Romântica
Rasgaram as névoas
Que há pouco embrulhavam
As margens lendárias do rio Mondego;
As águas acordam
E ficam pasmadas
Reflectindo o azul da manhã radiante...
Sinto-me tão perto de tudo que é triste
Que os meus olhos sofrem
Com esta alegria - talvez provocante.
Coimbra, serena, mostra o seu contorno
Airosa e gentil - como fascinada
Na luz que é mais viva, difusa, doirada...
Tudo nela canta no alto silêncio
Das coisas divinas que falam do amor;
- Aqui, uma folha que tombou na aragem,
Mais além, uma flor...
Altiva -
Guarda na história dos tempos
A lembrança diluída
Dos seus romances guerreiros
Mesclados de sonho.
E a paisagem nua
Mais lúcida e bela,
Recortada e linda
Nesta claridade... - o dia floresce,
Aumenta - e as águas,
Translúcidas, verdes
- São verdes agora!
Ganham movimento,
Têm vibração,
Murmuram,
E passam
- Como aquela voz que encheu de saudade
O meu coração
(poeta abrantino falecido há 53 anos, exilado no Brasil)
1 comentário:
Um grande poeta que a mediocridade e o puritanismo bacoco tentaram ignorar.
Abraço
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