How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
domingo, fevereiro 15, 2009
Apaguem o nome do meu avô…
...em Yad Vashem
Jean-Moise Braitberg, escritor e jornalista francês de ascendência judia, cujo avô, Moshe Brajtberg, foi assassinado nas câmara de gás de Treblinka, escreveu uma carta ao Presidente de Israel, publicada no Jornal Le Monde em 29 de Janeiro de 2009, na qual pede que o nome do avô e de outros familiares seja retirado do Yad Vashem, o Memorial construído em Jerusalém em homenagem às vítimas judias do nazismo e em cujo exterior se encontra uma alameda de árvores, cada uma dedicada a um benfeitor dos judeus, entre as quais uma com o nome de Aristides Sousa Mendes.
Senhor Presidente do Estado de Israel,
Escrevo-lhe para que intervenha junto de quem de direito, a fim de que seja retirado do Memorial de Yad Vashem, dedicado à memória das vítimas judias do nazismo, o nome do meu avô, Moshe Brajtberg, gaseado em Treblinka em 1943, assim como os dos outros membros da minha família mortos no decurso da deportação em diferentes campos nazis durante a Segunda Guerra Mundial. Rogo-lhe que atenda o meu pedido, senhor presidente, porque o que se passou em Gaza e, de um modo geral, o destino dado ao povo árabe da Palestina desde há sessenta anos, a meu ver desqualifica Israel como centro da memória do mal feito aos judeus, e portanto, a toda a humanidade.
Repare que vivi, desde a minha infância, rodeado de sobreviventes dos campos da morte. Vi os números tatuados nos braços, ouvi os relatos das torturas; conheci os lutos impossíveis e partilhei os seus pesadelos.
Era preciso, ensinaram-me, que estes crimes jamais recomecem; que jamais um homem, considerando-se superior pela sua pertença a uma etnia ou a uma religião, despreze outro ou o atropele nos seus direitos mais elementares, que são uma vida digna em segurança, a ausência de entraves, e a esperança, por mais longínqua que seja, dum futuro de serenidade e de prosperidade.
Ora, senhor presidente, vejo que, apesar das várias dezenas de resoluções tomadas pela comunidade internacional, mau grado a evidência gritante da injustiça cometida contra o povo palestino desde 1948, apesar das esperanças nascidas em Oslo e apesar do reconhecimento do direito dos judeus israelitas a viver em paz e segurança, muitas vezes reafirmado pela Autoridade palestina, as únicas respostas dadas pelos sucessivos governos do seu país têm sido a violência, o sangue derramado, o encarceramento, os controlos incessantes, a colonização, as espoliações.
Dir-me-á, senhor presidente, que é legítimo, para o seu país, defender-se contra os que lançam foguetes sobre Israel, ou contra os suicidas que arrastam com eles numerosas vidas israelitas inocentes. A isto responder-lhe-ei que o meu sentimento de humanidade não muda conforme a nacionalidade das vítimas.
Pelo contrário, senhor presidente, o senhor dirige os destinos de um país que não só diz representar os judeus no seu conjunto, mas também a memória dos que foram vítimas do nazismo. É isso que me diz respeito e que me é insuportável. Mantendo no Memorial de Yad Vashem, no coração do Estado judeu, o nome dos meus parentes próximos, o seu Estado retém a minha memória familiar prisioneira detrás do arame farpado do sionismo, para a tornar refém de uma auto-proclamada autoridade moral que comete todos os dias a abominação que é a denegação de justiça.
Portanto, faça o favor de retirar o nome do meu avô do santuário dedicado à crueldade feita aos judeus, a fim de que ele não mais justifique a que é feita aos palestinos.
Queira aceitar, senhor presidente, o testemunho da minha respeitosa consideração.
Jean-Moise Braitberg
Imagem: À esquerda, judeus sob o jugo nazi; à direita, palestinos de Gaza sob a tirania sionista.
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