quinta-feira, agosto 02, 2012

Ofício

Ocupo o espaço que não é meu, mas do universo.
Espaço do tamanho do meu corpo aqui,
enchendo inúteis quilos de um metro e setenta
e dois centímetros, o humano de quebra.
Vozes me dizem: eh, tu aí! E me mandam bater
serviços de excrementos em papéis caídos
numa máquina Remington, ou outra qualquer.
E me mandam pro inferno, se inferno houvesse
pior que este inumano existir burocrático.
E depois há o escárnio da minha província.
E a minha vida para cima e para baixo,
para baixo sem cima, ponte umbilical
partida, raiz viva de morta inocência.
Estranhos uns aos outros, que faço eu aqui?
E depois ninguém sabe mesmo do espaço
que ocupo, desnecessário espaço de pernas
e de braços preenchendo o vazio que eu sou.
E o mundo, triste bronze de um sino rachado,
o mundo restará o mesmo sem minha quota
de angústia e sem minha parcela de nada.


(poeta maranhense que hoje faz 77 anos)

2 comentários:

jrd disse...

Quando o ofício não é a arte.

abraço

Helenice Priedols disse...

Que maravilha é chegar aqui e sempre encontrar boa poesia e boa música. Aqui descubro poetas antes desconhecidos para mim e minha alma sorri. Obrigada.

Abraços.

PAZ e LUZ