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domingo, maio 31, 2009

Pavoneios
Enquanto o povo definha subjugado pela crise, pelo desemprego e pela falta de perspectivas de futuro, há quem se pavoneie pelo país com a mira nas sinecuras de Estrasburgo. Imagem : Shah Marai/AFP/Getty Images

sábado, maio 30, 2009

A pedra A pedra fala calada, bruta como um palavrão mal criado, faz rugas onde a chuva encosta e desbota-se de exatidão pelos ruídos por onde penetra o pensamento humano através do vento. A pedra não sabe receber o poeta, o poeta é que a recebe na mão, e de poeta em poeta o mundo virou um pedregulho de sintomas novos. Vamos dar analgésico para as pedras aguentarem o peso dos homens quando forem pisadas, pois todo caminho tem pedra no meio da estrada, e de pedra em pedra nossa história está virando um Muro das Lamentações Cristiane Neder* *poetisa brasileira

sexta-feira, maio 29, 2009

Conhecemos o Irão? Será que tudo o que sabemos sobre o Irão está errado? Fareed Zakaria, o prestigiado director da não menos prestigiada Newsweek entende que sim ou que, pelo menos, é bem mais complicado do que pensamos. Aquele a quem a inenarrável caçadora de alces do Alasca considerou um fundamentalista muçulmano (pelo menos foi o que disse depois de Obama se ter encontrado com ele durante a campanha) pensa que, provavelmente, o Irão não quer a bomba atómica para nada e que apenas pretende um programa nuclear para fins civis; relembra a condenação que Khomeini fez da bomba nuclear e a fatwa lançada em 2004 pelo actual líder supremo, Ali Khamenei, na qual descreve o uso de armas nucleares como imoral; afirma que os iranianos não são suicidas e que o actual presidente é um muçulmano laico que não conta com o apoio integral dos clérigos, que, como se sabe, definem a política externa (e a maior parte da interna) do país. Isto e muito mais para ler aqui, no original ou, para quem preferir, aqui, em castelhano.

quinta-feira, maio 28, 2009

O mundo O mundo ri enraizado no trigo Águas medem os passos do sol A ave livre veste o ar de vozes O coração rima com nuvens Mas um menino soluça sobre a pedra E o mundo passa refletido nos punhais. Cláudio Feldman* *poeta brasileiro

quarta-feira, maio 27, 2009

Proibições Em mais uma clara demonstração das medidas fascizantes e xenófobas que têm vindo a adoptar, as autoridades italianas (neste caso, as municipais) decretaram a lei seca na cidade de Roma e arredores desde as 23H00 de ontem até amanhã de manhã, por causa do jogo de hoje entre o Barcelona e o Manchester United, com o argumento de que querem evitar pancadarias entre os adeptos do Manchester e os adeptos do Roma, que ainda não conseguiram digerir os 7 golos contra 1 que enfardaram há dois anos numa deslocação a Inglaterra. Desculpa esfarrapada e dirigida apenas contra os ingleses, sabendo-se que ingleses e italianos não precisam de cerveja para andarem à porrada, que a medida não fará mossa aos romanos - que se podem abastecer até cair na suas casas ou nas dos amigos (nisto os italianos são uns mãos largas), e que a Máfia não deixará ninguém morrer à sede, vendendo à socapa cada pinto (mais de meio adulto, que é o que os italianos chamam à nossa girafa) talvez por dez vezes o custo de ontem, que era de 3 euros. Gostava de saber qual seria a reacção dos italianos se, quando o Caimão se deslocasse a Londres, as autoridades decidissem fechar as escolas e recomendar às suas cidadãs com idades entre os 7 e os 77 anos que ficassem em casa para não serem apalpadas ou, em caso de absoluta necessidade, apenas saíssem com bigodes postiços, calças de golfe e camisolas largas que lhes disfarçassem completamente o busto feminino para não serem apanhadas nas malhas do velho e serôdio Il Cavalieri. E agora, vamos à loirinha, que cá em casa não há lei seca.

terça-feira, maio 26, 2009

Lágrimas de crocodilo Não fiquei muito surpreendido com o Relatório Ryan, do qual, devido à sua extensão de 2.600 páginas, apenas pude ler por alto as conclusões e recomendações do Executive Summary, pois há vários anos estava à espera de que a bomba estourasse na Irlanda com uma violência ainda maior do que nos Estados Unidos. Mesmo assim, a náusea, a revolta e o sentimento de impotência e vergonha inibiram-me de dizer, mais cedo, algo sobre o assunto. Não chegam as lágrimas de crocodilo e os pedidos de desculpa das ordens religiosas envolvida no escândalo durante mais de 60 anos porque, ao longo do tempo, muita gente sabia o que se passava, deu cobertura e negou o que era evidente. Com se isso não chegasse, a Congregation of Christian Brothers, já envolvida em abusos noutros países, passou os nove anos desde a criação da Comissão de Inquérito a torpedear o trabalho desta e conseguiu mesmo que o tribunal impedisse a Comissão de divulgar os nomes dos implicados, alegando que muitos já tinham morrido e não se podiam defender. Em circunstâncias destas é preciso levar os criminosos (e criminosas) à justiça, vivos ou mortos, para que sejam, mesmo que postumamente, responsabilizados pelos seus actos hediondos. E se os responsáveis da Igreja na Irlanda não têm poderes para isso, como parece depreender-se deste artigo de hoje do Irish Independent, o Vaticano não só pode como tem o dever de o fazer, exigindo às ordens religiosas a lista dos sacripantas - perpetradores, coniventes e ocultadores - e entregando-a às autoridades judiciais do país. Só assim haverá alguma reparação moral dos abusados e seviciados, só assim os que morreram e são inocentes poderão ser recordados na sua dignidade, só assim os que estão vivos e são inocentes poderão encarar os seus irmãos de frente e só assim milhões de católicos sentirão algum alívio para a sua vergonha.

segunda-feira, maio 25, 2009

Imagens interditas?
Tenho alguma dificuldade em entender por que motivo Barak Obama se opõe à decisão de um tribunal federal de tornar públicas todas as fotografias que mostram as mais desumanas sevícias praticadas sobre os prisioneiros da prisão iraquiana de Abu Ghraib, alegando que isso apenas iria contribuir para agravar a imagem do país e pôr em risco a vida dos seus militares. O sítio salon.com publicou recentemente vários ficheiros com 279 fotografias e 19 vídeos onde se pode ver o nível de degradação de que os seres (aparentemente) humanos são capazes. Muitas das imagens não são de todo recomendáveis a pessoas sensíveis, pois desde mutilações de genitais com bisturis e lâminas até simulações de sexo oral e sexo em grupo sob coacção aparece de tudo um pouco. Mas estas imagens não são as únicas divulgadas e coloca-se a questão de saber até onde terá ido a ignomínia, para que Obama se recuse a publicar aquilo que foi ordenado pelos tribunais. Para além da já reconhecida sodomização de prisioneiros, terão estes sido obrigados a praticar a bestialidade, nomeadamente com porcos, suprema humilhação para um muçulmano? Talvez Philip Gourevitch, editor da The Paris Review e um dos autores do livro The Ballad of Abu Ghraib, que teve a possibilidade de analisar todas as fotografias e explica aqui como e porquê as mesmas foram tiradas, tenha razão e as novas fotografias não venham dizer aos estado-unidenses nada que eles já não saibam. Fica é por explicar porque é que houve condenações dos peões que obedeceram às ordens e ficam impunes aqueles que as deram.

domingo, maio 24, 2009

O que todos querem é...
...embora não sejam nada inocentes.

sábado, maio 23, 2009

Formiga Pequeno dragão doméstico. Cabeça grávida de hibisco. Rústico abdome- cogumelo. Escava o incerto dos dias, para a trilha vertical de farelo, fúria e folhas. Carrega seus mortos nas costas, com precisa geometria de fábrica fúnebre. Claudio Daniel* *poeta brasileiro

sexta-feira, maio 22, 2009

Cinquentenário
Para mim continua a ser o melhor flamengo feito em Portugal, mas a sua qualidade está vários furos abaixo daquela que tinha quando era produzido na terra que lhe deu o nome. Ainda tenho saudades dos tempos em que, nas férias, ia ao local de fabricação comprar por uma ninharia algumas das bolas que, embora mantendo toda a qualidade, não podiam ser lançadas no mercado (para isso era suficiente terem um pequeno lanho). Um autêntico roubo ao património da maior vila do País que não quer ser uma pequena cidade e mais uma promessa por cumprir do picareta falante.

quinta-feira, maio 21, 2009

Diferença Afinal, há uma diferença, ainda que pequena, entre o cavaquismo e o socratismo. Na manisfestação dos polícias de hoje não houve molhados. Só se viram secos e não estavam "montados" em canhões de água, ao contrário do que sucedeu há 20 anos. Pormenores (ou pormaiores)!
A salgalhada Há dois factos políticos recentes que indiciam que grande parte da nossa classe política ou é incompetente, ou irresponsável, ou desonesta, ou demagógica ou usa da má-fé, ou é várias ou todas essas coisas ao mesmo tempo. Vamos ao caso Lopes da Mota. O estatuto do membro nacional no EUROJUST é definido pela Lei nº 36/2003 e dispõe que tal membro é nomeado por despacho conjunto dos Ministros dos Negócios Estrangeiros e da Justiça, sob proposta do Procurador-Geral da República, ouvido o Conselho Superior do Ministério Público. Mais diz a Lei que o membro nacional tem de ser um Procurador-geral adjunto, que lhe é subsidiariamente aplicável o disposto no Estatuto do Ministério Público e que depende directamente do Procurador-Geral da República no que se refere ao exercício das competências em território nacional. Em nenhum dos seus artigos a Lei prevê que o membro nacional do EUROJUST possa ser exonerado das suas funções antes do termo do mandato. Para mim, que não sou especialista em leis (sou melhor, dizem mesmo que excelente, a cozinhar rojões à moda do Minho, bacalhau à Brás, feijoada à transmontana e favas com entrecosto e enchidos do Alentejo, entre outras dietas), quer isto dizer que, legalmente, o magistrado Lopes da Mota não pode ser demitido pelo Governo. Não tive tempo nem pachorra para ler a totalidade do Lei nº 60/98, que define o Estatuto do Ministério Público, pelo que não sei se o Procurador Geral da República o pode demitir ou não, mas tenho dúvidas, dado que se trata de um Estatuto mais antigo. Ora, a Lei nº 36/2003 é de 22 de Agosto de 2003, quando a maioria da Assembleia da República pertencia à coligação PSD/PP, quando Manuela Ferreira Leite era Ministra das Finanças e Paulo Portas Ministro da Defesa e quando muitos dos actuais Deputados de todas as bancadas ocupavam lugar no Parlamento. Se a Lei tem um buraco, como parece ser o caso, ao não prever mecanismos de exoneração de um representante nacional num organismo europeu, a culpa é, em primeiro lugar, da maioria da altura, pelo que não se compreende o ar de virgens ofendidas de Ferreira Leite, Portas e outros deputados dessa maioria. Não tendo visto as actas da Legislatura, desconheço quem votou contra e se houve alguém que clamou contra o buraco, mas tenho para mim que a maioria daqueles que agora gritam tem culpas no cartório. O Governo pode ter feito muita borrada (e fez montes dela, tanta que o mau cheiro já tresanda para os concelhos limítrofes da capital), mas não tem de ser criticado por não fazer uma coisa que a Lei não lhe permite fazer. E o cinismo ou a má-fé assumem requintes de sem vergonhice descarada quando se exige que o Governo faça aquilo que Lopes da Mota é acusado de ter feito – pressionar o Ministério Público. Passando ao caso Dias Loureiro, o Estatuto dos Membros do Conselho de Estado é definido pela Lei nº 31/84, aprovada durante o Governo do Bloco Central. A lei diz que os Membros por inerência se mantêm enquanto exercerem funções (com excepção dos antigos Presidentes da República, que são Membros vitalícios), que os 5 escolhidos pelo Presidente se mantêm durante todo o mandato deste e que os 5 eleitos pela Assembleia se mantêm durante a Legislatura, exercendo funções até à tomada de posse dos novos escolhidos e eleitos. Cessação de funções? Apenas por renúncia, por morte ou por incapacidade permanente. E mesmo que sejam presos e condenados por crime punível com prisão maior quando apanhados em flagrante delito (nos restantes casos apenas podem ser detidos ou presos com autorização do Conselho) só podem ser suspensos temporariamente. Assim sendo, quer gostemos deste PR quer não - e eu não gosto, se Dias Loureiro não se demitir, nem o Presidente nem o Conselho de Estado o podem demitir. Perante os factos, que raio de legisladores temos nós que permitem que o Presidente da República possa ser destituído, o Governo demitido e a Assembleia dissolvida, mas entendem que um membro do Conselho de Estado ou um represente nacional no EUROJUST apenas devem cessar funções por renúncia ou morte? E que depois deitam para os ombros dos outros a responsabilidade pelos buracos legislativos que produziram? Imagem: Gravações com uma salgalhada erótica Hindu no templo de Kandariya Mahadeva India, cerca de 1050 AC - Fotografia de Massimo Borchi/Corbis

quarta-feira, maio 20, 2009

Vale a pena ler Não tinha em grande conta João Marcelino, director do velhinho Diário de Notícias, talvez porque, nas poucas vezes que li a Sábado na sua fase inicial, não ia nada à bola com aquilo que ele lá escrevia, na sua qualidade de director. Talvez isso se devesse à linha editorial da revista, que era e continua a ser demasiado conservadora para o meu gosto. Mas o seu editorial de hoje no DN é uma pequena peça de antologia que vale a pena ser lida, porque aborda de forma superior dois casos do momento: o da gravação de uma aula para pré-adolescentes em que a professora diz uma amontoado de enormidades, a menor das quais sobre assuntos de sexo - para mim é muito mais grave a exaltação que ela faz de si própria e o achincalhamento da mãe de uma aluna, como se um canudo conferisse autoridade moral a alguém - e o confronto entre as atitudes dos Parlamentos inglês e português relativamente a escândalos com despesas dos seus membros. No DN já podia ler com gosto o Baptista-Bastos, o José Saramago e, até, o Ferreira Fernandes. Pela amostra junta, talvez possa passar a fazê-lo mais vezes com os editoriais do director.

terça-feira, maio 19, 2009

Irremediavelmente pobre Um país que tem como líder do principal partido da oposição uma figura como Ferreira Leite, é um país irremediavelmente pobre do ponto de vista intelectual, mesmo que, por absurdo, venhamos a descobrir que vivemos sobre poços de petróleo e minas de ouro.
Tem-te-não-caias
Avassalados pelas pesporrências com que somos diariamente matraqueados por políticos obtusos através de jornais, rádios e televisões, corremos o risco de desaprender a distinguir o essencial do acessório, não dando a necessária atenção aos dias difíceis que a União Europeia atravessa, quer do ponto de vista económico quer quanto aos aspectos políticos e sociais, devido à falta de líderes capazes de enfrentar os desafios que se nos colocam. Inebriados pelo desmoronamento do bloco soviético e empurrados pelos interesses do império do bem, alguns países lançaram-se como abutres sobre os despojos do agonizante império do mal, não fosse o moribundo recuperar das maleitas e reclamar a sua parte. Saquearam o que puderam, prometeram os paraísos da liberdade e da vida folgada, lançaram torrentes de dinheiro nos bolsos dos governos que iam tocando a sua música, sem se preocuparem com quem havia de pagar a factura. Por mero cálculo político oportunista, fizeram o maior alargamento de sempre da União Europeia, não submetendo previamente os aspirantes à imprescindível recruta e sem adequar as estruturas do quartel para os desafios que uma incorporação apressada e em massa colocava. Anos depois, afogados na maior crise de que os mais velhos têm memória, as camaratas tremem de Dublin a Atenas e de Tallinn a Lisboa, ao mesmo tempo que as chamadas traves mestras se afundam na lama movediça das dívidas de neófitos e veteranos. Sobre os aspectos económicos, têm vindo a ser publicados vários alertas, quer para a situação da União Europeia no seu conjunto quer para a Eurozona em particular, dos quais destaco, pela sua actualidade, esta excelente coluna do economista e jornalista Anatole Kaletsky, publicada no Times de ontem. No que ao político e social diz respeito, os riscos que correm os sistemas públicos de reforma, o desemprego e os escândalos políticos são os quebra-cabeças de uma União que se preocupa mais em determinar o tamanho da cenoura e do pepino, a qualidade da alpista para os canários e periquitos ou o perímetro dos tomates, do que em tomar as decisões que se impõem para agarrar o touro da crise pelos cornos. Também não admira, quando não encontra ninguém mais apto para a liderança do que o paquete da cimeira das Lajes. Entretanto, no reino de sua majestade parece não haver político que consiga safar-se do lodaçal do reembolso de despesas, que vão desde os 87 cêntimos em latas para comida de cão até aos milhares de libras em jardinagem ou no reembolso de impostos municipais pela totalidade quando apenas tinham sido pagos 50%; o gaulês que gosta de chamar escumalha a alguns concidadãos e que tem de usar sapatos de saltos altos para parecer tão grande como a actual mulher, faz voz grossa, mas mais nada; a dona de casa alcandorada ao lugar de chanceler parece não saber para onde virar-se; os gregos não têm governo nem oposição; na Polónia segue a caça às bruxas, com todos aqueles sobre quem recai a mínima suspeita de colaboração com o regime comunista a serem saneados dos cargos públicos; o Caimão continua na crista da onda, a tentar apalpar trabalhadoras humanitárias, a dizer aos desalojados para fazerem de conta que estão a acampar, a escolher dançarinas, actrizes e adolescentes para carreiras políticas de acordo com o diámetro das coxas e o tamanho das mamas, a perseguir o único jornal que não lhe pertence e a fazer aprovar leis discriminatórias; bálticos, húngaros, romenos e outros não sabem o que hão-de fazer e também não vêem quem os possa ajudar; aqui ao lado, o desemprego vai quase nos 20%, o conluio entre PSOE e PP está para durar e espreitam as ameaças a quem tem a coragem de dizer que o rei vai nu (literalmente), como aconteceu com a proibição de a Iniciativa Internacionalista, liderada por Alfonso Sastre, sem dúvida o maior dramaturgo vivo do mundo, concorrer às Europeias, com base no argumento de que um elemento da lista fez parte de uma lista do Herri Batasuna quando este partido estava perfeitamente legalizado. As desgraças do rectângulo e adjacências ficam para outra oportunidade.

segunda-feira, maio 18, 2009

A Ponte Para cruzá-la ou não cruzá-la eis a ponte na outra margem alguém me espera com um pêssego e um país trago comigo oferendas desusadas entre elas um guarda-chuva de umbigo de madeira um livro com os pânicos em branco e um violão que não sei abraçar venho com as faces da insónia os lenços do mar e das pazes os tímidos cartazes da dor as liturgias do beijo e da sombra nunca trouxe tanta coisa nunca vim com tão pouco eis a ponte para cruzá-la ou não cruzá-la e eu vou cruzar sem prevenções na outra margem alguém me espera com um pêssego e um país Mario Benedetti (de Preguntas al azar – 1984-1985) - tradução de António Miranda O grande poeta, escritor e ensaísta uruguaio Mário Benedetti atravessou ontem a ponte para a outra margem, aos 88 anos de idade.

domingo, maio 17, 2009

O que vi e (ainda) vejo na TV Não sou muito dado a séries televisivas, principalmente quando os episódios não são independentes, mas vou tentar responder ao desafio que me foi feito pelo amigo JRD. O Fugitivo, Columbo, Espaço 1999, Star Treck, O Bem Amado, A Balada de Hill Street, O Polvo, Sim Sr. Primeiro-Ministro, Duarte & Companhia, Os Marretas, A Ferreirinha, João Semana, CSI, Testemunha Silenciosa, Castle. E a batata quente vai para Lusosapien, O Azereiro e O Puma.
Desmantelo Azul Então pintei de azul os meus sapatos por não poder de azul pintar as ruas depois vesti meus gestos insensatos e colori as minhas mãos e as tuas Para extinguir de nós o azul ausente e aprisionar o azul nas coisas gratas Enfim, nós derramamos simplesmente azul sobre os vestidos e as gravatas E afogados em nós nem nos lembramos que no excesso que havia em nosso espaço pudesse haver de azul também cansaço E perdidos no azul nos contemplamos e vimos que entre nascia um sul vertiginosamente azul: azul. Carlos Pena Filho* *poeta brasileiro

sábado, maio 16, 2009

Afinal...havia fogo É habitual dizer-se que onde há fumo há fogo, embora seja suficiente ter-se nascido no campo para saber que nem sempre isso corresponde à verdade. No caso da jornalista com a dupla nacionalidade iraniana e estado-unidense, primeiro condenada a 8 anos de prisão por alegada espionagem a favor dos Estados Unidos, pena agora reduzida a 2 anos de prisão, suspensa por igual período, acaba de se provar que havia mesmo fogo. A organização Repórteres Sem Fronteiras, que toda a gente sabe que é uma ONG impoluta, incapaz de receber financiamentos das grandes transnacionais, da NED ou da USAID, bem tentou fazer querer que a prisão da jornalista era pura ameaça à liberdade de expressão, como sempre faz com todos os jornalistas que não incomodam os Estados Unidos, a França, Israel e os seus lacaios no primeiro, segundo, terceiro ou quarto mundos e nunca faz com aqueles que afrontam os seus interesses, como comprovam a sua atitude perante a morte do jornalista espanhol José Couso, a descarada legitimação da tortura e outros. De notar que a Repórteres Sem Fronteiras não pôs apenas em causa o modo como o primeiro julgamento foi efectuado pois, se o tivesse feito, até lhe assistia a razão, dado que não foi dado à acusada o direito de defesa, como, aliás, aconteceu com dezenas de detidos em Guantánamo. Exigiu, pura e simplesmente, que o governo iraniano se imiscuísse no sistema judicial do país e que libertasse a jornalista sem cuidar se havia razão para condenação ou não. Pelos vistos até havia, pois a jornalista tinha copiado “por curiosidade” um relatório altamente confidencial sobre a invasão do Iraque, como a mesma reconheceu perante o tribunal de apelo, no Domingo, embora negasse tê-lo entregue aos americanos. Pediu desculpa dizendo que tinha sido um erro e o tribunal, que teria recebido uma carta de Ahmadinejad a insistir para que o caso fosse completa, profunda, e justamente revisto, reduziu e suspendeu a aplicação da pena, libertando a jornalista. Tudo isto pode ser confirmado no insuspeito The Washington Post. Devo deixar claro que não contesto a provável injustiça da condenação inicial nem a aparente benevolência da segunda; apenas acho que exigir-se a intromissão do poder político num assunto que devia pertencer apenas à justiça é um mau precedente para quem se arma em defensor da independência dos tribunais. Já agora, espero para ver o comportamento ocidental perante o caso do alto funcionário do Departamento de Defesa dos Estados Unidos acusado de passar segredos aos chineses. Afinal, o bom do James W. Fondren Jr., apenas teve a “curiosidade” de saber quanto é que um amigo de Taiwan naturalizado americano lhe dava por cada informação e, aparentemente, nem sequer sabia que, de acordo com a ONU, Taiwan faz parte integrante da República Popular da China.

sexta-feira, maio 15, 2009

Falar para a parede Em Jerusalém, uma repórter vai ao Muro das Lamentações para se encontrar com um velho judeu e entrevistá-lo. Lá chegada, vendo que ele está a rezar, aguarda. Depois de uma hora, o ancião para de rezar, e ela aborda-o: - Bom dia, senhor! Eu sou a repórter da TV AL JAHZEERA e queria entrevistá-lo. - Ah, sim, minha filha, não há problema. Diga-me, o que quer saber? - Disseram-me ser o senhor a pessoa que vem diariamente rezar aqui ao Muro há mais tempo. Há quanto tempo o senhor vem aqui para rezar? - Ahh... Há uns 80 anos... - Nossa!... 80 anos! E, nesses 80 anos, o senhor tem rezado pedindo o quê? - Rezo pedindo Paz no mundo, Paz no Médio Oriente, Paz entre judeus, cristãos e muçulmanos.. Rezo para que cessem o ódio e a guerra, e para que os nossos filhos cresçam juntos, em Paz e Amizade. - E como se sente o senhor após 80 anos de orações diárias no Muro? - Sinto-me como se estivesse a falar para uma parede!

quinta-feira, maio 14, 2009

Privatizar os lucros…
…socializar os prejuízos

Não tenho qualquer preconceito ideológico contra as nacionalizações; pelo contrário, penso que uma presença forte do Estado nas áreas fundamentais da economia seria muito melhor para os cidadãos do que deixar essas áreas ao livre arbítrio do Deus Mercado que, como estamos a verificar, não tem quaisquer mandamentos. E não acredito que as empresas públicas são pior geridas do que as privadas, porque o Estado não gere, nomeia gestores que saltitam dumas para as outras com o maior despudor. Tudo se resume a que o Estado, como accionista, responsabilize os gestores pelos resultados a médio e longo prazo, punindo os que gerem mal e premiando os que gerem bem. Mas vivo num país em que a maioria das pessoas acha que o Mercado é que é bom, embora não hesite em estender a mão ao Estado quando as coisas correm mal. Vem isto a propósito da notícia de que o Governo desafiou os accionistas da COSEC a venderem ao Estado aquilo que já foi do Estado e que o Estado quis privatizar. Não consigo compreender, pois se a COSEC não faz determinados seguros de crédito, é porque uma correcta análise técnica dos riscos em causa aconselha a não concretização dos seguros ou a sua contratação a um preço que os potenciais clientes não estão dispostos a pagar. Como seguradora, a COSEC tem deveres de solvabilidade a cumprir que a entrada em vigor do Projecto Solvência II (é, para os seguros, o correspondente ao Basileia II dos bancos, mas bem mais complexo e exigente) não deixará passar em claro. Seja ela de capitais públicos ou de capitais privados. É por isso que a COSEC não aceita determinados riscos, já que uma análise técnica assim o recomenda. Se os aceitasse e as perspectivas de perda quase certa se viessem a confirmar, seriam os accionistas privados a ter de arrotar com o cacau sob a forma de aumento de capital, o que eles, naturalmente, não estão disposto a fazer. Ao querer comprar a COSEC, o que o Governo está a fazer é passar de uma análise técnica do risco para uma análise política. E quem vai entrar com o pilim são os accionistas do Estado, ou seja nós, os contribuintes, ou os nossos filhos e netos.

quarta-feira, maio 13, 2009

Aos solavancos Como era de esperar, a viagem do Papa ao Médio Oriente tem decorrido aos solavancos, não agradando nem a gregos nem a troianos. Primeiro, não agradou a muitos judeus, porque na sua visita ao Museu do Holocausto evitou a passagem por uma placa que se refere ao silêncio do Papa da altura, que se prepara para canonizar, e nunca se referiu aos nazis ou aos alemães. Depois, abandonou um encontro inter-religioso quando foi invectivado por um clérigo palestino que lhe pediu para ajudar a parar com os crimes de Israel. Por último, face às interrogações levantadas pela sua pertença à Juventude Hitleriana, o seu porta-voz, Federico Lombardi, veio dizer que “o Papa nunca, nunca foi membro da Juventude Hitleriana”, contradizendo declarações anteriores do próprio Papa. Claro que, de seguida, o tal Federico se desdisse, mas a negação estava feita.
Duvido de tanta coisa Duvido de tanta coisa Duvido de quase tudo. Há algo que não duvido? menos por menos dá mais. Há coisas tão evidentes E outras mais discutíveis Há algo que não duvido? Impar por Impar dá par. Não sei se amanhã jantarei Não sei se estou bem de saúde Tantas coisas que não sei E outras que nunca saberei. Mas há coisas bem seguras Que jamais esquecerei: Menos mais Menos dá Menos Menos por Menos dá Mais Impar por Impar dá Impar Impar mais Impar dá Par Claudio Navarra* *poeta brasileiro

terça-feira, maio 12, 2009

Receitas de sacristia Na sua habitual homilia de segunda-feira no Diário de Notícias, o sacristão contabilista bolçou, ontem, entre outras pesporrências, o seguinte palpite: O nosso país já anda há dez anos a perder competitividade face aos parceiros, precisamente porque os salários têm ultrapassado a produtividade. Quando em cima da crise nacional surge um colapso internacional, a moderação salarial deixa de ser decisiva para passar a vital. É evidente que este ano os ordenados portugueses deviam, senão descer, ao menos manter o seu valor. Por mim, fico à espera de saber se Manuel Braga da Cruz, reitor da Universidade Católica onde JCN debita as suas inanidades, lhe vai reduzir o salário e em quanto. Se lho reduzir em 50%, talvez eu, que trabalho num sector onde a produtividade tem andado largamente à frente do aumento dos salários, esteja disposta a abdicar de uma pequena parcela do meu parco rendimento em prol daqueles que ainda têm menos.

segunda-feira, maio 11, 2009

O aval Ontem de manhã, falando com uma amiga que pernoitou cá em casa e que gosta do Ratzinger quase tanto com eu, disse-lhe que a viagem de Bento XVI a Israel, mesmo disfarçado de peregrino, apenas ia contribuir para caucionar as atrocidades que aquele país tem cometido contra os palestinos e branquear a sua actuação geneticamente racista. Hoje de manhã tive a confirmação disso mesmo. Segundo a Associated Press, o ministro israelita do Turismo, Yuli Edelstein, afirmou ontem a jornalistas que tinha a esperança de que as imagens do Papa a rezar fizessem esquecer algumas das impressões de Israel como um foco de guerra e violência e contribuíssem para uma aumento do fluxo de turistas que, como se sabe, é uma das maiores fontes de riqueza do país. Só não adivinho os números do euromilhões!

domingo, maio 10, 2009

À espera das sobras Imagem: Mauricio Duenas/AFP/Getty Images
Não fossem os sonhos as estrelas são as bolhas de sabão do céu cristalizadas nos sonhos que a gente não sabe que tem não acorde os sonhos com o barulho das máquinas erguendo casas por onde abrigá-los deixe-os quarando ao vento sob a sua poeira líquida de anil inocência e liberte-os ao sol derretido entre as águas límpidas de um rio - não fossem os sonhos não haveria estrelas no mar Cissa de Oliveira* *poetisa brasileira

sábado, maio 09, 2009

Mobáile Eu sei que há uma equipa de ciclismo que participa na Volta à França (e com grandes ciclistas) que se chama TiMobáile (T Mobile), e também sei que a RTP tem uma programação específica para os utilizadores de telemóveis. Fiquei a saber, hoje, no programa do provedor do cliente, que não provê cliente nenhum, que a tal programação se chama RTP Mobile. Como diz que disse? O fornecedor dos conteúdos é o canal público português, pago com o dinheiro dos contribuintes e para inglês ver, ou é um canal inglês?
Bloco Central Imagem: Vasily Fedosenko/Reuters

sexta-feira, maio 08, 2009

Anda porcaria no ar Eu não costumo ser céptico relativamente às qualidades curativas ou meramente paliativas de medicamentos desenvolvidas pelas farmacêuticas e aceites como bons pelos médicos e pelas autoridades de saúde, e muito menos pretendo desvalorizar os riscos de uma pandemia ou assustar quem quer que seja. Mas desconfio que anda um mau cheiro no ar relativamente à gripe que começou por ser suína e agora é gripe A porque os muçulmanos, para quem o porco é um animal impuro, decidiram chacinar, no Egipto, cerca de 4 centenas de milhares de porcos, que eram o sustento de quase outros tantos cristãos coptas. O meu cepticismo começou quando as acções da Roche, produtora do Tamiflu e na qual o amigo americano de um enfatuado ex-Ministro de Estado detém elevados interesses, subiram em flecha, e foi crescendo quando, na passada sexta feira, saí de casa com a notícia de 150 mortos no México devido à tal gripe e uma hora depois, quando cheguei ao destino, o número de mortos já era de 7. Afinal, a maioria das mortes verificadas no México não tinha sido provocada pela gripe A mas por outra causa não especificada. Ou o recuo ter-se-á devido à denúncia das responsabilidades da indústria pecuária dos Estados Unidos, que explora a produção animal nas mais degradantes condições, sobretudo no México, mas também dentro de portas? Entretanto, os responsáveis da Organização Mundial de Saúde já tinham posto as mãos no lume pelo Tamiflu e as acções da Roche continuavam (e continuam) a subir. Da Roche e de uma pequena companhia australiana chamada Biota Holdings, que desenvolveu o medicamento concorrente Relenza, que depois licenciou à farmacêutica americana GlaxoSmithKline. Entre a gripe das aves e os actuais temores, a Roche vendeu, só aos governos, 220 milhões de doses, a que acrescem os muitos milhões mais dispensados pelas farmácias. Considerando que a dose custa cerca de 25 euros e mesmo que aos governos seja fornecida por metade, é uma maquia astronómica. Quanto ao Relenza, de mais difícil administração dado que tem de ser inalado por quem tem o nariz completamente entupido, foram vendidos no primeiro trimestre USD 462 milhões, dos quais 7% reverteram para a Biota Holdings. É sabido que os médicos que trabalham para as farmacêuticas são os mesmos que prestam assessoria à OMS e há estudos independentes que apontam para a pouca eficácia dos dois medicamentos numa eventual pandemia, bem como para a possibilidade de a estirpe do vírus da gripe A já ter desenvolvido resistência aos mesmos. Sarah Boseley, a multi-premiada jornalista que edita a secção Saúde do Guardian, escreveu ontem um extenso e esclarecedor artigo sobre o assunto, e Ben Goldacre, médico e colunista do mesmo jornal, já tinha alertado para esse problema. A OSM já avisou que a gripe A pode atingir um terço da população mundial (são só dois mil milhões) e especula-se que o perigo pode ser bem maior do que o esperado. Se calhar, a melhor protecção está no respeito pelas regras básicas de higiene - digo eu que não tenho nenhum medicamento para vender: lavar frequentemente as mãos com sabão, tapar a boca com lenços de papel para não borrifar o vizinho com perdigotos, tapar a boca e o nariz com lenços de papel quando se espirra, para não aspergir os circundantes com secreções contagiosas e dar sumiço higiénico aos lenços de papel após cada utilização.

quinta-feira, maio 07, 2009

Desporto? Mas que raio de "desporto"! Então o leitão lá do Caneira dos Negrais não é melhor? Tão jovens e tão tristes "tias"!
Máscaras O senhor director-geral de Saúde disse que não se justificava os portugueses usarem máscaras. Referia-se, apenas, às probabilidades de contaminação com o vírus da Gripe A, mas seria muito positivo que alguns portugueses deixassem de usar as actuais máscaras e passassem a usar outras. Refiro-me à generalidade da classe política que, salvo honrosas excepções, usa as máscaras da “verdade”, do “serviço aos cidadãos”, da “lisura de maneiras e processos” e, até, da “democracia”, para irem mantendo os seus “tachos” à custa do contribuinte. Essas, deviam deixá-las cair, pois todos, a não os próprios e os seus indefectíveis, já perceberam de que tipo de máscaras se trata. E podiam passar a usar açaimes para não se morderem uns aos outros e máscaras para filtrarem a diarreia mental exteriorizada sob a forma da mais atroz boçalidade.

quarta-feira, maio 06, 2009

Abaixo a corrupção Gosto do desassombro com que o pai das SCUT zurze a corrupção. Acho que é mesmo de políticos como ele que Portugal precisa, para passarmos a ser um país de virgens e de santos; no que à corrupção diz respeito, naturalmente, já que país de virgens e de santos esquecidos somos nós, noutros pormenores (ou pormaiores, dependendo da perspectiva). A completo despropósito, lembro-me de que não sei o que se chama ao acto de alguém desistir de um pacote de leis anti-corrupção e manter o bico calado durante uns tempos como moeda de troca para ir para uma gaiola dourada ganhar balúrdios, para uma função de gestor de uma entidade para a qual não consta que tivesse méritos especiais, embora os tenhas noutras áreas. Alguém é capaz de pôr cobro à minha ignorância?
Cúmplices Onde o vento não cessa revejo as árvores da infância e toco o anjo fascinante de um selo antigo da Lituânia. A meu lado, a mulher cinge a clâmide branca e é um ser alado com as sandálias de esparto no chão cintilante. À esquerda, na calle Portugal, um edifício está em chamas. Os homens depuram o fogo e a alquimia produz uma passagem para outro lugar. A manhã revela a epifania das coisas, a imortalidade da alma perante o mistério sagrado da brancura, o olhar cúmplice porque me encontro e me perco na graça do enigma. Por uma palavra e os teus olhos, transponho esta fogueira, vacilo, colho a flor translúcida intensamente azul onde a vidência se fixa para sempre, olho nos olhos a Virgen de La Veguilla e peço para voltar, entrego o coração, celebro a luz, alcanço a transparência. Amadeu Baptista* - A Poesia na Era Digital *poeta portuense que hoje celebra 56 anos de idade

terça-feira, maio 05, 2009

Farinhas Entre tirar a carta de condução na farinha Amparo e um curso de política rasca na farinha Maizena vai a distância que separa o baixo nível do Paulo Rangel do baixo nível do Manuel Pinho.
Das utopias Se as coisas são inatingíveis... ora! não é motivo para não querê-las... Que tristes os caminhos se não fora a mágica presença das estrelas! Mário Quintana* - Espelho Mágico *no 15º aniversário do falecimento

segunda-feira, maio 04, 2009

Triste herança A propósito dos 30 anos da chegada ao poder da Dama de Ferro, o colunista Fernando Sobral faz, no Jornal de Negócios, uma interessante associação entre a mãe do neoliberalismo sem regras que conduziu ao actual estado da economia mundial e o lançamento, um mês depois, de Unknown Pleasures, o primeiro álbum dos Joy Division. Pela minha parte, acho que o mundo teria sido e continuaria a ser muito melhor se a epilepsia que levou Ian Curtis ao suicídio tivesse tido como alvo o corpo e o espírito de uma dama convencida e emproada que, juntamente com um actor menor que pontificava além Atlântico, “gerou” e “pariu” a enormidade a que temos assistido nas últimas décadas.
Vasco Granja Singela homenagem ao Homem que ensinou crescidos e miúdos a ver cinema de animação. Para recordar o seu regresso no Herman Enciclopédia

domingo, maio 03, 2009

Exagero, incompetência ou má fé? Quando ligo o computador e acedo à versão digital do Diário de Notícias leio, em grandes parangonas, “500 mil na marcha de 'marijuana' do Porto”. Quinhentos mil? Mas isso é mais do que alguma vez uma manifestação juntou em Portugal, numa só cidade! Incrédulo, clico na ligação para me certificar da participação de 5% (cinco por cento) dos residentes em Portugal numa manifestação a favor da liberalização de uma droga leve que a maioria da população não sabe sequer que existe, quanto mais que é droga, e verifico estupefacto: "Meio milhar de pessoas, de acordo com a estimativa policial, participaram ontem, no Porto, na Marcha Global da Marijuana (MGM), com o objectivo de pedir a legalização das drogas leves, nomeadamente da cannabis". E assim vai a nossa imprensa dita de referência.

sábado, maio 02, 2009

Tirai as mãos...
O renomado e virtuoso pianista polaco Krystian Zimerman costuma ser um homem de poucas palavras. Por regra, não fala para a audiência durante os concertos e pouco ou nada diz à imprensa entre as suas raras apresentações, mesmo a propósito da sua mania de viajar para todo o lado com o seu piano de cauda Steinway atrás. Não admira, pois, que tenha desencadeado enorme burburinho no Disney Hall de Los Angeles no Domingo à noite quando, antes de tocar a peça final do programa, levantou a voz para anunciar que não actuaria mais nos Estados Unidos em protesto contra as políticas militares de Washington. “Tirai as vossas mãos do meu país”, disse a uma audiência estupefacta, denunciando os planos de instalar um escudo anti-míssil em solo Polaco. Uns aplaudiram, outros gritaram-lhe para que se calasse e tocasse e alguns, poucos, abandonaram a sala berrando obscenidades. “Pois é”, respondeu o pianista em tom de troça: “algumas pessoas começam logo a marchar quando ouvem a palavra militar”. Sentou-se e tocou de forma soberba as “Variações Sobre um Tema do Folclore Polaco”, de Karol Szymanowski. É que se chama atacar o lobo no seu próprio covil.
Mais pormenores aqui e aqui

sexta-feira, maio 01, 2009

Hoje Hoje, ali, daquele ramo cinzento, uma folha verde rompeu. Ou fui apenas eu Que sorri? Hoje, ali, no peitoril da janela, esteve um pintassilgo cantando. E eu sei o que ele cantou. Ou foi apenas o sol que o imaginou? Armindo Rodrigues (in Poeta Perguntador)
Insaciedade Em frente há caminhos novos? Para lá deles, busquem-se já outros. Armindo Rodrigues (in Poeta Perguntador)