terça-feira, março 29, 2011


O TERRAMOTO

[a uma pessoa intemporal]

querida joana, o terramoto apanhou pessoas que faziam amor,
pessoas que morriam de uma causa lenta e dolorosa,
pessoas que celebravam contratos com apertos de mão,
pessoas com instrumentos na terra fértil,
pessoas que faziam de conta, pessoas sem relógio.
os que faziam amor perpetuaram-no, os que morriam
viram a sua morte impedida por uma colectiva e mais bem aceite,
os que celebravam contratos perderam as mãos coladas,
os que trabalhavam na terra fértil foram soterrados,
os que faziam de conta procuraram cumprir uma promessa,
os que não tinham relógio escaparam ao tempo.
meu amor, sermos egoístas é tentar impedir que as coisas mudem,
sermos intensos é não respeitar causas e efeitos,
espero-te no meu futuro, ainda que ele não seja
o efeito directo de um presente que ainda treme muito.


(poeta algarvio nascido a 29 de Março de 1982)

1 comentário:

A. disse...

Os Terramotos são danados!... Às vezes tão danados quanto a Alma danada dos danados!... Avançam e, ainda que avisando, são impiedosos no rasgar da terra, da afeição e dos laços!... Desmoronamentos acontecem como acontecem castelos de cartas em cima de uma tentativa frágil, ou de castelos de areia sobre nenúfares no mar!!!!!... Há pequenos sismos, avisos, há beijos que ficaram por dar, há o Amar que ficou e há momentos precisos na exactidão do lamento, do arrependimento, que acabou por ficar!... E restam corações em ruínas!... Terramotos!...



Abraço