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domingo, março 31, 2013

Dia

De que céu caído,
oh insólito,
imóvel solitário na onda do tempo?
És a duração,
o tempo que amadurece
num instante enorme, diáfano:
flecha no ar,
branco embelezado
e espaço já sem memória de flecha.
Dia feito de tempo e de vazio:
desabitas-me, apagas
meu nome e o que sou,
enchendo-me de ti: luz, nada.

E flutuo, já sem mim, pura existência.


(poeta mexicano nascido faz hoje 99 anos)

sábado, março 30, 2013

Centenário
Frankie Laine nasceu faz hoje 100 anos
Poema perto do fim

A morte é indolor.
O que dói nela é o nada
que a vida faz do amor.
Sopro a flauta encantada
e não dá nenhum som.
Levo uma pena leve
de não ter sido bom.
E no coração, neve.


(poeta brasileiro que hoje faz 87 anos)

sexta-feira, março 29, 2013

noto

noto
que os melhores poetas
são aqueles que conseguem
o equilíbrio perfeito
entre um leve desprezo pela sua obra
e a arrogante certeza
do que estão a fazer.


(poeta tavirense que  hoje faz 31 anos)

quinta-feira, março 28, 2013

Nanas de la Cebolla

La cebolla es escarcha
cerrada y pobre:
escarcha de tus días
y de mis noches.
Hambre y cebolla:
hielo negro y escarcha
grande y redonda.

En la cuna del hambre
mi niño estaba.
Con sangre de cebolla
se amamantaba.
Pero tu sangre,
escarchada de azúcar,
cebolla y hambre.

Una mujer morena,
resuelta en luna,
se derrama hilo a hilo
sobre la cuna.
Ríete, niño,
que te traigo la luna
cuando es preciso.

Alondra de mi casa,
ríete mucho.
Que es tu risa en tus ojos
la luz del mundo.
Ríete tanto
que en el alma al oírte,
bata el espacio.

Tu risa me hace libre,
me pone alas.
Soledades me quita,
cárcel me arranca.
Boca que vuela,
corazón que en tus labios
relampaguea.

Es tu risa la espada
más victoriosa.
Vencedor de las flores
y las alondras.
Rival del sol.
Porvenir de mis huesos
y de mi amor.

La carne aleteante,
súbito el párpado,
el vivir como nunca
coloreado.
¡Cuánto jilguero
se remonta, aletea,
desde tu cuerpo!

Desperté de ser niño.
Nunca despiertes.
Triste llevo la boca.
Ríete siempre.
Siempre en la cuna,
defendiendo la risa
pluma por pluma.

Ser de vuelo tan alto,
tan extendido,
que tu carne es el cielo
recién nacido.
¡Si yo pudiera
remontarme al origen
de tu carrera!

Al octavo mes ríes
con cinco azahares.
Con cinco diminutas
ferocidades.
Con cinco dientes
como cinco jazmines
adolescentes.

Frontera de los besos
serán mañana,
cuando en la dentadura
sientas un arma.
Sientas un fuego
correr dientes abajo
buscando el centro.

Vuela niño en la doble
luna del pecho.
Él, triste de cebolla.
Tú, satisfecho.
No te derrumbes.
No sepas lo que pasa
ni lo que ocurre.


(poeta e revolucionário espanhol falecido nas masmorras do franquismo faz hoje 71 anos)
 Musica e voz de Joan Manuel Serrat

quarta-feira, março 27, 2013

A implosão da mentira - Fragmento III

Mentem no passado. E no presente
passam a mentira a limpo. E no futuro
mentem novamente.
Mentem fazendo o sol girar
em torno à terra medieval/mente.
Por isto, desta vez, não é Galileu
quem mente.
mas o tribunal que o julga
herege/mente.
Mentem como se Colombo partindo
do Ocidente para o Oriente
pudesse descobrir de mentira
um continente.
Mentem desde Cabral, em calmaria,
viajando pelo avesso, iludindo a corrente
em curso, transformando a história do país
num acidente de percurso.


(poeta mineiro que hoje faz 76 anos)

terça-feira, março 26, 2013

AL-GHARB

Pelo lagar da noite
Estremecem as amendoeiras

Corre no ar um tropel furtivo
Seus panos de azeite
E madeixas de sangue na corola
Das mulheres

Ela só lívida de azul e oiro
Ave do mundo

E a mãe diurna
Boca a boca multiplicada.


(poeta moçambicano que hoje faz 60 anos)

segunda-feira, março 25, 2013

No dejar de soñar

Sostener un poema en la mañana
frente al grito
estruendoso o larvado
de la muerte.

Dar las gracias al dios del mediodía
por su rayo de luz
y el dibujo del cielo.

Poner al lado de cada cosa noble
la misma intensidad
y el ritmo libre
que acompasa las horas de la tarde.

Mirar el sol de sus ojos violetas.

Amar siempre la noche.

No dejar de soñar.


(poeta toledano que hoje faz 59 anos)

domingo, março 24, 2013

EVANGELHO DA SOMBRA E DO SILÊNCIO

O silêncio das coisas me comove;
Sinto-o, principalmente quando chove,

Que sonolência enerva as almas...
Que apatia...
Que saudade da vida e da alegria!

Que saudade de tudo que ama e existe!
Como me encanta a natureza triste!

Olho através dos vidros da janela:
A paisagem desfaz-se em folhas amarelas...

Ver árvores é um grande lenitivo
Para a estesia de um contemplativo.

Ver árvores é ouvir sentidas trovas,
Vossas cantigas, raparigas novas!

Que lindo o verde, em nuanças meio incertas,
Margeando, lado a lado, as estradas desertas!

As árvores dos parques e das praças
Bebem silêncio pelas folhas que são taças...
Só parece que a sombra em redor se avoluma
E cresce e desenrola o amplo manto de bruma.

É tudo calma. Em torno à minha casa
Não se escuta sequer um ruflo de asas.

Somente a água que vem da montanha, sonora,
Canta tão triste que não canta, chora.

E some-se, rezando a estranha reza
Da livre religião da natureza,

Ave, sombra! Eu venero a tua imagem
E amo o silêncio verde da paisagem!..

(poeta pernambucano nascido a 24 de Março de 1889)

sábado, março 23, 2013

Aula de Música

O violino principiante
arranha a pele do dia.
Ó dura, lenta porfia
da mão, soletrando o arco.
Ó marinheiro hesitante
— difícil carpintaria —
na construção do teu barco.


(poeta mineiro falecido há 25 anos)

sexta-feira, março 22, 2013

Keith Relf (The Yarbirds/Renaissance) faria hoje 70 anos. Morreu aos 33 electrocutado quando tocava, em sua casa, uma guitarra eléctrica com deficiente ligação "terra".
Canção a meia voz

A minha vida é sempre ontem
E o meu desejo, amanhã.
Hoje é uma coisa parada.
Nada sei nem faço nada.
Certeza é palavra vã.

Não sou. Ou fui ou serei.
Se ao menos tivesse fé!
Corro atrás duma quimera.
Ou então fico-me à espera,
Porém à espera de quê?

Porque abri as minhas mãos
E deixei fugir o instante
Que havia nelas ainda?
Agora o nada não finda
E o tudo é sempre distante!

Virás tu ao meu encontro,
Ou sou eu que devo achar-te?
Quem pudera descansar!
Ver, ouvir e não pensar!
Ser aqui e em toda a parte!

Chego tarde ou muito cedo.
Ou paro aquém ou além.
Houvesse algo para mim
Sem ter principio nem fim,
Sem ser o mal nem o bem!


(poeta madeirense nascido a 22 de Março de 1897)

quinta-feira, março 21, 2013

convergência

espelho d'água
que turva diante
do pássaro sem
plumas

costume de unhas
na pele calcinada
do ar


(poeta gaúcho que hoje faz 56 anos)









Recebi daqui e passo para aqui e para aqui para que siga o seu inexorável destino

quarta-feira, março 20, 2013

In Memoriam

Emílio Santiago faleceu hoje aos 66 anos
Nora Ney nasceu faz hoje 91 anos
Um sossego mais largo

Um sossego mais largo
Que o esquecimento dos homens
Me seja a morte
Como um veleiro abandonado
No silêncio do mar;
Como, antes do Tempo,
Como, depois do Tempo,
O não haver ninguém para o contar

Como não ter existido
Me seja a morte!
Mas não já


(poeta português nascido em Barcelona há 91anos)

terça-feira, março 19, 2013

Poema suspirado

Algures, num momento de silêncio,
neste campo aberto que é a minha vida,
de noite,
sempre de noite - quando a magia acontece,
surge uma forma no vento
e nele,
um poema suspirado.
É certo que os poemas são mesmo efémeros
e as palavras um dia serão nada,
desaparecerão no esquecimento das eras
tal como as peles que vestimos
e os nomes que ostentamos.
O poema que é teu,
trazido pela brisa que na relva fresca te desenha,
um dia não será mais que outra coisa,
acompanhando-nos,
na impiedosa sucessão de formas e sabores
que provamos
e temos de largar.

Mas esse teu suspiro
e essa tua forma
e esse teu poema
e esse teu sentido (tão próximo do meu)
pintaram-se no quadro do horizonte
deste campo aberto que é a minha vida...
e de noite, sempre de noite - quando a magia acontece,
a realidade perceptível da ilusão do universo
colidirá com nossos fogos,
ardendo em uníssono,
dançando no mesmo vento
que agora desenha nós os dois,
que agora suspira o ar quente da cama embriagada,
que nesse momento se deixa entregar...
no mesmo campo aberto que é a nossa vida
e de noite - quando a magia acontece,
àquela pequena parte de um segundo
de uma eternidade passageira.

Rui Diniz

(poeta almadense que hoje faz 34 anos)

segunda-feira, março 18, 2013


Adam Levine (Maroon 5) faz hoje 34 anos
Não te submetas

não te submetas

e se os traidores chegarem com disfarces
para atacarem o fogo da tua revolta
repele-os para tão longe que possas
no espaço livre que fica
assumir-te no risco da identidade completa

a cobardia é sempre uma morte infame


(escritor estremocense que hoje faz 60 anos)
Cerzimentos

Ponto a ponto, fio a fio,
enfrentei o desafio
de cerzir tempos puídos.


(poeta paraibano nascido faz hoje 87 anos)

domingo, março 17, 2013

Cavalo vermelho

é nos olhos da água que me vejo cavalo
é ao pôr do sol que sou vermelho
é quando descanso no regaço das tuas pedras e
é na leveza dos teus afagos que me pousam na crina
que o meu calor bebe no rio.

Ana Maria Costa

(poetisa maiata que hoje faz 47 anos)

sábado, março 16, 2013

HÁ DIAS E DIAS...

Há dias em que sou monja
Há outros em que sou fêmea
E, embruxada, na fogueira
Do amor ponho mais lenha.

Nos dias em que sou monja
ardo nos claustros da lua.
Nos dias em que sou fêmea
No sol arrefeço, pudica.


(Natália Correia faleceu faz hoje 20 anos)

ENIGMA  - Mea Culpa
Curiosidades Estéticas

O mais importante na vida
É ser-se criador – criar beleza.

Para isso,
É necessário pressenti-la
Aonde os nossos olhos não a virem.

Eu creio que sonhar o impossível
É como que ouvir uma voz de alguma coisa
Que pede existência e que nos chama de longe.

Sim, o mais importante na vida
É ser-se criador.
E para o impossível
Só devemos caminhar de olhos fechados
Como a fé e como o amor.


(poeta abrantino falecido faz hoje 54 anos)
Última paisagem

Quando eu morrer,
se morrer,
quero um dia de sol,
denso, cintilante,
escorrendo-me pelo corpo
seus dedos quentes.
E quero o vento,
um largo vento dos espaços,
que me respire e me arrebate
no seu fôlego,
por outros continentes.
E quero a água,
violenta, fria, palpitante,
possuindo-me a alma
a transbordar dos poros.

Se nenhum amor me resguardar
em seu abraço
a dar-me sensação
de que possuo e pertenço
quero pegar a vida
palmo a palmo,
traço a traço,
num dia esfuziante de azul
com o mar na boca e nos braços.

Quando eu morrer,
se morrer,
eu que renasço a cada momento,
criando íntimos laços
por toda natureza,
eu que perduro no eterno
da intensidade,
quero morrer assim:
os olhos na distância
do entendimento
e o corpo penetrando na beleza,
passo a passo.
Meu fim transformado em luz
dentro de mim.


(poetisa paulista que hoje faria 80 anos)

sexta-feira, março 15, 2013

Saudade inverossímil

Sinto saudade
Das coisas que nunca tive
Uma vontade
De outros lugares

Paixões estrangeiras
Que me seriam mais próximas
E também um pouco
De lúbrica irresponsabilidade

Sinto vontade
Das belezas perdidas
Do reencontro
Com o conhecido e o desconhecido


(escritor paulista que hoje faz 49 anos)

quinta-feira, março 14, 2013