Cantiga de
Malazarte
Eu sou o
olhar que penetra nas camadas do mundo,
ando debaixo
da pele e sacudo os sonhos.
Não desprezo
nada que tenha visto,
todas as
coisas se gravam pra sempre na minha cachola.
Toco nas
flores, nas almas, nos sons, nos movimentos,
destelho as
casas penduradas na terra,
tiro os
cheiros dos corpos das meninas sonhando.
Desloco as
consciências,
a rua estala
com os meus passos,
e ando nos
quatro cantos da vida.
Consolo o
herói vagabundo, glorifico o soldado vencido,
não posso
amar ninguém porque sou o amor,
tenho me
surpreendido a cumprimentar os gatos
e a pedir
desculpas ao mendigo.
Sou o
espírito que assiste à Criação
e que bole
em todas as almas que encontra.
Múltiplo,
desarticulado, longe como o diabo.
Nada me fixa
nos caminhos do mundo.
(poeta
mineiro nascido faz hoje 114 anos)
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