How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
sábado, agosto 29, 2009
Nuvem
Gotas de suor da terra evaporadas
ao calor, e ao soprar das ventanias,
amarguras dos campos condensadas
rumo dos céus, lá nas alturas frias!
Para onde vais, fugindo assim às pressas,
tu que és filha daqui? Não te comove
o aspecto bruto, o horror medonho dessas
regiões em que há seis meses que não chove?
Peregrina, mimosa retirante,
nômade filha do sertão agreste,
pois é fado viver assim errante
quem nasceu nessas bandas do Nordeste?
Reclamam-te esses campos inditosos
a umidade fecunda dos teus beijos
na saudade dos rústicos festejos:
águas de enchentes, roças e outros gozos.
Nuvem - gases do vale, véus da serra -
para onde vais, fugindo assim em bando?
Filha rebelde e pródiga da terra,
quando é que um dia hás de voltar chorando?
O chão, o céu, os pássaros em coro,
rios, açudes, tudo mais enfim,
ressuscita à harmonia do teu choro.
O próprio sol se ameiga ao ver-te assim.
E cala o filho do sertão adusto,
que desde o berço até à campa sofre
a dor que lhe arranquei do peito angusto
e aqui fica gemendo nessa estrofe:
Ai! Para que plantar? Só para a mágoa
de assistir o espetáculo tremendo
de o que plantei aos poucos ir morrendo
à fartura de sol e à mingua d'água?
Nuvem, piedade! Ao menos com o manto
de tuas sombras cobre os sertões nus
para que o sol não queime a terra tanto
e o homem não viva amaldiçoando a luz!...
Cristiano Cartaxo*
*poeta brasileiro
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