Paixão
Secreta
Acordei com
os primeiros pássaros,
já minha
lâmpada morria.
Fui até à
janela aberta e sentei-me,
com uma
grinalda fresca
nos cabelos
desatados...
Ele vinha
pelo caminho
na névoa cor
de rosa da manhã.
Trazia ao
pescoço
uma cadeia
de pérolas
e o sol
batia-lhe na fronte.
Parou à
minha porta
e disse-me
ansioso:
- Onde está
ela?
Tive
vergonha de lhe dizer:
- Sou eu,
belo caminhante,
sou eu.
Anoitecia
e ainda não
tinham acendido as luzes.
Eu atava o
cabelo, desconsolada.
Ele chegava
no seu carro
todo
vermelho, aceso pelo sol poente.
Trazia o
fato cheio de poeira.
Fervia a
espuma
na boca
anelante dos seus cavalos...
Desceu à
minha porta
e disse-me
com voz cansada:
- Onde está
ela?
Tive
vergonha de lhe dizer:
- Sou eu,
fatigado caminhante,
sou eu.
Noite de
Abril.
A lâmpada
arde neste meu quarto
que a brisa
do Sul
enche
suavemente.
O papagaio
palrador
dorme na sua
gaiola.
O meu
vestido é azul
como o
pescoço dum pavão,
e o manto
verde como a erva nova.
Sentada no
chão, perto da janela,
olho a rua
deserta ...
Passa a
noite escura
e não me
canso de cantar:
- Sou eu,
caminhante sem esperança,
sou eu.
(Rabindranath
Tagore nasceu a 7 de Maio de 1861)
Tradução de
Manuel Simões
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