How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
sexta-feira, abril 03, 2009
Exageros
Parafraseando Mark Twain, no Telejornal da RTP de ontem as notícias sobre o montante financeiro do acordo conseguido na Cimeira dos G20 foram grandemente exageradas, quase 5 vezes exageradas.
Mas vamos por partes. Na nomenclatura internacional, adoptada por quase todo o mundo e por todos os países europeus com excepção da Inglaterra, um bilião é um milhão de milhões (1 seguido de doze zeros), enquanto na nomenclatura anglo-saxónica, adoptada na Inglaterra, nos Estados Unidos e no Brasil, um bilião são mil milhões (1 seguido de nove zeros). De igual forma, na nomenclatura internacional um trilião é um milhão de biliões (1 seguido de dezoito zeros) e na anglo-saxónica são mil biliões dos deles (1 seguido de doze zeros).
Difícil de imaginar? Talvez seja mais fácil se utilizarmos o tempo. Se considerarmos segundos, um bilião de segundos para os anglo-saxónicos corresponde a 31 anos e 259 dias, enquanto que um bilião de segundos na nomenclatura internacional significa 31.709 anos e 289 dias. Se passarmos para o trilião, a diferença é ainda maior, já que para os anglo-saxónico um trilião de segundos representa 31.709 anos e 289 dias, enquanto para quem segue a numeração internacional será o curto período de 31.709.791.983 anos, mais do dobro do tempo que se estima ter decorrido desde o big bang até hoje. É um bocadinho mais de tempo (ou de dinheiro, no caso em apreço).
Passando à notícia divulgada e comentada pela RTP e utilizando a designação internacional e os dólares dos Estados Unidos, foi posta uma grande ênfase no estímulo de 5 biliões de dólares (3,7 biliões de euros), quando o mesmo foi de apenas 1,1 biliões de dólares - ou seja, 22% do valor divulgado -, que serão quase todos despendidos no financiamento do FMI e do Banco Mundial. 5 biliões de dólares foi o montante total que os presentes estimaram já terem decidido, cada um por si, “gastar” em estímulos até ao fim do próximo ano e não teve nada a ver com a Cimeira.
Teria sido muito fácil a televisão pública não ter cometido tamanha argolada. Bastava que tivesse posto um simples estagiário a seguir jornais ingleses (o Guardian ou o Times, por exemplo) que tinham jornalistas económicos a acompanhar o evento no local, para verificar que o valor em discussão e considerado como uma grande vitória para o anfitrião da Cimeira andava à volta 1 bilião (1 trillion); mas não, prefere gastar o dinheiro dos contribuintes na novela mexicana do Freeport.
Como hoje tirei o dia para cascar no canal que malbarata os meus impostos, não vou dizer nada sobre a bondade (ou falta dela) desta e doutras decisões da Cimeira. Mas quem quiser, pode ler aqui o comunicado, na integra, ou, se preferir, um resumo bastante bem estruturado.
Cartoon: Steve Bell/Guardian
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2 comentários:
Eu agradeço o esclarecimento... Estes números enormes dão-me um nó cego...
:)))
Lembras-te do tempo em que o Telejornal liquidou a população do Vietnam pelo menos dez vezes, tantos milhares eram os que morriam todos os dias às mãos dos marines?
A nossa RTP é assim, não se enxerga com números.
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