas as
tardes o céu será azul e plácido,
E tocarão,
como esta tarde estão tocando,
Os sinos do
campanário.
Morrerão os
que me amaram
E a aldeia
se renovará todos os anos.
E longe do
bulício distinto, surdo, raro
Do domingo
acabado,
Da
diligência das cinco, das sestas do banho,
No recanto
secreto do meu jardim florido e caiado
Meu espírito
de hoje errará nostálgico...
E ir-me-ei
embora, e serei outro, sem lar, sem árvore
Verde, sem
poço branco,
Sem céu azul
e plácido...
E os
pássaros ficarão cantando.
(poeta
andaluz falecido faz hoje 57 anos)
quinta-feira, maio 28, 2015
quarta-feira, maio 27, 2015
Segredo
Lá, na
última das celas
nódoa negra
de açoites,
não há dias,
não há noites
porque as
noites têm estrelas.
Lá, só na
sombra que dói.
Sombra e
brancura de um osso
que o preso
remói, remói
no fundo do
seu poço.
Lá, quando o
vierem buscar
amanhã,
depois ou logo,
terá na alma
mais um fogo,
mais uma
chama no olhar.
(poeta moimentense
nascido faz hoje 103 anos)
terça-feira, maio 26, 2015
A carne
És mísera e
brutal. Mas, nada obsta que agites
e
açambarques o mundo, e que essa
alucinante
e estranha
sensação que aos humanos transmites,
tenha, como
nenhuma, um halo deslumbrante.
Oh, carne
que possuis no teu imo maldito
mais lodo
que contém num charco pantanoso,
mais
esplendor, também, que os astros do Infinito …
Rugindo de
volúpia e de sensualidade,
espalhando
na terra apoteoses de gozo,
ó, carne,
serás tu a única verdade?
(poetisa
paulista nascida faz hoje 133 anos)
segunda-feira, maio 25, 2015
O Incêndio
- "Ao
convento! ao convento!" - Uiva de longe o vento.
É noite. E a
multidão, descalça, esfomeada,
à luz de
archotes, sobe a ladeira empedrada,
praguejando
e gritando: - "Ao convento! ao convento!"
A onda do
povo cresce e galga num momento.
Chispam
ferros no ar. A porta, chapeada
de bronze,
range, oscila e cai à machadada.
Nem um
frade. Deserta a casa de S. Bento.
A multidão
convulsa invade a portaria:
- "Fogo
ao convento! fogo à igreja, à sacristia!"
O incêndio
lavra, estoira o vigamento a arder.
Em baixo, o
povo dança. E uma mulher grosseira
grita,
rouca, atirando um Missal à fogueira:
-
"Tanto livro, e ninguém nos ensinou a ler!"
(Júlio
Dantas faleceu faz hoje 53 anos)
domingo, maio 24, 2015
Vida de
artista
sempre
deixei as barbas de molho
porque
barbeiro nenhum me ensinou
como manejar
o fio da navalha
sempre tive
a pulga atrás da orelha
porque
nenhum otorrino me disse
como se fala
aos ouvidos das pessoas
sou um cara
grilado
um péssimo
marido
nove anos de
poesia
me renderam
apenas
um circo de
pulgas
e as barbas
mais límpidas da Turquia
(poeta
carioca que hoje faz 64 anos)
sábado, maio 23, 2015
ARS
O verso é um
vaso santo; ponde nele somente
um
pensamento puro,
em cujo
fundo bulam ferventes as imagens,
como bolhas
douradas de um velho vinho escuro!
Ali vertei
flores que na contínua luta
pisou do
mundo o frio,
lembranças
deliciosas de tempos que não voltam,
e nardos
empapados de gotas de rocio.
Para que se
perfume a mísera existência
Como de
essência ignota,
queimando-se
no fogo da alma enternecida:
de tal
supremo bálsamo chega uma só gota.
(poeta
colombiano falecido a 23 de maio de 1886)
Tradução de
José Bento
sexta-feira, maio 22, 2015
quinta-feira, maio 21, 2015
quarta-feira, maio 20, 2015
A Voz
Da tua voz
o corpo
o tempo já
vencido
os dedos que
me
vogam
nos cabelos
e os lábios
que me
roçam pela
boca
nesta mansa
tontura
em nunca
tê-los...
Meu amor
que quartos
na memória
não ocupamos
nós
se não
partimos...
Mas porque
assim te invento
e já te
troco as horas
vou passando
dos teus braços
que não sei
para o vácuo
em que me deixas
se demoras
nesta mansa
certeza que não vens.
(Maria
Teresa Horta faz hoje 78 anos)
segunda-feira, maio 18, 2015
Acontecido
Como quem se
banhasse
no mesmo rio
de águas
repetidas,
outra vez
era setembro
e o amor tão
novo.
Iguais, teu
hálito mascavo
e minha mão
inquieta.
Novamente o
quarto,
a praça
vista da janela,
teu peito.
Depois eu
era só - vê -
sob a chuva
miúda daquele dia.
(poeta
carioca que hoje faz 54 anos)
domingo, maio 17, 2015
sábado, maio 16, 2015
sexta-feira, maio 15, 2015
Diz Toda a
Verdade
Diz toda a
Verdade mas di-la tendenciosamente -
O êxito está
no Circuito
É demasiado
brilhante para o nosso enfermo Prazer
A esplêndida
surpresa da Verdade
Como o
Relâmpago se torna mais fácil para as Crianças
Com uma
amável explicação
A Verdade
deve ofuscar gradualmente
Ou cada
homem ficará cego -
(poetisa
estado-unidense falecida a 15 de Maio de 1886)
Tradução de
Nuno Júdice
quinta-feira, maio 14, 2015
As Relíquias
de Lincoln
Senhor
Presidente
Nesta Cidade
Imperial,
Afogada em
mexericos e poder,
Onde o
mármore devora o mármore
E o seu
gabinete foi manchado,
Eu vi
piranhas a correr
Entre as
colunas rosa-vinho, ávidas por arrancar a carne
Dos ossos da
República.
Ninguém lhe disse
Como o
sangue lentamente escorre
Da sua ferida
secreta?
(poeta
estado-unidense falecido faz hoje 9 anos)
quarta-feira, maio 13, 2015
Cantiga de
Malazarte
Eu sou o
olhar que penetra nas camadas do mundo,
ando debaixo
da pele e sacudo os sonhos.
Não desprezo
nada que tenha visto,
todas as
coisas se gravam pra sempre na minha cachola.
Toco nas
flores, nas almas, nos sons, nos movimentos,
destelho as
casas penduradas na terra,
tiro os
cheiros dos corpos das meninas sonhando.
Desloco as
consciências,
a rua estala
com os meus passos,
e ando nos
quatro cantos da vida.
Consolo o
herói vagabundo, glorifico o soldado vencido,
não posso
amar ninguém porque sou o amor,
tenho me
surpreendido a cumprimentar os gatos
e a pedir
desculpas ao mendigo.
Sou o
espírito que assiste à Criação
e que bole
em todas as almas que encontra.
Múltiplo,
desarticulado, longe como o diabo.
Nada me fixa
nos caminhos do mundo.
(poeta
mineiro nascido faz hoje 114 anos)
terça-feira, maio 12, 2015
Resgate
Há qualquer
coisa aqui de que não gostam
da terra das
pessoas ou talvez
deles
próprios
cortam isto
e aquilo e sobretudo
cortam em
nós
culpados sem
sabermos de quê
transformados
em números estatísticas
défices de
vida e de sonho
dívida
pública dívida
de alma
há qualquer
coisa em nós de que não gostam
talvez o
riso esse
desperdício.
Trazem
palavras de outra língua
e quando
falam a boca não tem lábios
trazem
sermões e regras e dias sem futuro
nós
pecadores do Sul nos confessamos
amamos a
terra o vinho o sol o mar
amamos o
amor e não pedimos desculpa.
Por isso
podem cortar
punir
tirar a
música às vogais
recrutar
quem os sirva
não podem
cortar o verão
nem o azul
que mora
aqui
não podem
cortar quem somos.
(Manuel
Alegre faz hoje 79 anos)
segunda-feira, maio 11, 2015
O Poeta e a
Nau
Vai errante,
no Mar, uma nau sem governo...
O oceano é
chão, o céu azul fundindo em aço...
As velas
mortas... Nem sequer vento galerno
As vem
inchar para dormir no seu regaço!...
Sobre o
antigo convés pesa um velho cansaço,
E ou destino
fatal ou maldição do inferno,
O mastro
grande em vão aponta para o espaço...
- Sobre as
ondas a nau é um cárcere eterno!
Dominando em
redor, lá na gávea mais alta,
Um marujo, a
cantar, fala do Além, e exalta
Um passado
esplendor sobre a nau sepulcral...
“Porque o
vento há-de vir aninhar-se nas velas!”
“Porque a
nau voará, - tocará nas estrelas!...”
- O marujo é
Poeta - e a nau... Portugal!
(poeta
amarantino nascido faz hoje 126 anos)
domingo, maio 10, 2015
A
Divisibilidade: a Invisibilidade a Dois
A mulher
divide-se em gestos particulares
o homem
divide-se também. Se o átomo é
divisível só
poeta o diz.
a mulher
divide-se em gestos
extremos
coloridos arenosos destilados.
dois homens
são duas divisões de uma
casa que já
foi um animal de costas
para o seu
pólo mágico.
A
divisibilidade da luz aclara os mistérios.
A mulher tem
filhos. Descobrem-se
partículas
soltas um dedo mínimo
o peso menos
pesado da balança
um cabelo eloquente
em desagregação
Gestos
estrídulos dividem a mulher
o homem
divide-a ainda.
(Luiza Neto
Jorge nasceu faz hoje 76 anos)
sábado, maio 09, 2015
sexta-feira, maio 08, 2015
Vai ardendo
a neve
Desaperto as
grades
Com a mão
segura
E liberto as
aves.
Elas sobem
tontas;
Rodopiam
livres;
E, serenas,
partem
Para além
dos montes.
São apenas
pombas,
Ou a
profecia
De mudança
breve?
Entretanto,
espero;
E na tarde fria
Vai ardendo
a neve.
(poeta
flaviense nascido faz hoje 102 anos)
quinta-feira, maio 07, 2015
Paixão
Secreta
Acordei com
os primeiros pássaros,
já minha
lâmpada morria.
Fui até à
janela aberta e sentei-me,
com uma
grinalda fresca
nos cabelos
desatados...
Ele vinha
pelo caminho
na névoa cor
de rosa da manhã.
Trazia ao
pescoço
uma cadeia
de pérolas
e o sol
batia-lhe na fronte.
Parou à
minha porta
e disse-me
ansioso:
- Onde está
ela?
Tive
vergonha de lhe dizer:
- Sou eu,
belo caminhante,
sou eu.
Anoitecia
e ainda não
tinham acendido as luzes.
Eu atava o
cabelo, desconsolada.
Ele chegava
no seu carro
todo
vermelho, aceso pelo sol poente.
Trazia o
fato cheio de poeira.
Fervia a
espuma
na boca
anelante dos seus cavalos...
Desceu à
minha porta
e disse-me
com voz cansada:
- Onde está
ela?
Tive
vergonha de lhe dizer:
- Sou eu,
fatigado caminhante,
sou eu.
Noite de
Abril.
A lâmpada
arde neste meu quarto
que a brisa
do Sul
enche
suavemente.
O papagaio
palrador
dorme na sua
gaiola.
O meu
vestido é azul
como o
pescoço dum pavão,
e o manto
verde como a erva nova.
Sentada no
chão, perto da janela,
olho a rua
deserta ...
Passa a
noite escura
e não me
canso de cantar:
- Sou eu,
caminhante sem esperança,
sou eu.
(Rabindranath
Tagore nasceu a 7 de Maio de 1861)
Tradução de
Manuel Simões
quarta-feira, maio 06, 2015
Uma Doença
Cúmplice
uma doença
cúmplice, marcas púrpura
dão ao teu
rosto a expressão do exílio
a que te
submetes, gemeste
toda a
noite, soçobraste
à febre alta
do final da tarde, uma prega,
vincada no
teu rosto,
mantém-te
inanimado
entre a
vigília e a injúria
que há no
sacrifício
e te põe a
carne em chaga.
uma doença
altiva, a consistência
do silêncio
é como aço e o transe
permanece, é
superiormente excessiva
tanta
angústia.
(poeta
portuense que hoje faz 62 anos)
terça-feira, maio 05, 2015
O vento e eu
O vento
morria de tédio
Porque
apenas gostava de cantar
Mas não
tinha letra alguma para a sua própria voz,
Cada vez
mais vazia...
Tentei então
compor-lhe uma canção
Tão comprida
como a minha vida
E com
aventuras espantosas que eu inventava de súbito,
Como aquela
em que menino eu fui roubado pelos ciganos
E fiquei
vagando sem pátria, sem família, sem nada neste vasto mundo...
Mas o vento,
por isso,
Me julga
agora como ele...
E me dedica
um amor solidário, profundo!
(Mário
Quintana faleceu faz hoje 21 anos)