quarta-feira, fevereiro 16, 2011


As Muralhas da Noite

A mão ia para as costas da madrugada.
As mulheres estendiam as janelas da alegria
nos ouvidos onde não se apagavam as alegrias.

Entre os dentes do mar acendiam-se braços.

Os dias namoravam sob a barca do espelho.
Havia uma chuva de barcos enquanto o dia tossia.
E da chuva de barcos chegavam colchões,
camas, cadeiras, manadas de estradas perdidas
onde cantavam soldados de capacetes
por pintar no coração da meia-noite.

Eram os barcos que guardavam as muralhas
da noite que a mão ouvia nas costas
da madrugada entre os dentes do mar.

João Maimona

(poeta angolano)

2 comentários:

jrd disse...

A espera do desembarque, nas costas da madrugada.

Abraço

Sofá Amarelo disse...

Os poetas africanos conseguem brincar com as palavras e fazer delas um hino apenas observando o que os rodeia. A fazer lembrar Mia Couto!