How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
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sábado, novembro 30, 2013
sexta-feira, novembro 29, 2013
Separação
Hoje nos
separamos para sempre
e isso faz o
mundo transformar-se.
Tudo nele
anuncia a traição:
os rios vão
se afastando das margens,
as nuvens
vão se afastando do céu,
a mão
direita olha para a esquerda
e arrogante
diz: “Vou embora, adeus!”
Abril não
mais prepara o mês de maio,
mês de maio
que nunca mais verás,
e as flores
se desfolham, feitas pó.
É a derrota
do azul para o amarelo!
Já as
últimas flores se esturricam,
comprimento
e largura não há mais,
o branco, em
estertor, já agoniza,
deixando um
arco-íris de orfãzinhas.
A natureza
afoga em sua tristeza,
a maré baixa
sobe pela margem,
calam-se os
sons e isso porque nós,
você e eu,
pra sempre nos deixamos.
(poetisa
russa falecida faz hoje 3 anos)
Tradução de
Lauro Machado Coelho
quinta-feira, novembro 28, 2013
Momento
Lírico
Dá-me as
tuas mãos, e vamos
Calados pela
estrada
Sob a bênção
dos ramos
E as flores
da madrugada.
Onde houver
uma fonte,
Paremos a
beber
As águas de
outra fonte
Ainda por
nascer.
Onde houver
um jardim,
Entremos, de
mãos juntas,
Mas às rosas
e aos lírios,
Não façamos
perguntas.
Ouçamos os
perfumes,
No zumbir
das abelhas,
E colhamos
apenas
Duas rosas
vermelhas.
E guardemos
as rosas,
Só para
desfolhar
Nas mãos da
madrugada
Que o céu
poisa no mar.
(José Campos
de Figueiredo faleceu em Coimbra em 28 de Novembro de 1965)
quarta-feira, novembro 27, 2013
Al borde
Soy alta;
en la guerra
llegué a
pesar cuarenta kilos.
He estado al
borde de la tuberculosis,
al borde de
la cárcel,
al borde de
la amistad,
al borde del
arte,
al borde del
suicidio,
al borde de
la misericordia,
al borde de
la envidia,
al borde de
la fama,
al borde del
amor,
al borde de
la playa,
y, poco a
poco, me fue dando sueño,
y aquí estoy
durmiendo al borde,
al borde de
despertar.
(poetisa
madrilena falecida faz hoje 15 anos)
terça-feira, novembro 26, 2013
Ortofrenia
Aclamações
dentro do
edifício inexpugnável
aclamações
por já
termos chapéu para a solidão
aclamações
por sabermos
estar vivos na geleira
aclamações
por ardermos
mansinho junto ao mar
aclamações
porque
cessou enfim o ruído da noite a secreta alegria por escadas
de caracol
aclamações
porque uma
coisa é certa: ninguém nos ouve
aclamações
porque outra
é indubitável: não se ouve ninguém
(Mário
Cesariny faleceu faz hoje 7 anos)
segunda-feira, novembro 25, 2013
A minha mão
no teu cabelo
Os raios de
chuva amolecem
O papel e a
tua boca
Mexe-se em
mastigações
De lágrimas
que molham
Como a chuva
a rua
O teu rosto.
A alegria
não está no sol
Ou no
sorriso contrariado
E tantas
vezes fingido.
Mas na
sensação
Que ao
tocar-te provoca
A minha mão
no teu cabelo.
(escritor
bracarense que hoje faz 48 anos)
domingo, novembro 24, 2013
Máquina do
Mundo
O Universo é
feito essencialmente de coisa nenhuma.
Intervalos,
distâncias, buracos, porosidade etérea.
Espaço
vazio, em suma.
O resto, é a
matéria.
Daí, que
este arrepio,
este
chamá-lo e tê-lo, erguê-lo e defrontá-lo,
esta fresta
de nada aberta no vazio,
deve ser um
intervalo.
Rómulo Vasco da Gama de Carvalho nasceu a 24 de Novembro de 1906
sábado, novembro 23, 2013
Bicicleta
Lá vai a
bicicleta do poeta em direcção
ao símbolo,
por um dia de verão
exemplar. De
pulmões às costas e bico
no ar, o
poeta pernalta dá à pata
nos pedais.
Uma grande memória, os sinais
dos dias
sobrenaturais e a história
secreta da
bicicleta. O símbolo é simples.
Os êmbolos
do coração ao ritmo dos pedais -
lá vai o
poeta em direcção aos seus
sinais. Dá à
pata
como os
outros animais.
O sol é
branco, as flores legítimas, o amor
confuso. A
vida é para sempre tenebrosa.
Entre as
rimas e o suor, aparece e desaparece
uma rosa. No
dia de verão,
violenta, a
fantasia esquece. Entre
o nascimento
e a morte, o movimento da rosa floresce
sabiamente.
E a bicicleta ultrapassa
o milagre. O
poeta aperta o volante e derrapa
no instante
da graça.
De pulmões
às costas, a vida é para sempre
tenebrosa. A
pata do poeta
mal ousa
pedalar. No meio do ar
distrai-se a
flor perdida. A vida é curta.
Puta de vida
subdesenvolvida.
O bico do
poeta corre os pontos cardeais.
O sol é
branco, o campo plano, a morte
certa. Não
há sombra de sinais.
E o poeta dá
à pata como os outros animais.
Se a noite
cai agora sobre a rosa passada,
e o dia de
verão se recolhe
ao seu nada,
e a única direcção é a própria noite
achada? De
pulmões às costas, a vida
é tenebrosa.
Morte é transfiguração,
pela imagem
de uma rosa. E o poeta pernalta
de rosa
interior dá à pata nos pedais
da confusão
do amor.
Pela noite
secreta dos caminhos iguais,
O poeta dá à
pata como os outros animais.
Se o sul é
para trás e o norte é para o lado,
é para
sempre a morte.
Agarrado ao
volante e pulmões às costas
como um pneu
furado,
o poeta
pedala o coração transfigurado.
Na memória
mais antiga a direcção da morte
é a mesma do
amor. E o poeta,
afinal mais
mortal do que os outros animais,
dá à pata
nos pedais para um verão interior.
(poeta
madeirense que hoje faz 83 anos)
sexta-feira, novembro 22, 2013
Sempre
soubemos
Quase
acreditámos na luz rodopiando as sombras
para tornar
transparente a maciez do húmus
preso à
torrente das chuvas.
Pressentíamos
que qualquer coisa de comovente
se alojava
no brilho da folhagem atravessada
pelo perfil
das aves migratórias.
Sempre
soubemos que há rosas
que se
desfolham antes de alguém as ver
derramando
um leve aroma sobre o delírio da cor
para
deslumbramento das borboletas.
Nunca se
repete, sempre o soubemos,
a curva do
tempo na concha ansiosa do olhar.
(poetisa
figueirense que faz hoje 67 anos)
quinta-feira, novembro 21, 2013
Inscrição
Ama
silenciosamente o teu destino.
Nem pátria
nem palavras memoráveis
farão durar
a luz nos teus sentidos:
alguns
objectos que te lembrem, poucos livros
e versos que
sílaba a sílaba transfiguras
até
entardecer cada palavra.
Teces o teu
tremor. E sobre a pedra
a marca que
ficar será de ausência.
(poeta egitaniense
que hoje faz 63 anos)
quarta-feira, novembro 20, 2013
A Tua Amada
Ninguém ma
descreveu, mas era ela…
Passou por
mim, airosa como a flor;
beleza que
valesse o teu amor,
devia ser
precisamente aquela…
E
segredou-me a voz interior:
«Repara
atentamente como é bela!
Não te
parece a graça duma estrela,
tomando
movimento, forma e cor?»
− Que julgas
se passou na minha ideia?
Desgosto
enorme de sentir-me feia
ou mágoa de
a não ver feia também?
Se a inveja
é predicado de mulher,
naquela ocasião
deixei de o ser
e, só por
teu amor, eu quis-lhe bem!…
(poetisa
portuense falecida faz hoje 33 anos)
terça-feira, novembro 19, 2013
Oferta
Nada tendo
para te oferecer,
te oferto:
as rédeas da
minha imaginação,
os meus
versos,
e a sua
precária imperfeição.
O que possa
haver no meu canto
de puro e
limpo,
claro dia,
sol a pino,
frutos e
flores,
cheiro de
chuva subindo da terra seca,
tudo te
oferto,
nesse verso,
pobre bandeja.
Escravo do
sonho,
Pintor do
nada,
Equilibrista
em terra firme,
Almirante
sem navio,
triste até
quando sorrio,
te ofereço
como teto e casa
o meu ideal
e esse sol bravio.
(escritor
pernambucano nascido faz hoje 72 anos)
segunda-feira, novembro 18, 2013
Atropelamento
e Fuga
Era preciso
mais do que silêncio,
era preciso
pelo menos uma grande gritaria,
uma crise de
nervos, um incêndio,
portas a
bater, correrias.
Mas ficaste
calada,
apetecia-te
chorar mas primeiro tinhas que arranjar o cabelo,
perguntaste-me
as horas, eram 3 da tarde,
já não me
lembro de que dia, talvez de um dia
em que era
eu quem morria,
um dia que
começara mal, tinha deixado
as chaves na
fechadura do lado de dentro da porta,
e agora ali
estavas tu, morta (morta como se
estivesses
morta!), olhando-me em silêncio estendida no asfalto,
e ninguém
perguntava nada e ninguém falava alto!
(Manuel
António Pina nasceu faz hoje 70 anos)
domingo, novembro 17, 2013
Silenciosa
Música do Cosmos
As bocas que
estão fechadas
não estão
caladas
Os braços
que estão caídos
não estão
imóveis
E os olhos
que estão voltados
não estão
sem ver
Homem só
homem só
tu bem me
compreendes quando digo
que não
estás só
e bem
entendes bem entendes
este longo
discurso enchendo o ar
que vem de
toda a parte e vai a toda a parte
eternamente
em surdina
(Mário
Dionísio faleceu faz hoje 20 anos)
sábado, novembro 16, 2013
Espaço curvo
e finito
Oculta
consciência de não ser,
Ou de ser
num estar que me transcende,
Numa rede de
presenças e ausências,
Numa fuga
para o ponto de partida:
Um perto que
é tão longe, um longe aqui.
Uma ânsia de
estar e de temer
A semente
que de ser se surpreende,
As pedras
que repetem as cadências
Da onda
sempre nova e repetida
Que neste
espaço curvo vem de ti.
(José
Saramago nasceu faz hoje 91 anos)
sexta-feira, novembro 15, 2013
O REGO
Queriam
canalizar
as águas pro
monjolo
mas o que
abriram foi um rego de céu
Agora
a manhã
fugiu do céu
e veio morar
dentro do açude.
De tarde
o céu
entorna o crepúsculo no açude,
cujo
silêncio paralítico
os sapos
espetam
com
canafístulas de gluglus.
As estrelas
lavam roupa de luz
nos
espraiados.
Já houve até
quem visse anjos
- muitos
anos - voando
nas asas dos
pirilampos.
Foi desse
jeito
que os
homens escravizaram um retalho de céu,
amarrando-o
ao rabo do monjolo.
(escritor
goiano nascido faz hoje 98 anos)
quinta-feira, novembro 14, 2013
quarta-feira, novembro 13, 2013
Trago-te nos
braços
Trago-te nos
braços ao cair da tarde
quando a
glicínia cheira na porta do meu corpo
tacteias a
espaço a porta entreaberta
e reténs o
grito na fogueira da boca
convulsionada
e ágil te conduzo
na relva
agora húmida e macia.
Fecho-me
para crescer em ti
os dedos
acordados e subtis
e é tudo
água, vórtice, clarão.
(poetisa
satense nascida faz hoje 76 anos)
terça-feira, novembro 12, 2013
O Duo
Doloroso
Difícil o
vazio. Mais difícil
entre as
quatro paredes do intelecto.
Ali, entre
os sentidos, sob o teto
e o solo
onde começa o precipício,
o vôo,
impertinente, tinha início
a todo
instante e nunca era direto,
era oblíquo:
ora o gozo era suplício,
ora o
suplício mesmo era dileto...
O abismo era
metódico, seu método
audaz, mas
um se foi e outro esvaiu-se
como mais um
suspiro sem remédio.
Já o vazio,
o mais límpido exercício,
era um puro
palácio aritmético...
Mas e a vida? Ah, a vida era esse vício!
(poeta
carioca nascido a 12 de Novembro de 1940)
segunda-feira, novembro 11, 2013
Uma vida
esquecida
Para o
Fernando Alves dos Santos
Eu conheço o
vidro franja por franja
meticulosamente
à porta
parado um homem oco
franja por
franja no espaço
meticulosamente
oco uma porta parada.
Um relógio
dá dez badaladas ininterruptamente
dez
badaladas por brincadeira dança
um homem com
pernas de mulher
e um olhar
devasso no Marte
passo por
passo uma criança chora
uma águia e
um vampiro recuados no tempo
(poeta
lisboeta falecido faz hoje 60 anos, com apenas 25 de idade)
Hotel
Fraternité
Aquele que
não tem com o que comprar uma ilha
Aquele que
espera a rainha de sabá na frente de um cinema
Aquele que
rasga de raiva e desespero sua última camisa
Aquele que
esconde um dobrão de ouro no sapato furado
Aquele que
olha nos olhos duros do chantagista
Aquele que
range os dentes nos carrocéis
Aquele que
derrama vinho rubro na cama sórdida
Aquele que
toca fogo em cartas e fotografias
Aquele que
vive sentado nas docas debaixo das gaivotas
Aquele que
alimenta os esquilos
Aquele que
não tem um centavo
Aquele que
observa
Aquele que
dá socos na parede
Aquele que
grita
Aquele que
bebe
Aquele que
não faz nada
Meu inimigo
Debruçado
sobre o balcão
Na cama em
cima do armário
No chão por
toda parte
Agachado
Olhos fixos em
mim
Meu irmão
(poeta
alemão que hoje faz 84 anos)
Tradução de
Aldo Fortes. Música e interpretação de Arnaldo Antunes
Modelo da
teoria do conhecimento
Aqui tens
uma grande
caixa
com o
rótulo:
caixa.
Se a
abrires,
encontrarás
nela
uma caixa
com o
rótulo:
caixa
tirada de
uma caixa
com o
rótulo:
caixa.
Se a abrires
–
agora me
refiro
a esta caixa
não àquela
–,
encontrarás
nela
uma caixa
com o rótulo
etcetera;
e se
continuares
assim,
encontrarás,
depois de
infindáveis fadigas,
uma caixa
infinitamente
pequena
com um
rótulo
tão miúda
que, por
assim dizer,
se evapora
diante de teus olhos.
É uma caixa
que existe
só na tua imaginação.
Uma caixa
totalmente
vazia.
(poeta
alemão que hoje faz 84 anos)
(Tradução de
Kurt Scharf e Armindo Trevisan)