O fiel amigo

A CGD é o fiel amigo do Estado português. Dorme serenamente aos seus pés.

Por isso, as notícias da sua privatização, anunciadas por Pedro Passos Coelho antes de ganhar as eleições, eram manifestamente exageradas. A máxima romana de disciplina era que um soldado deveria temer mais os seus oficiais do que o inimigo. Mas a CGD não teme o Estado. A CGD é o Estado. Este Estado. É por ser demasiado leal a ele que a CGD nunca será privatizada. Não é por mais nenhuma razão. Liberalismo ou estatismo não são para aqui chamados. Neste país, os melhores liberais são os mais fiéis estatistas quando os astros são aziagos. Não surpreende esta nova composição da administração da CGD que deixou atónitos todos os que acreditavam que algo ia mudar.

A obsessão com a sinceridade na política é um produto de consumo como todos os outros. Com estas nomeações ficou-se com alguma ideia concreta do que vai ser a CGD? Vai ser o braço armado do Estado? A bengala do Governo? Um apêndice da Troika? A sopa dos pobres dos partidos da maioria? Um clube de amigos alargado? Vai ser tudo isso e mais alguma coisa. Porque até inclui advogados que defendem interesses que têm conflitos de interesse com a CGD. Surpresa? Não percam o próximo episódio da telenovela das nomeações. Sobra uma dúvida: este Governo já se rendeu ao destino de todos os executivos que é gerir interesses? Se já, pode pedir a crédito uma bandeira branca. Mas o sinal que deixou é um passe social falsificado: não tem crédito. O pagamento fica por conta de quem vai pagar mais 15% ou 22% para viajar em Lisboa sem recorrer ao carro.

Fernando Sobral, in Jornal de Negócios