How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
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segunda-feira, março 31, 2008
Se eles o dizem...
Nunca fui muito propenso a embarcar em teorias da conspiração, mas há mais de 6 anos abri uma excepção para os ataques do 11 de Setembro.
Em 11 de Setembro de 2001 encontrava-me de férias no norte do país e dirigi-me a um café próximo, após o almoço. Quando lá cheguei, a televisão transmitia imagens do primeiro impacto numa da Torres Gémeas, chegadas, creio, através da CNN.
Minutos depois chegou a minha mulher, já se avistava o segundo avião a dirigir-se para as Torres. Perguntou-me o que se passava e respondi-lhe: a CIA acaba de organizar um ataque às Torres Gémeas para o Bush culpar o Bin Laden e ficar na história.
Desde então, multiplicaram-se as teorias da conspiração, algumas sem grande credibilidade, outras merecedoras de atenção.
Por exemplo, o ex-presidente italiano Francisco Cossiga, reconhecido internacionalmente como de pessoa de uma honestidade a toda a prova, declarou: Bin Laden “confessa” ser o autor do ataque de 11 de Setembro às duas torres de Nova Iorque, quando, na verdade, os estados Unidos e a Europa sabem perfeitamente que esse atentado desastroso foi planificado e executado pela CIA e a Mossad, com o objectivo de acusar de terrorismo os países árabes e assim justificar os ataques contra o Iraque e o Afeganistão (Corriere della Será, 30-11-2007).
Também Giulietto Chiesa, jornalista italiano e deputado no Parlamento Europeu, apelidou de “fantasia ridícula e insustentável” a versão da Casa Branca (http://www.zerofilm.info/), sublinhando que os que punham objecções, mesmo as mais tímidas, à versão oficial, “eram tratados como loucos, dementes ou perigosos aliados desses terroristas islâmicos”.
Mais recentemente, a actriz Marion Cottillard, vencedora do Óscar 2008 para melhor actriz pelo desempenho da figura de Edith Piaf no filme La Vie en Rose, viu a revista Marianne pôr a circular declarações suas de há um ano, nas quais levantou dúvidas sobre a versão oficial da Casa Branca. A velha notícia foi retomada pela comunicação social britânica e estado-unidense e já se especula que isso lhe custará a carreira, não só em Hollywood como na própria França, quando Sarkozi se está a transformar em mais um lacaio de Bush. Certamente por mero acaso, 25% das acções da revista promotora da campanha pertencem ao Carlyle Group, do nosso bem conhecido Frank Carlucci. Também por acaso, o Carlyle Group foi, durante anos, uma entidade onde convergiram os investimentos de Bush pai e da família Bin Laden, bem como de outros investidores pouco recomendáveis.
Muitos cidadãos estado-unidenses têm desmascarado a versão oficial dos atentados, entre os quais o bem conhecido Noam Chomsky. Mas ainda não tinha encontrado ninguém como o Cap. Erich H. May, ex-oficial da U.S.Army responsável pela inteligência militar e assuntos públicos, ex-redactor de editoriais da NBC e com análises políticas e militares publicadas no The Wall Street Journal, no Houston Chronicle e no Military Intelligence Magazine.
Senhor de um currículo militar e civil impressionante, Erich H. May publicou, no passado dia 26 de Fevereiro, um artigo intitulado False Flag Prospects, 2008 - Top Three US Target Cities, cuja leitura é de deixar os cabelos em pé, não só pelas revelações que faz sobre o passado, mas também pelas perspectivas que avança para o futuro próximo. O autor vive nos Estados Unidos e não consta que tenha sido considerado maluquinho.
Nota: Para quem preferir, encontra-se aqui uma tradução portuguesa do citado artigo.
domingo, março 30, 2008
Os Estatutos do Homem
(Ato Institucional Permanente)
A Carlos Heitor Cony
Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.
Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.
Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.
Parágrafo único:
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.
Artigo V
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.
Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.
Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.
Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.
Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.
Artigo XI
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.
Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.
Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.
Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.
Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.
Santiago do Chile, Abril de 1964
Thiago de Mello*
*poeta brasileiro que hoje celebra 82 anos de idade
sábado, março 29, 2008
Nem as placas resolvem
Quando Salustiano comprou a vendinha da encruzilhada, disse para a mulher:
- Tô feito! Tudo quanto é viajante pára ali pra perguntar o caminho e aproveita pra tomar uma cerveja.
Realmente, deu certo. A estrada de terra bifurcava bem na porta da venda e quem passava a primeira vez por ali tinha mesmo de perguntar, porque não dava para saber qual ia para onde.
Mas tudo tem seu lado ruim, e Salustiano logo viu qual era o dessa localização: o pessoal parava pra perguntar na hora que ele queria, que estava pronto pra vender umas cervejinhas na venda e na hora que ele não queria também.
Era difícil conseguir uma noite inteira de sono. Sempre passava um carro ou um caminhão de noite, até de madrugada, e batiam na porta para perguntar o caminho. No começo, Salustiano até brincava com a mulher:
- Acho que vamos ter mais filhos do que a gente esperava. Esse pessoal acorda a gente de madrugada, nós perdemos o sono e aí...
Depois de dois meses, Salustiano e a mulher, Abadia, já não agüentavam mais. Quando ouviam uma buzina ou batidas na porta de madrugada, tinham vontade de sair xingando, ou então de mudar de vez dali. Um dia, justamente esse “lado bom” de acordar de madrugada foi incomodado. Lá pelas três da manhã, um caminhão buzinou, Salustiano acordou, pôs a cara na janela, o motorista perguntou:
- Qual a estrada que vai pro Cafundó?
- É a da esquerda – respondeu.
Tentou dormir, não dava. Aí, percebeu que Abadia também tinha acordado. Começaram umas carícias etc. e tal e, quando iam partir para os finalmentes, ouviram um barulho de motor. Logo batiam à porta com insistência e tiveram de interromper o namoro para Salustiano dar informações para mais um motorista. Quando voltou para a cama, tinha perdido o estímulo.
Irritou-se. A Abadia também esbravejava:
- Amanhã ponho uma placa nessa porcaria dessa encruzilhada.
Logo cedo, Salustiano pegou duas tábuas, cortou em forma de setas e escreveu “Cafundó” numa delas e “Patrimônio” na outra. Fincou um pau no chão, bem na encruzilhada, mas deixou para pregar as tábuas nele no final da tarde, para aproveitar um dia a mais com a parada de motoristas que queriam informações e gastavam um pouco na venda. Acabou pregando as tábuas só de noite, logo antes de dormir. Aí foi tranqüilo para a cama:
- Ninguém mais incomoda a gente agora, Abadia.
Meia-noite, seu sono profundo foi interrompido por pancadas na porta. Foi ver e era seu compadre, Durvalino, que tinha ido pra cidade a cavalo e estava de volta, parecendo ter bebido um pouco.
- Quê que houve, compadre Durvalino? Precisa de alguma coisa?
- Nada não, compadre Salustiano. Só queria saber o que é que tá escrito naquelas placas ali.
Mouzar Benedito
(publicado no livro “Memória vagabunda”, de Mouzar Benedito – editora Publisher Brasil)
Retirado daqui
quinta-feira, março 27, 2008
A Implosão da Mentira
Mentiram-me. Mentiram-me ontem
e hoje mentem novamente. Mentem
de corpo e alma, completamente.
E mentem de maneira tão pungente
que acho que mentem sinceramente.
Mentem, sobretudo, impune/mente.
Não mentem tristes. Alegremente
mentem. Mentem tão nacional/mente
que acham que mentindo história afora
vão enganar a morte eterna/mente.
Mentem. Mentem e calam. Mas suas frases
falam. E desfilam de tal modo nuas
que mesmo um cego pode ver
a verdade em trapos pelas ruas.
Sei que a verdade é difícil
e para alguns é cara e escura.
Mas não se chega à verdade
pela mentira, nem à democracia
pela ditadura.
Affonso Romano de Sant'Anna *
*poeta mineiro que hoje celebra 71 anos
quarta-feira, março 26, 2008
O epitáfio
Gregory Nunzio Corso, nascido em 26 de Março de 1930, foi o mais novo dos quatro membros mais importantes da chamada Beat Generation (com Jack Kerouac, Allen Ginsberg e William Burroughs) e o primeiro a ter obra publicada.
Natural de Greenwich Village, nos Estados Unidos da América, a mãe, com 16 anos à data do seu nascimento, natural da Itália e emigrada para os Estados Unidos aos 9 anos de idade, deixou a família um ano mais tarde e regressou a Itália. Como consequência, Gregory passou a infância em orfanatos e casas de acolhimento.
Quando tinha 11 anos, o pai voltou a casar e Gregory, embora tivesse passado a viver com ele, fugiu por várias vezes, até que foi enviado para uma casa de acolhimento para jovens, da qual também fugiu.
Com 17 anos, foi condenado, por roubo, a 3 anos de prisão, passados na Cadeia Estadual de máxima segurança de Clinton, onde foi um ávido leitor da livraria da prisão e onde começou a escrever poesia..
Após ser libertado, em 1949, regressou a Nova Iorque, onde conheceu Allen Ginsberg que o apresentou - e à sua poesia – aos outros membros da cena literária Beat.
O seu primeiro livro foi "The Vestal Lady on Brattle and Other Poems» (1955), seguindo-se «Gasoline» (1958) e «Bomb» (1958) ou o famoso «Long Live Man» (1962), entre muitos outros.
Poeta carismático, tornando sérios acontecimentos artísticos os seus recitais em bares ou universidades do seu país, a sua obra, expoente da denúncia social do seu grupo literário, destila sátira e sarcasmo, com os quais zurze os mais diversos aspectos da vida quotidiana dos Estados Unidos, não sendo por acaso que Ginsberg o chamou de “o maior poeta da América”.
Último moicano da Beat Generation - Kerouac morreu em 1969, Ginsberg e Burroughs em 1997 – faleceu no Minnesota, de cancro da próstata, em 17 de Janeiro de 2001.
De acordo com a sua vontade, as suas cinzas foram depositadas junto do túmulo da poetisa inglesa Percy Bysshe Shelley, no Cemitério Protestante de Roma, com um epitáfio escrito por ele próprio:
Spirit
is Life
It flows thru
the death of me
endlessly
like a river
unafraid
of becoming
the sea
Natural de Greenwich Village, nos Estados Unidos da América, a mãe, com 16 anos à data do seu nascimento, natural da Itália e emigrada para os Estados Unidos aos 9 anos de idade, deixou a família um ano mais tarde e regressou a Itália. Como consequência, Gregory passou a infância em orfanatos e casas de acolhimento.
Quando tinha 11 anos, o pai voltou a casar e Gregory, embora tivesse passado a viver com ele, fugiu por várias vezes, até que foi enviado para uma casa de acolhimento para jovens, da qual também fugiu.
Com 17 anos, foi condenado, por roubo, a 3 anos de prisão, passados na Cadeia Estadual de máxima segurança de Clinton, onde foi um ávido leitor da livraria da prisão e onde começou a escrever poesia..
Após ser libertado, em 1949, regressou a Nova Iorque, onde conheceu Allen Ginsberg que o apresentou - e à sua poesia – aos outros membros da cena literária Beat.
O seu primeiro livro foi "The Vestal Lady on Brattle and Other Poems» (1955), seguindo-se «Gasoline» (1958) e «Bomb» (1958) ou o famoso «Long Live Man» (1962), entre muitos outros.
Poeta carismático, tornando sérios acontecimentos artísticos os seus recitais em bares ou universidades do seu país, a sua obra, expoente da denúncia social do seu grupo literário, destila sátira e sarcasmo, com os quais zurze os mais diversos aspectos da vida quotidiana dos Estados Unidos, não sendo por acaso que Ginsberg o chamou de “o maior poeta da América”.
Último moicano da Beat Generation - Kerouac morreu em 1969, Ginsberg e Burroughs em 1997 – faleceu no Minnesota, de cancro da próstata, em 17 de Janeiro de 2001.
De acordo com a sua vontade, as suas cinzas foram depositadas junto do túmulo da poetisa inglesa Percy Bysshe Shelley, no Cemitério Protestante de Roma, com um epitáfio escrito por ele próprio:
Spirit
is Life
It flows thru
the death of me
endlessly
like a river
unafraid
of becoming
the sea
terça-feira, março 25, 2008
Se os homens menstruassem
Morar na Índia me fez compreender que a minoria branca do mundo passou séculos nos enganando para que acreditássemos que a pele branca faz uma pessoa superior a outra. Mas na verdade a pele branca só é mais susceptível aos raios ultravioleta e propensa a rugas.
Ler Freud me deixou igualmente céptica quanto à inveja do pénis. O poder de dar à luz faz a “inveja do útero” mais lógica e um órgão tão externo e desprotegido como o pénis deixa os homens extremamente vulneráveis.
Mas ao ouvir recentemente uma mulher descrever a chegada inesperada de sua menstruação (uma mancha vermelha se espalhara em seu vestido enquanto ela discutia, inflamada, num palco) eu ainda ranjo os dentes de constrangimento. Isto é, até ela explicar que quando foi informada aos sussurros deste acontecimento óbvio, ela dissera a uma plateia 100% masculina: “Vocês deveriam estar orgulhosos de ter uma mulher menstruada em seu palco. É provavelmente a primeira coisa real que acontece com vocês em muitos anos!”
Esta peça, que pode ser lida na íntegra aqui e faz parte do livro "Memórias da Transgressão", uma colectânea de artigos publicados ao longo de vinte anos da sua carreira , é da autoria da jornalista, feminista e militante anti-racista estado-unidense Gloria Steinem, que hoje completa 74 anos de idade.
segunda-feira, março 24, 2008
Exemplo de cidadania
Brattleboro é uma pequena cidade (12 mil habitantes) de um dos mais pequenos Estados dos Estados Unidos, Vermont (15 mil quilómetros quadrados e 600 mil habitantes).
O sistema eleitoral do Vermont baseia-se em assembleias locais (os caucuses), um exercício de democracia directa, onde se fala abertamente sobre os problemas locais e se dá a todos os cidadãos que o desejem tempo para falar.
Pois os cidadãos de Battleboro decidiram prender o presidente George Bush e o vice-presidente Dick Cheney no caso de estes visitarem a cidade.
Em 25 de Janeiro o Secretário do Município recebeu uma petição de um habitante da cidade, Kurt Daims. Segundo a Carta da Cidade, uma petição que contenha as assinaturas de 5% dos eleitores pode ser submetida a consulta para toda a cidade se pronunciar. A petição do Sr. Daims reunia os requisitos para tal e o Conselho Municipal decidiu, por 3 votos contra 2, levar a petição à votação dos eleitores. O texto rezava assim:
“Deve o Conselho Municipal ordenar ao Procurador da Cidade que emita acusações formais contra o presidente Bush e o vice-presidente Cheney por crimes contra a nossa Constituição e publicar essas acusações para que sejam tidas em consideração por outras autoridades e deve ser lei da cidade de Brattleboro que a polícia de Brattleboro, actuando de acordo com as acusações anteriormente mencionadas, arreste e detenha George Bush e Richard Cheney em Brattleboro se não tiverem sido, em devido tempo, submetidos a julgamento* político, e que sejam processdos ou extraditados para outras autoridades que possam ter razões fundadas para os processar?”
No passado dia 4 (creio que durante as primárias dos democratas), após acesa discussão, a petição foi aprovada por 2.012 votos a favor face 1.795 contra.
Segundo um artigo sobre o assunto, publicado por Amy Goodam, o Vermont é o único dos 50 Estados que George Bush não visitou durante a sua presidência. Mas que parece que os têm no devido lugar, lá isso parece.
*o termo inglês, impeach, não tem tradução para português e implica que o visado se demita do seu cargo caso o impeachment seja aprovado pela Câmara.
domingo, março 23, 2008
Bem Invulgar
Um homem a quem é dado possuir um bem invulgar não pode considerar-se um homem vulgar. Cada um é tal qual os bens que possui. Um cofre vale pelo que tem lá dentro, melhor dizendo, o cofre é um mero acessório do conteúdo. Imaginemos um saco cheio de dinheiro: que outro valor lhe atribuímos além do valor das moedas nele contidas? O mesmo se verifica com os donos de grandes patrimónios: não passam de simples acessórios, de suplementos. A razão de o sábio ser grande está na grande alma que possui. Por conseguinte, é verdade que tudo quanto está ao alcance do mais desprezível dos homens não deve ser considerado um bem. Nunca direi, por exemplo, que a insensibilidade é um bem: quer a cigarra quer o pulgão são dotados dela! Nem sequer chamarei um bem ao repouso ou à ausência de desgostos: há bicho mais repousado do que um verme?
Séneca, in 'Cartas a Lucílio'
Retirado daqui
sábado, março 22, 2008
Catacumbas
Somos argila, noite
onde os dedos se afundam,
hemorragia de espantoso silêncio
nas galerias do corpo.
O resto,
o resto é pura perda
e transitória insônia.
Hélio Pellegrino
sexta-feira, março 21, 2008
quinta-feira, março 20, 2008
Kosovo, neutralidade e o queijo parmesão
“Comprovo que o Direito Internacional e a neutralidade são um pouco como o queijo parmesão. Põe-se na massa de acordo com molho com que se cozinhe. Sabemos que com alguns molhos não se põe o parmesão. Se for massa com gambas, a cozinha italiana recomenda que não se ponha parmesão. Se for esparguete à bolonhesa, o parmesão é bem vindo. Com isto quero dizer que, cada vez mais, se invocam a neutralidade e o Direito Internacional quando interessam e se esquecem quando são incómodos”.
Dick Marty
Silvia Cattori é uma jornalista independente de nacionalidade suíça e língua materna italiana, com grande compreensão do mundo, dos seus mecanismos de poder e das suas injustiças, compreensão essa adquirida através de estreitos contactos com o meio diplomático e com várias agências da ONU no sudeste asiático e na zona do Índico.
Quando, em Abril de 2002, Ariel Sharon empreendeu acções militares em larga escala contra a Cisjordânia ela estava em Israel; preocupada com o efeitos da violência da guerra sobre as crianças, resolveu visitar a Palestina ocupada para ver com os seus próprios olhos o que se estava a passar, descobrindo que superava tudo quanto pudera imaginar.
Desde então tem-se dedicado a chamar a atenção da opinião pública para os crimes cometidos pelo exército de ocupação israelita contra as populações indefesas e para as injustiças que as mesmas sofrem, bem como para outras causas similares, como uma leitura dos seus artigos publicados na Rede Voltaire demonstra.
Atendendo a que a neutra Suiça integrou o primeiro grupo de países a reconhecer a independência do Kosovo, decidiu entrevistar o seu compatriota Dick Marty, senador do Partido Radical Democrático, na sua qualidade de presidente da Comissão de Política Externa do Conselho dos Estados da Confederação Helvética.
O resultado, muito elucidativo, pode ser encontrado aqui em francês ou, se preferir, em castelhano.
quarta-feira, março 19, 2008
Respigos de presciência
Na noite em que se cumprem 5 anos sobre o início da violenta guerra terrorista no Iraque – a dos terroristas “bons” (os nossos, salvo seja) contra os terroristas “maus” (os deles) - e quando se estima que os custos ultrapassarão os 3 biliões (3 triliões para os americanos) de dólares, apenas para os Estados Unidos, e se espera outro tanto para os restantes países envolvidos, isto sem contar os mortos e feridos iraquianos, as infra-estruturas destruídas, o sofrimento de milhões de iraquianos sem água, luz e emprego desde o início da guerra, mais de um milhão de refugiados, o petróleo desperdiçado com o consequente aumento exponencial do preço, o medo e o ódio espalhados e outros pormenores sem importância para os donos do império, são muito curiosas algumas previsões então efectuadas:
“O Iraque é um país muito rico, com enormes reservas de petróleo. Eles podem financiar largamente a reconstrução do seu próprio país. E eu não tenho dúvidas de que o irão fazer”.
Richard Perle, presidente da Comissão de Defesa do Pentágono – 11/07/2002
“Os prováveis efeitos económicos [de uma guerra no Iraque] seriam relativamente pequenos.... Da perspectiva de todos os cenários plausíveis, o efeito negativo será muito pequeno comparativamente com os benefícios económicos”.
Lawrence Lindsey, conselheiro económico da Casa Branca – 16/09/2002
“É inimaginável que os Estados Unidos teriam de contribuir com centenas de milhares de milhões de dólares e altamente improvável que nós teríamos de contribuir até mesmo com dezenas de milhares de milhões de dólares”.
Kennet Pollack, antigo director dos negócios do Golfo Pérsico – Comissão Nacional de Segurança – 9/2002
“Os custos de qualquer intervenção seriam muito pequenos”
Glenn Hubbard, conselheiro económico da Casa Branca – 4/10/2002
“Há uma grande quantidade de dinheiro para pagar isto que não tem de ser dinheiro dos contribuintes dos Estados Unidos, e começa com os activos do povo do Iraque. Estamos a falar de um país que pode realmente financiar a sua própria reconstrução e relativamente depressa”.
Paul Wolfowitz, Vice Secretário da Defesa – 27/03/2003
Mais algumas pérolas aqui.
“Importam-se de repetir?”
lino, português ingénuo – 19/03/2008
Dia do pai
Hoje é o dia do pai. Tinha-me esquecido completamente, não fora a minha filhota, que está em Davos, na Suiça, num congresso internacional, ter-me ligado a desejar-me um bom dia.
Parece que por lá está bem mais frio do que por cá: oito graus negativos, ontem; quatro graus negativos, hoje, ao princípio da tarde.
Beijos e bom regresso, tita.
Dilema
Vai-se acentuando,
Senhores da justiça - heróis da humanidade,
O verbo tricolor da confraternidade…
E quando, em breve, quando
Raiar o grande dia
Dos largos arrebóis - batendo o preconceito…
O dia da razão, da luz e do direito
- solene trilogia -
Quando a escravatura
Surgir da negra treva - em ondas singulares
De luz serena e pura;
Quando um poder novo
Nas almas derramar os místicos luares,
Então seremos povo!
Cruz e Sousa*
terça-feira, março 18, 2008
E a Vida foi, e é assim
E a Vida foi, e é assim, e não melhora.
Esforço inútil. Tudo é ilusão.
Quantos não cismam nisso mesmo a esta hora
Com uma taça, ou um punhal na mão!
Mas a Arte, o Lar, um filho, António? Embora!
Quimeras, sonhos, bolas de sabão.
E a tortura do Além e quem lá mora!
Isso é, talvez, minha única aflição.
Toda a dor pode suportar-se, toda!
Mesmo a da noiva morta em plena boda,
Que por mortalha leva... essa que traz.
Mas uma não: é a dor do pensamento!
Ai quem me dera entrar nesse convento
Que há além da Morte e que se chama A Paz!
António Nobre
segunda-feira, março 17, 2008
Aterrador ou espectacular?
Nota: O estudo foi publicado na Nature de 5 de Março, mas é de acesso restrito.
A ciência não para de surpreender-nos. Agora, cientistas desenvolveram uma técnica computorizada de leitura da mente que lhes permite, utilizando scanners para estudar a actividade cerebral, prognosticar com precisão imagens para as quais as pessoas estão a olhar.
Os cientistas americanos serviram-se de equipamento de Imagens por Ressonância Magnética (Magnetic Resonance Imaging) habitualmente utilizado nos diagnósticos hospitalares para observar a actividade do cérebro, enquanto os indivíduos sujeitos à experiência observavam um conjunto de 120 fotografias a preto e branco. Depois, um computador foi capaz de indicar correctamente, em 90% dos casos, qual a imagem em que as pessoas estavam focadas.
O estudo levanta a possibilidade de, no futuro, a tecnologia ser aproveitada para visualizar as memórias ou os sonhos das pessoas. E claro, interrogar suspeitos contra a sua vontade, assim como condenar alguém por “crimes de pensamento”.
Claro que o poema Livre, de Carlos Oliveira, musicado e interpretado pelo Manuel Freire, ainda manterá a sua verdade textual durante algumas décadas, pois as experiências utilizaram equipamento “pesado” e magnetos extremamente potentes, para além do descodificador computacional ter tido de ser adaptado a cada indivíduo durante várias horas de treino com este ligado ao scanner. No entanto, o Professor Jack Gallant, da Universidade de Berkeley e líder do grupo de cientistas, disse que “é possível que descodificar a actividade cerebral possa ter sérias implicações éticas e de privacidade, digamos, num prazo de 30-50 anos”, acrescentando: “acreditamos veementemente que ninguém deve ser sujeito a qualquer forma de leitura cerebral involuntariamente, secretamente ou sem um consentimento completamente informado”.
De qualquer modo, considerando a diarreia mental que por aí campeia, o colorido da leitura cerebral da nossas ditas “figuras públicas” devia ser muito monótono. Cheira-me que se revestiria das várias tonalidades do amarelo, dependendo da sua frugalidade ou gulodice da véspera.
Os cientistas americanos serviram-se de equipamento de Imagens por Ressonância Magnética (Magnetic Resonance Imaging) habitualmente utilizado nos diagnósticos hospitalares para observar a actividade do cérebro, enquanto os indivíduos sujeitos à experiência observavam um conjunto de 120 fotografias a preto e branco. Depois, um computador foi capaz de indicar correctamente, em 90% dos casos, qual a imagem em que as pessoas estavam focadas.
O estudo levanta a possibilidade de, no futuro, a tecnologia ser aproveitada para visualizar as memórias ou os sonhos das pessoas. E claro, interrogar suspeitos contra a sua vontade, assim como condenar alguém por “crimes de pensamento”.
Claro que o poema Livre, de Carlos Oliveira, musicado e interpretado pelo Manuel Freire, ainda manterá a sua verdade textual durante algumas décadas, pois as experiências utilizaram equipamento “pesado” e magnetos extremamente potentes, para além do descodificador computacional ter tido de ser adaptado a cada indivíduo durante várias horas de treino com este ligado ao scanner. No entanto, o Professor Jack Gallant, da Universidade de Berkeley e líder do grupo de cientistas, disse que “é possível que descodificar a actividade cerebral possa ter sérias implicações éticas e de privacidade, digamos, num prazo de 30-50 anos”, acrescentando: “acreditamos veementemente que ninguém deve ser sujeito a qualquer forma de leitura cerebral involuntariamente, secretamente ou sem um consentimento completamente informado”.
De qualquer modo, considerando a diarreia mental que por aí campeia, o colorido da leitura cerebral da nossas ditas “figuras públicas” devia ser muito monótono. Cheira-me que se revestiria das várias tonalidades do amarelo, dependendo da sua frugalidade ou gulodice da véspera.
Nota: O estudo foi publicado na Nature de 5 de Março, mas é de acesso restrito.
domingo, março 16, 2008
Língua Mater Dolorosa
Tu que foste do Lácio a flor do pinho
dos trovadores a leda a bem-talhada
de oito séculos a cal o pão e o vinho
de Luís Vaz a chama joalhada
tu o casulo o vaso o ventre o ninho
e que sôbolos rios pendurada
foste a harpa lunar do peregrino
tu que depois de ti não há mais nada,
eis-te bobo da corja coribântica:
a canalha apedreja-te a semântica
e os teus verbos feridos vão de maca.
Já na glote és cascalho és malho és míngua,
de brisa barco e bronze foste a língua;
língua serás ainda... mas de vaca.
Natália Correia
sábado, março 15, 2008
A parvoíce
Apesar de se poder esperar tudo de pessoas como George Bush, o grau de cretinismo que ele frequentemente deixa transparecer ainda tem o dom de me espantar.
O Gridiron Club, de Washington - a mais antiga organização jornalística da cidade - organiza, anualmente, um jantar a que se acede apenas por convite e que junta o governo com a elite dos meios de comunicação social (aqueles que acedem ao convite, pois alguns dos jornalistas mais conceituados recusam comparecer por causa da promiscuidade entre média e governo).
No jantar de 2008, realizado no passado sábado, o Sr. W. resolveu brindar os comensais “cantando” uma paródia desafinada da canção “The Green Grass of Home”, com uma letra da sua lavra em que tentou fazer graça com alguns dos momentos mais polémicos da sua administração: o colapso da sua nomeação de uma advogada medíocre (Harriet Miers) para o Supremo Tribunal dos Estados Unidos, o julgamento do braço direito do Vice Presidente, Scooter Libby, condenado a 5 anos de prisão por perjúrio e cuja pena foi perdoada por Bush, além de outras “minudências”.
Como seria der esperar, as imagens foram parar ao You Tube, embora sejam de fraca qualidade, Bush não apareça durante grande parte do vídeo e algumas partes dos seus “trinados” não se percebam. Mas uma jornalista que estava presente transcreveu-os na íntegra, para que cada um possa avaliar a atitude do Presidente da única super-potência existente.
I spend my days clearing brush
I clear my head of all the fuss
Oh, like the fuss you made over Harriet and Brownie
Down the lane, I look out
Here comes Scooter
Finally free of the prosecutor
It’s good to touch the brown, brown grass of home.
I awake and look around me
At the oval walls that surround me
And I realize I was only dreaming
There’s Condi and Dick, my old compadre
Talking to me about some oil-rich Saudi
But soon, I’ll touch the brown, brown grass of home
Yes you’re all gonna miss me
The way you used to quiz me
But soon I’ll touch the brown, brown grass of home
Dick Cheney strolling with documents he’s been withholding
It’s good to touch the brown, brown grass of home
Yes you’re all gonna miss me
The way you used to diss me
But soon I’ll touch the brown, brown grass of home.
sexta-feira, março 14, 2008
O Milagre da Vida
Pode ser que um dia deixemos de nos falar...
Mas, enquanto houver amizade,
Faremos as pazes de novo.
Pode ser que um dia o tempo passe...
Mas, se a amizade permanecer,
Um de outro se há-de lembrar.
Pode ser que um dia nos afastemos...
Mas, se formos amigos de verdade,
A amizade nos reaproximará.
Pode ser que um dia não mais existamos...
Mas, se ainda sobrar amizade,
Nasceremos de novo, um para o outro.
Pode ser que um dia tudo acabe...
Mas, com a amizade construiremos tudo novamente,
Cada vez de forma diferente.
Sendo único e inesquecível cada momento
Que juntos viveremos e nos lembraremos para sempre.
Há duas formas para viver a sua vida:
Uma é acreditar que não existe milagre.
A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre.
Albert Einstein
Retirado do Citador
quinta-feira, março 13, 2008
Lar doce lar
Minha pátria é minha infância:
Por isso vivo no exílio.
Cacaso* - in Na Corda Bamba (1978)
*poeta brasileiro
quarta-feira, março 12, 2008
Balcanizar os Balcãs
Parecia impossível recortar ainda mais a minguada ex-Jugoslávia, mas não: com o reconhecimento imediato dos EUA e da maioria da União Europeia, a chamada independência de Kosovo é coisa feita. Pouco importa que este acto viole o direito internacional, a Carta das Nações Unidas e resoluções do seu Conselho de Segurança. O decisivo é que assim o quiseram os “falcões-galinha” de Washington, com o apoio de uma porção bem armada da OTAN e o olhar virado para outro lado da ONU. As consequências são inimagináveis e recordamos a profética frase que Otto von Bismarck cunhou em finais do século XIX: “Quando explodir a Grande Guerra, será por alguma maldita coisa nos Balcãs”. Assim foi.
A análise é do poeta e escritor argentino Juan Gelman
Parecia impossível recortar ainda mais a minguada ex-Jugoslávia, mas não: com o reconhecimento imediato dos EUA e da maioria da União Europeia, a chamada independência de Kosovo é coisa feita. Pouco importa que este acto viole o direito internacional, a Carta das Nações Unidas e resoluções do seu Conselho de Segurança. O decisivo é que assim o quiseram os “falcões-galinha” de Washington, com o apoio de uma porção bem armada da OTAN e o olhar virado para outro lado da ONU. As consequências são inimagináveis e recordamos a profética frase que Otto von Bismarck cunhou em finais do século XIX: “Quando explodir a Grande Guerra, será por alguma maldita coisa nos Balcãs”. Assim foi.
A análise é do poeta e escritor argentino Juan Gelman
terça-feira, março 11, 2008
Ninguém meu amor
Ninguém meu amor
ninguém como nós conhece o sol
Podem utilizá-lo nos espelhos
apagar com ele
os barcos de papel dos nossos lagos
podem obrigá-los a parar
à entrada das casas mais baixas
podem ainda fazer
com que a noite gravite
hoje do mesmo lado
ninguém como nós conhece o sol
Até que o sol degole
o horizonte em que um a um
nos deitam
vendando-nos os olhos
Sebastião Alba*
*poeta bracarense naturalizado moçambicano
segunda-feira, março 10, 2008
Passar Fome Pelos biocombustíveis?
Segundo dados da FAO a superfície agrícola está em redução nos últimos anos; muitos terrenos estão exaustos com excesso de adubos e culturas intensivas, ou, na conjuntura de deficit elevado, são transformados em superfícies industriais e áreas turísticas com campos de golfe, ou acimentados pela especulação imobiliária. Os preços dos produtos básicos, como centeio, cevada, trigo, aveia e milho, explodem e com eles os preços das rações e produtos para animais.
Mas não é só isso. À medida que a cultura de combustão capitalista esgota as reservas de energias fósseis, a produção de biocombustíveis entra em concorrência com a produção de alimentos. Atestar um automóvel com etanol devora o consumo anual de cereais de um ser humano.
A análise é do escritor e jornalista alemão Robert Kurz.
Alto como o silêncio
A ilha te fala
de rosas bravias
com pétalas
de abandono e medo.
No fundo da sombra
bebendo por conchas
de vermelha espuma
que mundos de gentes
por entre cortinas
espessas de dor.
Oh, a tarde clara
deste fim de Inverno!
Só com horas azuis
no fundo do casulo,
e agora a ilha,
a linha bravia das rosas
e a grande baba negra
e mortal das cobras.
Maria Manuela Margarido*
*poetisa são-tomense
domingo, março 09, 2008
A lista dos mais procurados
Terrorismo internacional
Os apologistas mais notórios dos crimes dos Estados Unidos e de Israel explicam com a maior solenidade que, enquanto os árabes matam pessoas propositadamente, os Estados Unidos e Israel – sendo sociedades democráticas— não têm a menor intenção de fazê-lo. Os seus assassinatos são, simplesmente, acidentais, e por isso não podem ser comparados, em termos de depravação moral, com os dos seus adversários. Essa foi, por exemplo, a posição do Supremo Tribunal de Israel quando, recentemente, autorizou um severo castigo colectivo ao povo de Gaza, privando-o de electricidade (e, por consequência, de água, do tratamento das águas residuais e de outros requisitos básicos da vida civilizada).
A análise é de Noam Chomsky, linguista, filósofo, escritor, activista político e professor emérito de linguística no Instituto de Tecnologia de Massachussets. O artigo está traduzido para castelhano e para português, mas recomendo vivamente a versão original dado que certos aspectos das traduções não reproduzem com clareza o que o autor escreveu.
sábado, março 08, 2008
Eu ...
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...
Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...
Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!
Florbela Espanca
São rosas
Uma rosa SILVER JUBILEE para as amigas que me visitam
Uma rosa CRIMSON GLORY para a imna mulher
Uma rosa EIFFEL TOWER para a minha filha
Uma rosa SILVER JUBILEE para as amigas que me visitam
sexta-feira, março 07, 2008
Decisão, Desejo e Acção
A decisão é, na verdade, o que de mais próprio concerne a excelência e é melhor do que as próprias acções no que respeita à avaliação dos caracteres humanos. A decisão parece, pois, ser voluntária. Decidir e agir voluntariamente não é, contudo, a mesma coisa, pois, a acção voluntária é um fenómeno mais abrangente. É por essa razão que ainda que tanto as crianças como os outros seres vivos possam participar na acção voluntária, não podem, contudo, participar na decisão. Também dizemos que as acções voluntárias dão-se subitamente, mas não assim de acordo com uma decisão.
Os que dizem que a decisão é um desejo, ou uma afecção, ou anseio, ou uma certa opinião, não parecem dizê-lo correctamente, porque os animais irracionais não tomam parte nela. Por outro lado, quem não tem auto domínio age cedendo ao desejo, e, desse modo, não age de acordo com uma decisão. Finalmente, quem tem auto domínio age ao tomar uma decisão, mas não age ao sentir um desejo.
Um desejo pode opor-se a uma decisão, mas já não poderá opor-se a um outro desejo. O desejo tem em vista o que é agradável e o que é desagradável. A decisão, contudo, não é feita em vista do desagradável nem do agradável.
Aristóteles*, in Ética a Nicómaco
*no 2330º aniversário do grande pensador
(texto retirado do Citador)
quinta-feira, março 06, 2008
O ataque das alforrecas
Parece que as alforrecas estão em alta.
Com efeito, depois de, há poucos dias, cientistas australianos terem anunciado a descoberta, nas águas profundas da Antártida, de criaturas marinhas gigantes, entre as quais aranhas do mar do tamanho de pratos normais de refeição e alforrecas com tentáculos de 6 metros de cumprimento, cientistas espanhóis acabam de avisar que as pragas de alforrecas, que têm sido, nos anos recentes, um flagelo para os banhistas do Mediterrâneo, estarão de volta e em força no próximo verão.
Os cientistas do Instituto de Ciências Marinhas de Barcelona começaram, em Novembro, a estudar os ciclos de vida das alforrecas ao largo da Costa Brava e ficaram alarmados pela enorme quantidade que detectaram de alforrecas pelagia noctiluca, popularmente conhecida como “picadora cor de malva”.
O estudo revelou que as alforrecas proliferam durante todos o ano e, entre Novembro e Janeiro, foram descobertas 30 colónias ao longo da costa catalã, com uma dimensão entre 4 e 10 alforrecas por metro cúbico de água. As correntes de verão fá-las-ão sair das águas profundas e invadir as praias aos milhões, à semelhança do que tem acontecido em anos recentes mas com uma intensidade acrescida, impossibilitando os banhos de mar, dada a natureza extremamente urticante dos cnidocitos.
Mas os cientistas estão sobretudo preocupados com o desequilíbrio global no mar provocado pela pesca em excesso, que tem eliminado os predadores (peixes grandes como o peixe-espada e o atum vermelho) e os concorrentes (sardinhas e peixe miúdo que competem pela comida) das alforrecas. A isto acrescem as condições ideais para as alforrecas se reproduzirem: temperaturas suaves, chuva ligeira e ausência dos habituais temporais de Inverno.
Embora as pragas de alforrecas não sejam novas, ocorriam em ciclos de cerca de 10 anos que, ultimamente, se têm tornado mais curtos e mais globais com surtos espectaculares também fora do Mediterrâneo, desde o Japão ao Brasil, passando pela Namíbia, Austrália, Alaska, Venezuela e Peru. Só em 2006 a Cruz Vermelha tratou 21.000 pessoas que foram picadas nas praias catalãs, enquanto que num único dia de Agosto mais de 400 banhistas foram tratados numa praia da província de Málaga e em Dezembro passado centenas de banhistas foram picados no sudeste do Brasil.
Moral da história: ou comemos menos peixe e poluímos menos o ar e as águas ou, no mínimo, deixamos de ir à praia. Talvez umas valentes picadas nos cépticos do aquecimento global os fizesse compreender que este não é um mito.
Imagem: Le-Dung Ly/Getty Images
Parece que as alforrecas estão em alta.
Com efeito, depois de, há poucos dias, cientistas australianos terem anunciado a descoberta, nas águas profundas da Antártida, de criaturas marinhas gigantes, entre as quais aranhas do mar do tamanho de pratos normais de refeição e alforrecas com tentáculos de 6 metros de cumprimento, cientistas espanhóis acabam de avisar que as pragas de alforrecas, que têm sido, nos anos recentes, um flagelo para os banhistas do Mediterrâneo, estarão de volta e em força no próximo verão.
Os cientistas do Instituto de Ciências Marinhas de Barcelona começaram, em Novembro, a estudar os ciclos de vida das alforrecas ao largo da Costa Brava e ficaram alarmados pela enorme quantidade que detectaram de alforrecas pelagia noctiluca, popularmente conhecida como “picadora cor de malva”.
O estudo revelou que as alforrecas proliferam durante todos o ano e, entre Novembro e Janeiro, foram descobertas 30 colónias ao longo da costa catalã, com uma dimensão entre 4 e 10 alforrecas por metro cúbico de água. As correntes de verão fá-las-ão sair das águas profundas e invadir as praias aos milhões, à semelhança do que tem acontecido em anos recentes mas com uma intensidade acrescida, impossibilitando os banhos de mar, dada a natureza extremamente urticante dos cnidocitos.
Mas os cientistas estão sobretudo preocupados com o desequilíbrio global no mar provocado pela pesca em excesso, que tem eliminado os predadores (peixes grandes como o peixe-espada e o atum vermelho) e os concorrentes (sardinhas e peixe miúdo que competem pela comida) das alforrecas. A isto acrescem as condições ideais para as alforrecas se reproduzirem: temperaturas suaves, chuva ligeira e ausência dos habituais temporais de Inverno.
Embora as pragas de alforrecas não sejam novas, ocorriam em ciclos de cerca de 10 anos que, ultimamente, se têm tornado mais curtos e mais globais com surtos espectaculares também fora do Mediterrâneo, desde o Japão ao Brasil, passando pela Namíbia, Austrália, Alaska, Venezuela e Peru. Só em 2006 a Cruz Vermelha tratou 21.000 pessoas que foram picadas nas praias catalãs, enquanto que num único dia de Agosto mais de 400 banhistas foram tratados numa praia da província de Málaga e em Dezembro passado centenas de banhistas foram picados no sudeste do Brasil.
Moral da história: ou comemos menos peixe e poluímos menos o ar e as águas ou, no mínimo, deixamos de ir à praia. Talvez umas valentes picadas nos cépticos do aquecimento global os fizesse compreender que este não é um mito.
Imagem: Le-Dung Ly/Getty Images
quarta-feira, março 05, 2008
Melodia
Dedos,
Pés,
Mãos
Não podem ser mentira.
- Porque o teu corpo
É harpa que respira...
Pedro Homem de Melo
terça-feira, março 04, 2008
Feliz aniversário
A criminalidade toma conta da cidade
A sociedade põe a culpa nas autoridades
Um cacique oficial viajou pro Pantanal
Porque aqui a violência tá demais
E lá encontrou um velho índio que usava um fio dental
E fumava um cachimbo da paz
O presidente deu um tapa no cachimbo e na hora
De voltar pra capital ficou com preguiça
Trocou seu paletó pelo fio dental e nomeou
O velho índio pra ministro da justiça
E o novo ministro chegando na cidade,
Achou aquela tribo violenta demais
Viu que todo cara-pálida vivia atrás das grades
E chamou a TV e os jornais
E disse: "Índio chegou trazendo novidade
Índio trouxe o cachimbo da paz
Maresia, sente a maresia
maresia, uuu...
Apaga a fumaça do revólver, da pistola
Manda a fumaça do cachimbo pra cachola
Acende, puxa, prende, passa
Índio quer cachimbo, índio quer fazer fumaça
Todo mundo experimenta o cachimbo da floresta
Dizem que é do bom, dizem que não presta
Querem proibir, querem liberar
E a polêmica chegou até o congresso
Tudo isso deve ser pra evitar a concorrência
Porque não é Hollywood mas é o sucesso
O cachimbo da paz deixou o povo mais tranqüilo
Mas o fumo acabou porque só tinha oitenta quilos
E o povo aplaudiu quando o índio partiu pra selva
E prometeu voltar com uma tonelada
Só que quando ele voltou "sujou"!!!
A polícia federal preparou uma cilada
"O cachimbo da paz foi proibido, entra na caçamba vagabundo!
Vamô pra DP! Ê êê! Índio tá fugindo porque lá o pau
Vai comer!"
Maresia, sente a maresia
maresia, uuu...
Apaga a fumaça do revólver, da pistola
Manda a fumaça do cachimbo pra cachola
Acende, puxa, prende, passa
Índio quer cachimbo, índio quer fazer fumaça
Na delegacia só tinha viciado e delinquente
Cada um com um vício e um caso diferente
Um cachaceiro esfaqueou o dono do bar porque ele
Não vendia pinga fiado
E um senhor bebeu uísque demais, acordou com um travestí
E assassinou o coitado
Um viciado no jogo apostou a mulher, perdeu a aposta
E ela foi sequestrada
Era tanta ocorrência, tanta violência que o índio
Não tava entendendo nada
Ele viu que o delegado fumava um charuto fedorento
E acendeu um "da paz" pra relaxar
Mas quando foi dar um tapinha
Levou um tapão violento e um chute naquele lugar
Foi mandado pro presídio e no caminho assistiu um
Acidente provocado por excesso de cerveja:
Uma jovem que bebeu demais atropelou
Um padre e os noivos na porta da igreja
E pro índio nada mais faz sentido
Com tantas drogas porque só o seu cachimbo é proibido?
Maresia, sente a maresia
maresia, uuu...
Apaga a fumaça do revólver, da pistola
Manda a fumaça do cachimbo pra cachola
Acende, puxa, prende, passa
Índio quer cachimbo, índio quer fazer fumaça
Na penitenciária o "índio fora da lei"
Conheceu os criminosos de verdade
Entrando, saindo e voltando cada vez mais
Perigosos pra sociedade, aí, cumpádi, tá rolando
Um sorteio na prisão pra reduzir a super lotação
Todo mês alguns presos tem que ser executados
E o índio dessa vez foi um dos sorteados
E tentou acalmar os outros presos:
"Peraí..., vamo fumar um cachimbinho da paz"
Eles começaram a rir e espancaram o velho índio
Até não poder mais e antes de morrer ele pensou:
"Essa tribo é atrasada demais...
Eles querem acabar com a violência,
mas a paz é contra a lei e a lei é contra a paz"
E o cachimbo do índio continua proibido mas se você quer comprar é mais fácil que pão
Hoje em dia ele é vendido pelos mesmos bandidos que mataram
O velho índio na prisão
Maresia, sente a maresia
maresia, uuu...
Apaga a fumaça do revólver, da pistola
Manda a fumaça do cachimbo pra cachola
Acende, puxa, prende, passa
Índio quer cachimbo, índio quer fazer fumaça
Maresia, sente a maresia
maresia, uuu...
Apaga a fumaça do revólver, da pistola
Sente a marisia
Índio quer cachimbo, índio quer fazer fumaça
Apaga a fumaça do revólver, da pistola
Sente a marisia, acende, puxa, prende, passa, uuu...
Apaga a fumaça do revólver, da pistola
Gabriel, O Pensador
Gabriel, O Pensador, celebra hoje o seu 34º aniversário.
Deixo-o a fumar o Cahimbo da Paz
A criminalidade toma conta da cidade
A sociedade põe a culpa nas autoridades
Um cacique oficial viajou pro Pantanal
Porque aqui a violência tá demais
E lá encontrou um velho índio que usava um fio dental
E fumava um cachimbo da paz
O presidente deu um tapa no cachimbo e na hora
De voltar pra capital ficou com preguiça
Trocou seu paletó pelo fio dental e nomeou
O velho índio pra ministro da justiça
E o novo ministro chegando na cidade,
Achou aquela tribo violenta demais
Viu que todo cara-pálida vivia atrás das grades
E chamou a TV e os jornais
E disse: "Índio chegou trazendo novidade
Índio trouxe o cachimbo da paz
Maresia, sente a maresia
maresia, uuu...
Apaga a fumaça do revólver, da pistola
Manda a fumaça do cachimbo pra cachola
Acende, puxa, prende, passa
Índio quer cachimbo, índio quer fazer fumaça
Todo mundo experimenta o cachimbo da floresta
Dizem que é do bom, dizem que não presta
Querem proibir, querem liberar
E a polêmica chegou até o congresso
Tudo isso deve ser pra evitar a concorrência
Porque não é Hollywood mas é o sucesso
O cachimbo da paz deixou o povo mais tranqüilo
Mas o fumo acabou porque só tinha oitenta quilos
E o povo aplaudiu quando o índio partiu pra selva
E prometeu voltar com uma tonelada
Só que quando ele voltou "sujou"!!!
A polícia federal preparou uma cilada
"O cachimbo da paz foi proibido, entra na caçamba vagabundo!
Vamô pra DP! Ê êê! Índio tá fugindo porque lá o pau
Vai comer!"
Maresia, sente a maresia
maresia, uuu...
Apaga a fumaça do revólver, da pistola
Manda a fumaça do cachimbo pra cachola
Acende, puxa, prende, passa
Índio quer cachimbo, índio quer fazer fumaça
Na delegacia só tinha viciado e delinquente
Cada um com um vício e um caso diferente
Um cachaceiro esfaqueou o dono do bar porque ele
Não vendia pinga fiado
E um senhor bebeu uísque demais, acordou com um travestí
E assassinou o coitado
Um viciado no jogo apostou a mulher, perdeu a aposta
E ela foi sequestrada
Era tanta ocorrência, tanta violência que o índio
Não tava entendendo nada
Ele viu que o delegado fumava um charuto fedorento
E acendeu um "da paz" pra relaxar
Mas quando foi dar um tapinha
Levou um tapão violento e um chute naquele lugar
Foi mandado pro presídio e no caminho assistiu um
Acidente provocado por excesso de cerveja:
Uma jovem que bebeu demais atropelou
Um padre e os noivos na porta da igreja
E pro índio nada mais faz sentido
Com tantas drogas porque só o seu cachimbo é proibido?
Maresia, sente a maresia
maresia, uuu...
Apaga a fumaça do revólver, da pistola
Manda a fumaça do cachimbo pra cachola
Acende, puxa, prende, passa
Índio quer cachimbo, índio quer fazer fumaça
Na penitenciária o "índio fora da lei"
Conheceu os criminosos de verdade
Entrando, saindo e voltando cada vez mais
Perigosos pra sociedade, aí, cumpádi, tá rolando
Um sorteio na prisão pra reduzir a super lotação
Todo mês alguns presos tem que ser executados
E o índio dessa vez foi um dos sorteados
E tentou acalmar os outros presos:
"Peraí..., vamo fumar um cachimbinho da paz"
Eles começaram a rir e espancaram o velho índio
Até não poder mais e antes de morrer ele pensou:
"Essa tribo é atrasada demais...
Eles querem acabar com a violência,
mas a paz é contra a lei e a lei é contra a paz"
E o cachimbo do índio continua proibido mas se você quer comprar é mais fácil que pão
Hoje em dia ele é vendido pelos mesmos bandidos que mataram
O velho índio na prisão
Maresia, sente a maresia
maresia, uuu...
Apaga a fumaça do revólver, da pistola
Manda a fumaça do cachimbo pra cachola
Acende, puxa, prende, passa
Índio quer cachimbo, índio quer fazer fumaça
Maresia, sente a maresia
maresia, uuu...
Apaga a fumaça do revólver, da pistola
Sente a marisia
Índio quer cachimbo, índio quer fazer fumaça
Apaga a fumaça do revólver, da pistola
Sente a marisia, acende, puxa, prende, passa, uuu...
Apaga a fumaça do revólver, da pistola
Gabriel, O Pensador
segunda-feira, março 03, 2008
In Memoriam
O texto é a única forma de identificar o sexo e a humanidade de alguém porque, ó poeta estranho, o sexo de alguém, é a sua narrativa. A sua, ou a que o texto conta, no seu lugar. Assim o sexo será como for o lugar do texto.
Quando se deseja alguém, como tu desejas Infausta, e ela deseja Johann, é o seu lugar cénico que se deseja,
os gestos do texto que descreve no espaço
e chamar-lhe
precioso companheiro;
de mim, direi que fui uma vez enviado,
trouxeste a frase que nunca antes leras,
o meu corpo a disse, e não reparaste que ficaste com ela escrita.
Maria Gabriela Llansol
A estrela e o...vampiro
Escolher entre Obama e Clinton é sempre visto como positivo, um golpe brilhante de marketing já que não há nada para escolher entre os dois candidatos, pois quer seja Obama ou Clinton a “vencer” a nomeação, pouco importa desde que seja um deles (quaisquer outras alternativas já foram removidas há muito).
O importante é que seja vendida à população a ideia de que eleger um ou outro destes "rótulos" traz a ideia de Mudança e Esperança. Por isso, qualquer que seja o “vencedor”, pouco interessa; o que é importante é a ilusão de que votando num dos dois candidatos entramos numa nova Era de Mudança, mudança do domínio desastroso de Bush e do seu bando de gângsteres.
Então o que é que se está a passar? Porque é que a elite dominante dos EUA deu um passo tão drástico como promover um negro e uma mulher para próximo presidente, um acontecimento sem precedentes na história eleitoral norte-americana?
A análise de William Bowles, que pode ser lida no original ou em tradução portuguesa de Alexandre Leite para a Tlaxcala, não tem nada de racista nem de discriminatório, antes pelo contrário.
Caricaturas de John S. Pritchett
Escolher entre Obama e Clinton é sempre visto como positivo, um golpe brilhante de marketing já que não há nada para escolher entre os dois candidatos, pois quer seja Obama ou Clinton a “vencer” a nomeação, pouco importa desde que seja um deles (quaisquer outras alternativas já foram removidas há muito).
O importante é que seja vendida à população a ideia de que eleger um ou outro destes "rótulos" traz a ideia de Mudança e Esperança. Por isso, qualquer que seja o “vencedor”, pouco interessa; o que é importante é a ilusão de que votando num dos dois candidatos entramos numa nova Era de Mudança, mudança do domínio desastroso de Bush e do seu bando de gângsteres.
Então o que é que se está a passar? Porque é que a elite dominante dos EUA deu um passo tão drástico como promover um negro e uma mulher para próximo presidente, um acontecimento sem precedentes na história eleitoral norte-americana?
A análise de William Bowles, que pode ser lida no original ou em tradução portuguesa de Alexandre Leite para a Tlaxcala, não tem nada de racista nem de discriminatório, antes pelo contrário.
domingo, março 02, 2008
Cosmos
Varandas
de uma fachada chamada rosto
observando o horizonte.
o mago
frente a frente
repara no software instalado
no ciber-cérebro alimentado
em porções de gigabytes virulentos.
Varandas
de um ser tornado Cosmos
visionário do seu tempo
aprendiz de recordações
metálico e frio e distante
enregelado de circuitos condutores
entrelaçados
onde nano-neurónios virtuais
se vigiam cintilantes
irrigados de virtuosismo
observando os guardas as Varandas
aprendizes de recordações
que num tanto de curto-circuito
retraem seus falsos corações.
Álvaro Seiça Neves*
*poeta aveirense
sábado, março 01, 2008
Escreve!
Senta-te diante da folha de papel e escreve. Escrever o quê? Não perguntes. Os crentes têm as suas horas de orar, mesmo não estando inclinados para isso. Concentram-se, fazem um esforço de contenção beata e lá conseguem. Esperam a graça e às vezes ela vem. Escrever é orar sem um deus para a oração. Porque o poder da divindade não passa apenas pela crença e é aí apenas uma modalidade de a fazer existir. Ela existe para os que não crêem, como expressão do sagrado sem divindade que a preencha. Como é que outros escrevem em agnosticismo da sensibilidade? Decerto eles o fazem sendo crentes como os crentes pelo acto extremo de o manifestarem. Eles captarão assim o poder da transfiguração e do incognoscível na execução fria do acto em que isso deveria ser. Escreve e não perguntes. Escreve para te doeres disso, de não saberes. E já houve resposta bastante.
Vergílio Ferreira, in "Pensar"